Ruas de Porto Alegre tomadas por enchente. Crédito: Ricardo Stuckert, PR

Ruas de Porto Alegre tomadas por enchente. Crédito: Ricardo Stuckert, PR

Aspirante a influencer é pressionada a prestar contas de doações a vítimas no RS

Advogada abriu petição pública solicitando que Camila Fernandes seja investigada

15/05/2024 às 06:05 | 3 min de leitura | Dia a Dia
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Camila Fernandes, brasileira que vive em Portugal, está sendo pressionada nas redes sociais a prestar contas das doações que arrecadou para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Até esta terça (14), a tragédia deixava mais de 140 mortos, centenas de milhares de desabrigados e mais de 120 desaparecidos.

Na última semana, se formou uma corrente de solidariedade mobilizada em favor da população gaúcha. Com isso, Camila ganhou notoriedade em terras lusitanas ao, de certo modo, puxar uma campanha de doações aos atingidos pelas enchentes. Ela divulgou vaquinhas online e arrecadação de materiais para as vítimas. 

Entretanto, o que gerou mais correria entre os brasileiros vivendo no país foi um vídeo publicado por ela dizendo que havia um avião que transportaria seis toneladas de mantimentos para o Rio Grande do Sul. Um furor para arrecadar as toneladas se instaurou e a campanha passou das redes sociais às ruas. 

Idoso é resgatado em meio à tragédia no RS. Crédito: Ricardo Stuckert, PR

A imprensa portuguesa chegou a repercutir a suposta existência do avião, ampliando o alcance do boato. A aeronave nunca existiu, mas a arrecadação era e é real e, agora, Camila está sendo cobrada por seguidores a dar detalhes do que juntou: em dinheiro e em materiais. 

Como exemplo, uma seguidora de Camila no Instagram comenta em publicação ter se sentido enganada pela mulher. 

"Me senti enganada porque vi um vídeo em que ela informava que havia um avião à espera de seis toneladas para seguir para o Brasil. Doei itens porque havia a necessidade de se chegar à meta para o avião sair. Se eu soubesse que não tinha avião nenhum, eu não entregava as coisas para ficarem empilhadas num armazém porque eu sei o custo operacional que esse transporte implica", escreveu a seguidora.  

Depoimento de seguidora em perfil de Camila Fernandes. Crédito: Reprodução, Instagram

Petição para investigar as ações

Nos últimos dias, a aspirante a influencer passou também a ser questionada via petição pública redigida pela advogada Tereza Lada, que atua em Portugal e conversou com a BRASIL JÁ sobre o caso. No texto se pede, em resumo, que o Ministério Público em Portugal investigue Camila por mentiras difundidas na internet. 

Além da informação de que havia uma aeronave, também é mencionado que a aspirante a influencer citou o consulado português em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, como responsável pela campanha —o que foi categoricamente desmentido pela representação diplomática. 

Afirma-se, ainda, que há falta de transparência nas doações feitas em dinheiro às vítimas, e é mencionada "ocultação de provas dos pedidos de recebimento das doações" via transferência bancária. Isso porque Camila, afirma a publicação, apagou gravações que estavam em seu perfil no Instagram. 

Também é pedido que se investigue a criação de uma empresa privada para transportar os mantimentos arrecadados. 

"Nós queremos que as autoridades tomem a frente disso para que seja investigado. Porque tomou uma proporção gigantesca", afirmou a advogada. 

Segundo a Tereza Lada, nesta quarta, quando conversou com a reportagem, ela recebeu novas informações indicando que Camila mencionou que o consulado brasileiro também estava envolvido na campanha. Por isso, a jurista disse que vai pedir também a abertura de uma investigação ao Ministério Público no Brasil.  

A advogada acredita que Camila pode ser responsabilizada por uso de indevido de nome de autoridade pública. Além disso, a não prestação de contas das doações recebidas, segundo Lada, a enquadradria em outro tipo penal, bem como a decisão de levar à frente a campanha mesmo tendo sido desmentida a informação de existir um avião para transportar as doações. 

No Código Penal português, o Artigo 320º estabelece ser crime a usurpação de autoridade pública portuguesa. O regramento define: "Quem, em território português, com usurpação de funções, exercer, a favor de Estado estrangeiro ou de agente deste, ato privativo de autoridade portuguesa, é punido com pena de prisão até cinco anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal".

Silêncio

A BRASIL JÁ procurou Camila Fernandes logo que houve o rumor da existência de um avião. O repórter Jordan Alves entrou em contato por telefone com a mulher, que desligou a chamada assim que ele se apresentou e disse o motivo da ligação —àquela altura, tentar confirmar a existência do avião pedindo mais detalhes à aspirante a influencer. 

Antes que o jornalista pudesse fazer qualquer pergunta, Camila disse que "não estava interessada" e desligou. Nesta quarta, novamente a reportagem procurou Camila, no mesmo telefone, mas por mensagem. Até a publicação deste texto, não houve retorno. 

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