Uma samambaia regada a cultura

O bairro da Graça, em Lisboa, é a casa de um charmoso bar com alma brasileira: o Samambaia. O nome foi dado pelas sócias e donas do espaço após ambas virarem “mães de planta” na pandemia de Covid-19 — a samambaia é uma planta muito comum nos lares brasileiros. À frente do bar estão as cariocas Amanda Menezes e Andrea Zamorano, que fizeram do espaço um reduto de música brasileira. Já é tradição que músicos que vivem ou estão de passagem por Portugal façam shows, deem canja ou visitem o espaço.

Amanda é produtora cultural desde 1998 e, no Brasil, dirigiu a produção de musicais como “Sassaricando” e “Bilac Vê Estrelas”. Veio para Portugal com a família há pouco mais de quatro anos. Já Andrea cruzou o oceano há mais tempo, chegando na terrinha há trinta anos. Além do Samambaia, é proprietária do Café do Rio, uma hamburgueria gourmet que fica na Praça do Comércio, também em Lisboa. 

Sobre empreender no país, ela afirma que a parte burocrática já foi mais complicada, o que a ajudou foi participar de um programa chamado licenciamento zero, uma iniciativa do governo português que agiliza a papelada de empreendedores: “[O programa] Ajudou muito, mas em outros aspectos ainda falta melhorar, pois depende de quem te atende”.

Segundo a empresária, outro desafio de ter um negócio em terras lusitanas é o faturamento: “O sucesso não é proporcional ao desempenho financeiro”. 

Ainda assim, ela comemora fechar as contas com balanço positivo. O Samambaia nasceu na pandemia, depois que as duas brasileiras venceram uma licitação para desenvolvimento de projetos culturais. Uma das razões para isso foi que a dupla conseguiu aproveitar parte da decoração do espaço, que já estava praticamente pronto.

O Samambaia tem capacidade para 140 clientes e conta com um quadro fixo de funcionários, que varia entre oito e dez colaboradores. Também são acionados extras em momentos de maior público e demanda, como no verão. 

Sobre trabalhar com cultura, Amanda fala com brilho nos olhos: “Trabalhar com arte é fazer as pessoas felizes. Aqui eu vejo o público se emocionar, sentir saudade de casa. A música brasileira é muito querida e respeitada”.

Elas também se orgulham de ter um espaço que recebe artistas consagrados e os que estão no começo da carreira. “Aqui nós damos espaço para vários artistas, desde os mais antigos, com carreira consolidada, até os que estão na busca de um primeiro palco”, disse Amanda. 

Andrea, que em paralelo aos negócios mantém uma carreira como curadora e escritora, com obras publicadas em Portugal e no Brasil, complementa a fala da sócia: “A música brasileira também faz parte da história dos portugueses porque através das novelas eles conhecem muito as nossas canções. Nosso público é metade brasileiro e metade português”.

Com pouco mais de três anos, o estabelecimento foi eleito o melhor bar do ano no concurso Love Local Awards, da revista Time Out Lisboa, e ganhou o prêmio Ibermúsicas. O dinheiro das premiações foi reinvestido no negócio, com o objetivo de tornar o Samambaia mais rentável. 

Os produtos mais vendidos no bar são cerveja, caipirinha e pão de queijo. Convenhamos, mais brasileiro impossível. 

No Samambaia saem em média três barris de cinquenta litros de chope por semana. Ao todo são doze por mês, totalizando mais de três mil copos de cerveja. 

Nos três anos de existência, mais de seiscentos shows foram realizados na casa. Bala Desejo, Dora Morelenbaum, Bem Gil e Chico Brown são alguns nomes de artistas e bandas que, pode-se dizer, estrearam na Europa no palco do Samambaia. 

Danilo Caymmi, Domenico Lancellotti, Bernardo Lobo, Fred Martins, Antonio Villeroy e Marcos Sacramento também já passaram por lá. Para o futuro do negócio, as sócias planejam edições do “Samambaia Sessions”, que tem o mesmo formato e DNA musical da casa, mas ocorre fora do bar. 

A ideia é migrar e oferecer, além de uma casa física, uma marca.