Esqueça as vendas. Quando se fala em degustação às cegas de vinhos, os rótulos é que são escondidos, geralmente por uma capa. Ou, em outra modalidade, saem da adega já nas taças, para que não tenham seus rótulos revelados.
Sempre fui apreciadora de vinhos, mas sem grandes pretensões técnicas. Antes, já tinha assistido a uma brincadeira entre produtores no Porto, só que desta vez a experiência foi séria, conduzida pela especialista Lica Saldanha no restaurante Terraço Editorial, em Lisboa.
A ideia era desmistificar as degustações, tornando-as acessíveis e divertidas. De forma lúdica, Lica ensinou sobre vinhos e mostrou que o modelo de degustação pode ser um grande aliado para quem está aprendendo. E tudo funciona como um jogo que aguça os sentidos e facilita o entendimento.
Vinho não é fácil. É difícil desmistificar porque o vinho é místico mesmo. Tem tantas camadas. Cada produtor, cada ano, cada solo pode trazer uma especificidade para um vinho, por exemplo. Por isso, é difícil até mesmo para profissionais acertarem tudo, explicou.
Em sua essência, as degustações às cegas servem para remover qualquer preconceito que os provadores possam ter em relação a um vinho.
Sem saber o rótulo, é possível avaliar a bebida sem outras influências, como prestígio do produtor ou da marca. Por isso, são recorrentes em concursos de vinhos, frequentados por críticos e compradores.
Didaticamente, também são uma boa ferramenta para estudantes da área e um jogo divertido para apreciadores.
“É uma brincadeira séria. Para profissionais, é um treino, uma forma de testar seus conhecimentos. Para quem está aprendendo, é uma oportunidade de aprendizado mais rápido – porque não vai esquecer aquele aroma”, disse Lica.
A dinâmica é simples na teoria, mas desafiadora na prática. Os vinhos são servidos sem que os participantes saibam qual rótulo, casta ou safra estão provando.
Sem a influência da etiqueta, da região ou do prestígio da vinícola, tudo se resume à percepção sensorial: cor, aroma, paladar e retrogosto, que é o sabor na boca após o consumo integral de um alimento.
O primeiro passo é observar o vinho na taça. A cor pode dar pistas sobre a idade e até sobre a casta. Depois, vem o nariz: os aromas iniciais, antes mesmo de girar a taça, e os que se intensificam após o movimento.
No paladar, tentamos identificar acidez, taninos... Tudo isso para, no final, fazer um palpite embasado – ou, no meu caso, uma aposta cujas chances de acerto não se diferem muito de ganhar numa raspadinha...
Para a nossa prova, Lica escolheu seis vinhos – três brancos e três tintos –, todos portugueses. Para facilitar a vida dos participantes, apenas castas únicas foram selecionadas. Nada de blends complicados!
O chef Rui Rebelo preparou um menu degustação harmonizado, elevando ainda mais a experiência.
A cada novo vinho servido, tentava decifrar suas características. Seria um Touriga Nacional? Talvez um Arinto? E quanto à safra? A cada gole, tentava conectar o que sentia no paladar com as (poucas) memórias gustativas que já tinha.
Mas o vinho, como a vida, adora pregar peças. No final, só acertei uma casta e um ano. Quem levou a melhor foi o jornalista Jordan Alves, que conseguiu identificar mais safras corretamente.
No dia seguinte, contei sobre a experiência para minha grande amiga, jornalista apaixonada por vinhos e sommelière pela ABS Rio, Cláudia Meneses, que me confortou:
“Ninguém acerta tudo. Nem os melhores. É uma questão de muita prática. Se você nunca sentiu os aromas e sabores de uma casta, como vai poder identificá-la?”. Afinal, os acertos passam pela construção de repertório.
O bom da degustação é justamente isso: conhecer novas castas, abrir o paladar para novos sabores. O saldo? Uma experiência deliciosa, desafiadora e com gostinho de quero mais. Afinal, sou competitiva – e na próxima, quero ir melhor! Até lá, sigo estudando (e degustando, claro).
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