Lucas Machado, conhecido como Negueba, é atleta desde 2014. Crédito: Arquivo Pessoal

Lucas Machado, conhecido como Negueba, é atleta desde 2014. Crédito: Arquivo Pessoal

Atleta brasileiro é deportado da Alemanha: 'Fui julgado pela cor da minha pele'

Lucas Machado, jogador negro de handebol de praia, afirmou ter sofrido racismo ao ser barrado em aeroporto de Frankfurt

31/07/2024 às 10:45 | 5 min de leitura
Publicidade Banner do projeto - Governo de Maricá

Mais de 9,7 mil quilômetros (e um oceano) separam Maricá, no Rio de Janeiro, da Alemanha. Como se não bastasse a distância entre a cidade fluminense e o país europeu, para o atleta de handebol Lucas Machado, o racismo também foi um obstáculo que quase o impediu de realizar o sonho de competir deste lado do Atlântico. 

"Eles me julgaram pela cor da minha pele", resumiu Lucas, em conversa com a BRASIL JÁ. 

No último 23 de junho, o jovem de 26 anos pisou no Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, no Rio, pronto para embarcar num avião que o traria a competições na Espanha e em Portugal. E assim o fez.

O voo, entretanto, tinha conexão na Alemanha, de onde Lucas acabou deportado após ser barrado na imigração. "Quando eu assinei o documento falando que eu estava de acordo [com a deportação] —porque era assinar ou ficar preso—, a tradutora falou que eles já sabiam que eu não ia passar na imigração", disse. 

Lucas Machado, conhecido como Negueba, é atleta desde 2014. Crédito: Arquivo Pessoal

Lucas, conhecido pelo apelido Negueba no esporte, é atleta de handebol de praia da equipe de Maricá. Ele contou que, ao desembarcar em Frankfurt, foi diretamente encaminhado para uma sala de detenção da polícia. Lá, segundo ele, pediram extrato de sua conta bancária e carta-convite.

O atleta afirmou que entregou os documentos que concederiam a ele a entrada e permanência no espaço comunitário europeu até o dia 9 de agosto, quando terminam as competições. Mesmo assim, e sem justificativa aparente, os agentes barraram Lucas.

"Eu tinha tudo comprovado: dinheiro, residência para ficar, e passagem de volta para o Brasil. Mesmo assim, me negaram a entrada”, afirmou Lucas. 

'Não me ofereceram água'

Lucas descreveu as condições em que foi mantido durante as dez horas de detenção no aeroporto de Frankfurt. 

"Cheguei por volta das dez da manhã e fiquei sem tradutor por quatro horas. Tive que pedir várias vezes para ir ao banheiro. Em nenhum momento me ofereceram água, e, quando pedi comida, já fui retirado da sala para deportação", afirmou.

Retido por horas, o atleta, por fim, foi deportado. Ao chegar no Brasil, precisou comprar novas passagens, de última hora, para chegar a tempo da primeira competição, que começou quatro dias depois, em 27 de junho. A saída para Lucas foi comprar um voo direto para Espanha, onde não teve problemas para entrar. 

Enquanto voava de volta para o Rio, Lucas disse que não pôde conter as lágrimas. 

"A primeira coisa que fiz [ao entrar no avião de volta] foi chorar, porque eu não estava mais aguentando aquela situação. E já tinha acumulado um montão de coisa que eu lembrei de quando eu comecei [a carreira no esporte], que me chamaram de macaco, apontaram para a minha pele. Eu comecei a pensar se aquilo [competir na Europa] não era para mim", desabafou.

Racismo no esporte

A trajetória de Lucas no handebol de praia começou em 2014. No campo, infelizmente, o atleta afirmou que situações envolvendo racismo são comuns. No início da carreira, conforme mencionou mais acima, Lucas lembrou já ter sido chamado de macaco. 

"Eu sempre levei o esporte como uma forma de superar desafios. Já passei por racismo dentro de quadra, mas nunca imaginei passar por algo assim fora dela", acrescentou.

Depois das turbulências, Lucas não desistiu e cumpre os últimos dias de agenda de competições na Europa. Em 9 de agosto, ele volta para o Brasil e acredita que irá precisar de apoio emocional para superar a discriminação. 

E a urgência para comprar novas passagens implodiu o orçamento do jogador, que agora pede ajuda para cobrir os gastos.


“Eu vou dar um recado para as pessoas que não tem meu tom de pele, as pessoas mais favorecidas. Parem para pensar na situação que a gente passa. Isso não deve ser feito com ninguém. A gente sofre com isso. Eu não vou ser o primeiro nem o último”, lamentou o jovem. 

Lucas abriu uma vaquinha por contribuições (as informações estão no perfil dele do Instagram). "A minha maior ajuda nesse momento seria que isso [o racismo] acabasse, ou então amenizasse o máximo possível, porque ninguém merece passar pelo que eu passei."

Lucas Machado, conhecido como Negueba, é atleta desde 2014. Crédito: Arquivo Pessoal


Jornalismo verdadeiramente brasileiro dedicado aos brasileiros mundo afora


Os assinantes e os leitores da BRASIL JÁ são a força que mantém vivo o único veículo brasileiro de jornalismo profissional na Europa, feito por brasileiros para brasileiros e demais falantes de língua portuguesa.


Em tempos de desinformação e crescimento da xenofobia no continente europeu, a BRASIL JÁ se mantém firme, contribuindo para as democracias, o fortalecimento dos direitos humanos e para a promoção da diversidade cultural e de opinião.


Seja você um financiador do nosso trabalho. Assine a BRASIL JÁ.


Ao apoiar a BRASIL JÁ, você contribui para que vozes silenciadas sejam ouvidas, imigrantes tenham acesso pleno à cidadania e diferentes visões de mundo sejam evidenciadas.


Além disso, o assinante da BRASIL JÁ recebe a revista todo mês no conforto de sua casa em Portugal, tem acesso a conteúdos exclusivos no site e convites para eventos, além de outros mimos e presentes.


A entrega da edição impressa é exclusiva para moradas em Portugal, mas o conteúdo digital está disponível em todo o mundo e em língua portuguesa.


Apoie a BRASIL JÁ

Últimas Postagens