Antonio Cicero. Crédito: Reprodução, TV Globo

Antonio Cicero. Crédito: Reprodução, TV Globo

Antonio Cicero, poeta, acadêmico e filósofo, morre aos 79 anos

Autor membro da ABL foi submetido a procedimento de eutanásia na Suíça, para onde viajou na semana passada

23/10/2024 às 14:11 | 2 min de leitura | Brasil
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O poeta, acadêmico, letrista e filósofo brasileiro Antonio Cicero morreu nesta quarta (23), aos 79 anos. Cicero foi submetido a um procedimento de eutanásia na Suíça, para onde viajou na semana passada já com o intuito de recorrer ao processo de morte assistida. 

Segundo Lauro Jardim, em O Globo, Antonio Cicero foi acompanhado ao país da Europa pelo marido, Marcelo Pies. Num comunicado a pessoas próximas, Pies afirmou que o poeta já planejava fazer a eutanásia há algum tempo, mas insistiu que ninguém soubesse. Cicero estava diagnosticado com Alzheimer. 

Sétimo ocupante da cadeira número 27 da Academia Brasileira de Letras (ABL), Cicero foi eleito para o posto em 10 de agosto de 2017, sucedendo Eduardo Portella. A recepção ao então mais novo acadêmico, em 16 de março de 2018, foi realizada por Arnaldo Niskier. 

Confira aqui o discurso completo de Antonio Cicero na cerimônia de posse na academia.

O perfil de Cicero na ABL registra que o poeta se formou em filosofia pela Universidade de Londres e pós-graduação pela Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos. No final dos anos 1970, Cicero ganhou projeção como letrista das canções da irmã, Marina Lima. 

Cicero é autor do ensaio O Mundo Desde o Fim (1995) e de duas coletâneas poéticas: Guardar (1997, Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira) e A Cidade e os Livros (2002). 

Última aparição pública e carta de despedida

Também segundo O Globo, a última aparição pública de Antonio Cicero no Rio de Janeiro foi em 30 de setembro, quando o poeta prestigiou o lançamento do novo livro de Silviano Santiago, numa livraria em Ipanema, na Zona Sul da cidade.

Antes de viajar à Suíça, Cicero deixou uma carta de despedida (leia a íntegra mais abaixo), publicada no jornal. No texto, o poeta afirmou que devido à doença "não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia".

A última carta de Antonio Cicero:

"Queridos amigos,

Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. 

O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.

Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.

Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.

Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. 

Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.

Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.

A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas –senão a coisa– mais importante da minha vida. 

Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.

Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.

Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.

Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!"

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