Pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a extrema direita na Alemanha conseguiu ser eleita para governar uma região do país. O partido extremista Alternativa para a Alemanha (AFD, em alemão) venceu as eleições em Turíngia e se credenciou para ocupar a cadeira do Executivo local. Desde a fundação do partido, em 2013, a sigla nunca governou em solo alemão.
O feito não é desprezível e dispara um alerta para o crescimento do extremismo no país, monitorado pelas autoridades alemãs. Basta lembrar que na história da atual República Federativa da Alemanha, fundada em 1949, a extrema direita nunca havia sido eleita.
A atual estrutura política do país foi concebida poucos anos depois do fim da guerra, construída sobre uma Alemanha dizimada pela tragédia do nazismo.
Na Turíngia, a Alternativa para a Alemanha venceu com 33% dos votos, bem à frente da centro-direita representada pela União Democrata Cristã, a CDU, que teve 24% do eleitorado.
E na Saxónia, outra região no leste do país, o partido extremista de direita roçou a liderança com quase 31%, só um ponto percentual atrás da União Democrata Cristã.
O chanceler do país, o social democráta Olaf Scholz, classificou o resultado da eleições como amargo e preocupante. O chefe do governo convocou os partidos a estabelecer um cordão sanitário contra os extremistas de direita e deixá-los fora dos governos.
Formar um chamado cordão sanitário tem sido uma forma de os alemães isolarem a extrema direita no país. Consiste em, independentemente do resultado, deixar de fora os extremistas na formação de governos.
"Nosso país não pode e não deve se acostumar a isso. A AFD está prejudicando a Alemanha. Está enfraquecendo a economia, dividindo a sociedade e arruinando a reputação do nosso país", afirmou Scholz, segundo comunicado repercutido pela agência de notícias Reuters.
Mais do que prejudicar a reputação alemã, como disse Scholz, o resultado em Turíngia demonstra que caminha para o fracasso a busca do país em se evitar os horrores do fascismo e, posteriormente, do nazismo.
A agência reponsável pela defesa da Constituição alemã tem enquadrada a AFD como um partido de extrema direita e que, abertamente, defende posições cunhadas num nacionalismo étnico e anti-imigração.
O partido defende, também, a revisão histórica dos horrores do Holocausto em alinhamento com o neonazismo. Antes de ser fundado, o partido esteve presente em manifestações junto do partido neonazista NPD.
A celebração extremista
Vice-líder da AFD, Alice Weidel chamou o resultado de "sucesso histórico” para o partido. Weidel também considerou que a tentativa dos demais partidos de se criar um cordão sanitário é “pura ignorância”, pois “os eleitores querem" que a sigla governe.
O secretário-geral do partido conservador CDU rejeitou coligações com a AFD para formar maioria parlamentar na Turíngia e na Saxónia. “Os eleitores sabem que não vamos entrar numa coligação com a AFD”, disse Carsten Linnemann, reconhecendo que será difícil viabilizar uma maioria parlamentar sem a AFD.
É no antigo leste comunista, mais pobre que as regiões ocidentais do país, que a AFD e outros grupos abertamente extremistas de direita têm crescido. O líder do AFD na Turíngia, Björn Höcke, foi condenado por usar um slogan nazi em eventos políticos.
Nesta segunda, Höcke se irritou quando um entrevistador da televisão ARD mencionou a vigilância de que o partido é alvo: "Nós somos o partido número um na Turíngia e você não quer classificar um terço dos eleitores da Turíngia como extremistas de direita".
Os "partidos antigos", disse "deveriam mostrar humildade” diante dos resultados da eleição. A região registra uma forte rejeição da imigração, o que beneficiou a AFD. Além disso, um ataque com faca em 23 de agosto na cidade de Solingen, também inflou a ânsia extremista de atacar os imigrantes.
Este mês, haverá uma uma terceira eleição estadual, em 22 de setembro, em Brandemburgo, também no leste do país, e que atualmente é liderado pelo partido de Scholz. A próxima eleição nacional da Alemanha está prevista para daqui a um ano.
Com informações da Lusa, El Diario.es, DW e BBC