Imigrei
"Sό sonham e imigram os que conhecem a arte de voar"
Era uma tarde de sol ameno
quando o voo descolou-se em Maputo.
Na mão direita eu assegurava
o meu coração despedaçado
como um jarro de flores partido no chão
é dorido despedir-se da terra natal
a terra que nos viu florir,
mas é saboroso voar para outras terras.
Largar-se e percorrer o além
beijar o céu o mar o vento e saborear a vida.
Para além do coração partido
um vento robusto e esperançoso cobrria-me o rosto
uma nuvem candura
cariciava o meu olhar pousado na janela do avião.
Tudo que moldei por longos anos
(amizades, sonhos realizados)
foi reduzido cuidadosamente
numa mala de 23 quilogramas.