Santa Cruz Cabrália une Portugal e Bahia na história das Américas. Crédito: Divulgação

Santa Cruz Cabrália une Portugal e Bahia na história das Américas. Crédito: Divulgação

Bacalhau com dendê: Santa Cruz Cabrália une Portugal e Bahia

Do marco da primeira missa no Brasil às tradições indígenas, cidade baiana preserva memórias e sabores que atravessam séculos

12/03/2025 às 09:12 | 7 min de leitura | Turismo
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Santa Cruz Cabrália, na Bahia, foi o ponto de encontro entre Portugal e Brasil no primeiro capítulo da história da nossa relação. Foi ali que, em 26 de abril de 1500, quatro dias após a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral, celebrou-se a primeira missa em terras brasileiras, em Coroa Vermelha, conduzida por frei Henrique Soares de Coimbra. 

Uma grande cruz com as armas e divisas reais de Portugal foi erguida para marcar o evento religioso. Batizada em homenagem ao comandante português, a primeira cidade da chamada Costa do Descobrimento está localizada a 23 quilômetros do Aeroporto Internacional de Porto Seguro. 

É o marco nos rumos da história e que nos mudaria para sempre. Com cerca de 35 quilômetros de litoral paradisíaco, o local convida os viajantes a seguir os passos de Cabral e a explorar a terra com o deslumbramento de quem encontrou o paraíso. 

Santa Cruz Cabrália, Bahia. Crédito: Divulgação

Em abril, por conta das celebrações da chegada ao Brasil pelos portugueses, a cidade proporciona eventos culturais e uma missa no local, mantido com uma cruz até hoje. 

Os anfitriões 

Dos 30 862 habitantes de Santa Cruz Cabrália, 7 100 são indígenas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Entre eles está um grupo que habita a região desde muito antes da chegada dos europeus, os pataxós, cuja cultura está espalhada por toda cidade. 

Santa Cruz Cabrália, Bahia. Crédito: Divulgação

No ponto onde Cabral mandou erguer a cruz, por exemplo, encontra-se hoje o famoso Patashopping, um centro comercial onde os indígenas vendem seus artesanatos. A poucos passos dali é possível visitar a reserva Txag'rú Mirawê, onde vivem cerca de 65 famílias, incluindo 60 crianças e 30 idosos.

Os turistas são recebidos com danças tradicionais e cânticos no idioma daquele povo, o patxôhã, e em português. No fim da apresentação, todos são convidados a fazer parte da roda.

As famílias também vendem seu artesanato enquanto o líder cultural e um dos conselheiros do cacique conta a história de seu povo.

“Sinto que a população tem se preocupado em conhecer a nossa cultura", disse à reportagem Makiami Kahtãgá, que significa senhor da lealdade.

O conhecimento traz resultados. Faz alguns anos que, segundo Lahtãgá, cresce o movimento de revitalização do patxôhã, com aulas para crianças e jovens nas aldeias e esforços para documentar e preservar a língua. 

Santa Cruz Cabrália, Bahia. Crédito: Divulgação

Em 2000, para comemorar os 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, um grupo de intelectuais e líderes pataxós traduziu a Carta de Pero Vaz de Caminha para sua língua.

 Eles levaram até Portugal a versão do documento A Carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro documento escrito da história do Brasil e foi enviada o rei dom Manuel 1º para detalhar o descobrimento das novas terras.

Num dos trechos, ele descreve a missa: “Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito.” 

Mais informações sobre os indígenas da região também são conhecidas no Museu Indígena Pataxó da Aldeia Coroa Vermelha, com exposição a céu aberto de utensílios, vestimentas, adereços e documentos históricos que ilustram a resistência daquele povo. 

Centro Histórico e atrações 

No Centro Histórico de Cabrália, destacam-se a Igreja de Nossa Senhora da Conceição Barroca, do século 18, um antigo cemitério, as ruínas de um colégio jesuíta, a Câmara e a cadeia, um edifício tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

O prédio funciona como arquivo público municipal de Santa Cruz Cabrália e lá estão expostos permanentemente os achados do sítio arqueológico escavado na praça histórica. 

Um pouco adiante, avistamos o sugestivo mirante Ai Que Lindo, no Parque da Preguiça, de onde o visitante tem uma das vistas mais lindas do Rio João de Tiba e da barreira de corais da Baía de Cabrália.

Ali no Parque, que é uma área de preservação ambiental, o público pode fazer caminhadas, trilha e piquenique entre preguiças, capivaras e raposas, além de bromélias, orquídeas e diversas espécies de plantas.

E quem quiser ver de pertinho os recifes observados do alto, a sugestão é visitar o Parque Marinho de Coroa Alta, a uma hora de navegação. Eles têm cor alaranjada e, na maré baixa, formam-se, piscinas naturais com várias espécies de peixes e corais como garoupas, baiacus e cavalos-marinhos. 

É também durante a vazante que surge uma enorme passarela de areia no meio da praia de Coroa Vermelha, conhecida como “Caminho de Moisés”, dando para andar até oitocentos metros mar adentro. 

Santa Cruz Cabrália, Bahia. Crédito: Divulgação

Parque Ecológico Fazenda Mãe Tereza  

O amor também foi descoberto na Bahia, desta vez por um uruguaio, e dele nasceu a parrillada (churrasco uruguaio) mais famosa de Cabrália. Em 1992, José Topolanski conheceu a baiana Marcia Monteiro e, juntos, ergueram o Parque Ecológico Fazenda Mãe Tereza.

O local conta com lago, piscina infantil, tirolesa, toboáguas, passeios de caiaque e cavalo, trilhas, banho de lama no Rio Camurugi. Tem também trenzinho com tour panorâmico e uma marina de onde se desce pelo rio, entre outras atrações.

O acesso é por meio de ingresso day use, com alimentação e bebidas à parte. 

Onde o mundo se encontra à mesa 

Da América Latina à Europa, estrangeiros deixaram sua marca na gastronomia de Cabrália. No Recanto do Sossego, uma pizzaria à beira mar, os italianos Miky, Andrea e Marco, oferecem desde 2007 massas caseiras, bruschettas e uma caldeirada com lagostas, camarões e peixes nobres e graúdos. 

No Recanto do Sossego. Crédito: Divulgação

Ali pertinho, o restaurante Caçuá, que fica dentro do Príncipe do Mutá Hotel Design e onde se tem uma vista panorâmica da paisagem ao redor, mistura a culinária americana e argentina com a brasileira, incluindo opções vegetarianas, sem lactose e veganas.  

Também italianos, os chefs Francesca D'Aliesio e Paolo Gioggi produzem suas massas ali mesmo no seu Trigo, um restaurante em frente ao Rio Camurugi que mais parece a cozinha da “nonna”, com frigideiras penduradas e fotografias de algumas regiões da Itália expostas nas paredes.

É tão familiar que a filha deles brinca na cozinha americana enquanto a profissional conversa com o público. O espaço comporta cerca de trinta pessoas. 

Do outro lado da calçada tem o Seu Beira Mar, aberto por dois paulistas e um natural de Cabrália, num imóvel histórico em frente ao cais. O nome do restaurante é uma homenagem ao protetor e fiel dos bravos navegantes nos dias de tormentas. 

Seu Beira Mar. Crédito: Divulgação

Viko Tangoda, de Fernandópolis, de São Paulo, é o responsável pelo cardápio que traz as origens orientais do premiado chef com toques brasileiros como a tapioca com maionese de missô e o magnífico tartar de camarão com crisp de shari. 

Rio João de Tiba e Santo André 

Cabrália é dividida pelo Rio João de Tiba, cartão postal do município e possivelmente batizado com o nome de um português que morou na região. Suas águas possibilitam passeios de barco ao longo do seu curso. No roteiro, ilhas fluviais e recifes de corais localizados em mar aberto, mangue, caranguejos, aratus e garça-azul. 

É por ele que se chega à Vila de Santo André, refúgio de praias desertas e gastronomia sofisticada, além de hotéis de luxo e pousadas à beira-mar. 

O local ganhou notoriedade ao abrigar a delegação alemã durante a Copa do Mundo de 2014. O grupo ficou hospedado no Campo Bahia, um hotel boutique frente ao mar com 13 vilas confortáveis em meio à vegetação. A entrada, uma mandala filtro dos sonhos feita pelos indígenas da região, demonstra que é um lugar de onde você não vai querer despertar. 

Além de uma enorme piscina, spa, beach lounge entre outros serviços de luxo, o local abriga o Flor de Caju Restaurante, com ingredientes locais que compõem o melhor da gastronomia regional. Aliás, hotéis com invejada infraestrutura é o que não falta na região. Muitos oferecem serviço completo com direito à alta gastronomia. 

No vizinho Villa Angatu Eco Resort & Spa, 122 acomodações são divididas em cinco categorias, que podem receber de duas a quatro pessoas, sendo elas: suíte master e suíte luxo, que comportam até duas pessoas; chalé e standard, que comportam até três pessoas e luxo família, ideal para casais que viajam com até dois filhos. E cada vila está elencada a um estilo diferente. 

Conta-se que o primeiro investidor do local era um italiano apaixonado pelo Brasil, em especial pela história da cidade mineira de Ouro Preto. Por isso, levou as características daquela região para o empreendimento. Mas não só. Outra vila lembra o charme e a tranquilidade da cidade fluminense de Paraty. E lembra muito mesmo. Ao caminhar pelo resort, a impressão que dá é a de que você foi transportado da Bahia para o século 17. Tem até um prédio inspirado em um mosteiro de freiras. 

O restaurante deles, o Aromar, serve o café da manhã em regime de buffet e funciona para o almoço e jantar em formato la carte, que vai da cozinha baiana à internacional. 

Como o Maroca Pousada de Charme, com dez acomodações a poucos passos da areia, e que também funciona como restaurante e pizzaria, comandado pelo premiado chef Danilo Amaral. O carro chefe da casa é a moqueca, talvez a melhor que você vai comer em toda Bahia. Na receita, ele adicionou banana-da-terra e o fruto do dendê, conferindo um toque especial ao prato. 

Outra opção para comer em frente ao mar, dessa vez o Rio João de Tiba, é no Restaurante Gaivota, com uma varanda aconchegante de onde se pode degustar um variado cardápio que vai de bife ancho ao bacalhau. Ele leva a consultoria do chef Wladi Umezu, do tradicional restaurante El Gordo, de Trancoso. O local ainda oferece hospedagem. 

Ao lado, o Píer João de Tiba também funciona como um lounge e é decorado com pinturas pataxós e artesanato local que remetem à história da região. Na mesa, pratos típicos da culinária baiana como o camarão empanado no coco com molho de pimenta dedo-de-moça, ceviche de coco verde com crocante de banana e dadinhos de tapioca com duo de queijo. Os drinks também são uma delícia.  

Dendê com queijo 

Santo André também leva um toque mineiro. No Luz de Minas, o simpático casal Said e Renata Dias, de Santa Bárbara, faz uma mistura incrível desses dois estados como a casquinha de siri com queijo canastra e farofa ou o chutney de rapadura e mostarda. Tudo podendo ser acompanhado com aquela conhecida cachaça mineira. 

Luz de Minas. Crédito: Divulgação

Para a sobremesa, brigadeiros surreais de bom que a própria Renata faz: para vender o doce, ela colocou uma bike retrô personalizada no meio do espaço, que também oferece hospedagem. 

A culinária oferecida na Barraca Elias & Leonice, na Vila Guaiú, não é tão sofisticada como a de um hotel de luxo, mas dá para ostentar muito comendo o pastel de siri com a caipirinha de biribiri (fruta típica da região) em frente ao mar onde água doce e salgada se encontram. 

Serviço 

Para quem quer conhecer Santa Cruz Cabrália, a Porto Azul —parceira local da Azul Linhas Aéreas— oferece diversos pacotes para os turistas, tanto para grupos quanto individuais. 

*A jornalista viajou a convite da prefeitura do Município de Santa Cruz Cabrália em parceria com a Azul Linhas Aéreas. 

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