
Ministra das Finanças de Angola, Vera Daves. Crédito: Ampe Rogério, Lusa
Angola considera usar moedas alternativas ao dólar em transações comerciais
Ministra das Finanças angolana, Vera Daves, expressou simpatia pela proposta defendida pelo atual governo brasileiro
A ministra das Finanças do governo angolano, Vera Daves, afirmou que Angola "simpatiza com a ideia" da adoção de outras moedas para além do dólar como referência para as transações internacionais, conforme tem defendido presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
A declaração de Daves foi dada durante a 1ª Reunião de ministros de Finanças, ministros de Bancos Centrais e da presidência brasileira do G20, em São Paulo, no fim do mês passado. Já Lula vem comentando da possibilidade desde março do ano passado —de fato, no fim daquele mês, os bancos centrais de China e Brasil firmaram um acordo no sentido de viabilizar um instrumento financeiro que permitam transações em yuan (a moeda chinesa).
"Devemos explorar, sim, essas avenidas para diversificar. Da mesma forma como se diversifica a economia, também se deve diversificar o portfólio de moedas para ter resiliência. Quando há um choque de taxa de juros, quando há um choque de taxa de câmbio numa moeda, na relação com uma moeda, temos a outra para fazer contrapeso", justificou em entrevista exclusiva à Lusa.
Ao abordar a escassez de divisas no mercado interno de Angola, a ministra das Finanças enfatizou que a solução estrutural para esse problema está no crescimento e na diversificação das fontes de renda.
"Angola basicamente exporta petróleo e as divisas que recebe do petróleo, usa ou para pagar dívida externa, como referi, ou para pagar algumas despesas que tenha também em moedas externas - contratos, prestação de serviço, bens, o que for- em dólares", destacou.
"Para isso ser menos asfixiante, porque naturalmente vamos ter que continuar fazendo investimentos em infraestruturas e continuar tendo esse conjunto de despesas, temos que encontrar outros bens e serviços de exportação que nos deem acesso a dólares, para além do petróleo. E ainda hoje abordei esse tema com o ministro das Finanças [do Brasil], Fernando Haddad. Conversamos rapidamente e pedimos a ajuda dele", acrescentou.
Interesse no agronegócio
Vera Daves destacou que Angola apresentou durante os debates dos ministros das Finanças do G20 o interesse em atrair empresários do setor agrário e pecuário. Ela ressaltou que o país africano possui terras produtivas e abundância de água, além de contar com vizinhos como a República Democrática do Congo, que, segundo ela, demonstra "muito apetite para comprar produtos alimentares".
"O agronegócio é algo a que queremos prestar atenção, no qual temos colocado muita energia (...) Angola produz localmente, mas para consumo interno, e gostaria de atrair empresários e fazendeiros com conhecimento e capacidade para levar o país ao próximo nível que é exportar", disse.
"Gostaríamos que as autoridades brasileiras estudassem a possibilidade de financiar investidores privados interessados em produzir em Angola para exportar para outros mercados na região", completou.
Diversificar a economia, insistiu Vera Daves, ajudaria Angola a ter divisas de outras fontes que não são só o petróleo.
"Se a produção [de petróleo] cai, se o preço do petróleo cai, temos um contrapeso em outras fontes. O ministro [Fernando Haddad] disse que tomava boa nota e, de resto, quando o presidente Lula da Silva visitou Angola (...) esse foi um dos temas que foi levantado", concluiu.
1ª Reunião de ministros de Finanças
O Brasil, que assumiu a presidência do G20 em dezembro do ano passado, foi o anfitrião da reunião em 28 e 29 de fevereiro, que juntou os ministros responsáveis pelas pastas de Finanças das 20 maiores economias do mundo, incluindo também a União Europeia e a União Africana.
O encontro, que incluiu a participação dos governadores dos Bancos Centrais, ocorreu em um cenário global volátil, caracterizado por novas tensões geopolíticas e em meio a debates acalorados sobre o ritmo da flexibilização monetária, decorrente da escalada inflacionária após a pandemia.
As prioridades da presidência brasileira para o seu mandato à frente do G20 são o combate à fome, à pobreza e à desigualdade, o desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global.
O Brasil convidou Portugal, Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega e Singapura para observadores do G20 em 2024.