Leonardo Meneses, de 24 anos, relata história de agressão vivida nas ruas do Porto. Créditos: Arquivo pessoal.

Leonardo Meneses, de 24 anos, relata história de agressão vivida nas ruas do Porto. Créditos: Arquivo pessoal.

Jovem brasileiro relata agressão na porta de boate no Porto

Leonardo Meneses afirma ter sido agredido em dois momentos, num deles por uma segurança do Posh Club. A gerência do espaço nega que qualquer funcionário tenha batido no rapaz.

04/10/2024 às 15:05 | 5 min de leitura
Publicidade Banner do empreendimento - Maraey

Leonardo Meneses, de 24 anos e que há dois vive no Porto, denunciou ter sido agredido duas vezes no domingo (29) ao sair da Posh Club, boate dedicada ao público LGBTQIA+ na mesma cidade.

Segundo ele, que é brasileiro, o primeiro episódio ocorreu após ter sido expulso da boate. Leonardo disse estar com um dichavador —uma espécie de moedor usado para preparar tabaco, maconha ou ervas em geral. 

O jovem afirmou à BRASIL JÁ que foi abordado por um dos seguranças do local e interpelado sobre supostamente estar usando drogas

O segurança, de acordo com o jovem, disse que chamaria a polícia e orientou que Leonardo o seguisse. Leonardo contou que tentou jogar o objeto fora e que o segurança sequer checou o dichavador antes de expulsá-lo da boate.

Em Portugal, não é crime o consumo de algumas drogas, desde que limitada a quantidade ao equivalente a dez dias de uso. Para a maconha, o limite é de 25 gramas. 

“Quando mencionei que era brasileiro, uma segurança mulher ficou completamente descontrolada e começou a brigar comigo. Peguei minhas coisas e, enquanto saía, ela veio atrás de mim. Quando fui expulso e ameaçaram chamar a polícia, peguei meu celular e comecei a gravar, mas, para minha infelicidade, não estava gravando.”

Já na calçada, fora da boate, Leonardo contou que sofreu a primeira agressão da noite, segundo ele testemunhada por outras pessoas que também estavam no local. “Eu estava com o celular na mão, achando que estava filmando, quando ela [a segurança] veio para cima de mim, me xingou e me deu um tapa muito forte no rosto.”

A partir daí, Leonardo de fato conseguiu filmar o tumulto, registrado em vídeos que publicou em seu perfil no Instagram.

Em nota divulgada no dia seguinte, a gerência do Posh Club negou que qualquer funcionário da casa de shows tenha batido em Leonardo. “Nenhum membro do nosso staff ou qualquer cliente envolvido nas atividades dentro da discoteca esteve envolvido em atos de agressão contra o referido cliente”, afirmou a administração do espaço (veja a nota completa ao final do texto).

Mais violência

Expulso da boate, Leonardo esperou o show terminar e se reuniu com dois amigos que assistiram à apresentação. O trio, disse, seguiu em direção à Praça Marquês de Pombal e foi quando, já distante da boate, houve outra agressão. 

“De repente, a gente está olhando [o celular] para pedir o Uber e chegam dois caras. Simplesmente, um deles veio segurando já aqui em mim [na parte de trás do pescoço] e já chegou falando: ‘Você estava ali, gravando, e apareceu a gente na filmagem, você vai apagar agora’. Um deles era português e o outro não falou nada”, afirmou Leonardo.

O rapaz disse que não se recusou a apagar as imagens, pelo contrário, que entregou o aparelho para que o próprio agressor o fizesse. Mesmo assim, a resposta foi violenta e ele teve seu celular arremessado longe. Leonardo disse que correu em direção à boate de onde havia sido expulso — o local mais próximo aberto —, para pedir ajuda. 

“Quando estava correndo em direção à Posh, ele pulou em cima de mim. Eu só lembro dele em cima de mim, me enforcando com as suas mãos e falando: 'Cala-te, paneleiro'. Quando eu já não estava conseguindo mais gritar, consegui virar minha cabeça para o lado e vi uma das cenas mais lindas que foi quando veio todo mundo da comunidade LGBTQIA+ correndo”, desabafou. 

De acordo com Leonardo, os seguranças do evento não fizeram nada para interromper a agressão e se recusaram a deixar o trio entrar no local.

Leonardo queixou-se da ação da boate após as agressões. Créditos: Arquivo pessoal.

Organização do evento

Naquela noite, o espaço da Posh Club recebia uma festa, mas não estava responsável pela produção do evento. A atribuição estava a cargo do Coletivo Epifania, que tem foco em promover educação formal e artística através de ensino não formal, fundado por imigrantes no Porto, em 2022.

Leonardo, após se ver livre dos agressores e voltar à entrada do evento procurando ajuda, disse que testemunhas acionaram a Polícia de Segurança Pública, a PSP, para relatar o que havia acontecido. Nesse meio tempo, o jovem recuperou o celular, já que um grupo de pessoas correu atrás dos agressores e conseguiu encontrar o aparelho.

Atendimento pela PSP

Leonardo reclamou do atendimento da PSP, embora tenha dito que foi bem tratado pelos agentes. Disse que as agressões não foram registradas. 

“Eram dois policiais, um homem e uma mulher, e não pegaram o meu depoimento por completo. Foram tranquilos e procuraram entender o que aconteceu, mas logo depois fui encaminhado ao atendimento do Inem [unidade de saúde].” 

Uma das testemunhas do atendimento policial, Vinícius Armistrong, que integra o Coletivo Epifania, organizador do evento, disse à BRASIL JÁ que concorda que não houve empenho em atender à ocorrência. O policial, segundo o produtor, "não estava muito afim de resolver nem de ouvir o lado vulnerável".

A PSP, afirmou Leonardo, não lhe deu nada que comprove que suas declarações foram documentadas e que seria aberta uma investigação sobre o caso. No hospital, o rapaz disse que foi acolhido e cuidado pela equipe médica.

A BRASIL JÁ entrou em contato com a Polícia de Segurança Pública, por email, na quinta (3) e sexta (4), mas não recebeu resposta até o fechamento desta reportagem.

Apesar da violência sofrida, Leonardo não pretende deixar Portugal. Pelo contrário, disse que vai continuar no país para alcançar seu principal objetivo que é trabalhar com moda, arte ou teatro.

Comunicado da discoteca

Na segunda, após o ocorrido, a discoteca publicou um comunicado em suas redes sociais sobre a situação.

“A Posh vem, por este meio, esclarecer os acontecimentos ocorridos na noite de ontem e responder às acusações infundadas que têm circulado na internet, acusando o nosso estabelecimento de comportamentos agressivos e xenófobos.

Na referida noite, um cliente foi abordado pela equipa de segurança prestadora de serviço para a Posh após ser apanhado a portar substâncias ilícitas dentro das nossas instalações. Esta abordagem foi feita de forma segura e discreta, seguindo todos os protocolos estabelecidos para a segurança e bem-estar de todos os presentes no estabelecimento. 

Foi solicitado ao cliente que abandonasse o local, o que foi feito de forma pacífica e sem qualquer tipo de coação ou uso de força. O cliente, por sua vontade, concordou com a ação e saiu das nossas instalações pelos seus próprios meios, mantendo-se na via pública sem qualquer incidente adicional dentro da discoteca.

Após ter saído, o cliente manifestou-se visivelmente alterado, dirigindo acusações à equipa de segurança e filmando a entrada da discoteca. Posteriormente, o cliente dirigiu-se à Praça do Marquês, onde, segundo relato, foi agredido por dois indivíduos que não estavam associados ao nosso estabelecimento, não eram clientes da discoteca, nem faziam parte do nosso staff. 

Esta agressão, que lamentamos profundamente, ocorreu fora do nosso espaço e não foi de qualquer forma incentivada ou apoiada pela Posh. 

Aliás, como estabelecido e reconhecido, a Posh não apoia qualquer tipo de violência ou comportamento discriminatório de qualquer natureza. Como proprietários e gestores, repudiamos totalmente atitudes xenófobas, sendo eu próprio, Stefan, proprietário do estabelecimento, de origem brasileira, e defensor de um ambiente inclusivo e seguro para todos.

Imediatamente após o incidente, chamou a polícia para intervir e investigar o ocorrido. Toda a assistência necessária foi oferecida, e reiteramos o nosso compromisso em colaborar com as autoridades para o esclarecimento total desta situação.

Importa também esclarecer que as câmaras de videovigilância do nosso estabelecimento registraram os acontecimentos dentro da discoteca. Após análise das imagens, foi confirmado que o cliente não cumpria com as regras internas do estabelecimento, motivo pelo qual lhe foi pedida a saída. Esses vídeos já foram entregues às autoridades competentes para a devida análise.

Reafirmamos que nenhum membro do nosso staff ou qualquer cliente envolvido nas atividades dentro da discoteca esteve envolvido em atos de agressão contra o referido cliente. Toda e qualquer violência que tenha ocorrido, infelizmente, deu-se fora do âmbito da nossa responsabilidade, já fora das instalações da discoteca.

A Posh continua a manter uma política de tolerância zero em relação ao uso de substâncias ilícitas no seu interior, bem como à prática de qualquer tipo de discriminação ou violência, e mantemo-nos disponíveis para colaborar com as autoridades e prestar o apoio necessário ao cliente agredido.

Estamos empenhados em garantir um ambiente seguro, inclusivo e de respeito dentro das nossas instalações e comprometemo-nos a continuar a trabalhar para assegurar que eventos como este não prejudiquem a confiança que o nosso público deposita em nós.

Agradecemos a compreensão de todos e continuaremos a esclarecer este caso com total transparência

Atenciosamente, a gerência”.

Jornalismo verdadeiramente brasileiro dedicado aos brasileiros mundo afora


Os assinantes e os leitores da BRASIL JÁ são a força que mantém vivo o único veículo brasileiro de jornalismo profissional na Europa, feito por brasileiros para brasileiros e demais falantes de língua portuguesa.


Em tempos de desinformação e crescimento da xenofobia no continente europeu, a BRASIL JÁ se mantém firme, contribuindo para as democracias, o fortalecimento dos direitos humanos e para a promoção da diversidade cultural e de opinião.


Seja você um financiador do nosso trabalho. Assine a BRASIL JÁ.


Ao apoiar a BRASIL JÁ, você contribui para que vozes silenciadas sejam ouvidas, imigrantes tenham acesso pleno à cidadania e diferentes visões de mundo sejam evidenciadas.


Além disso, o assinante da BRASIL JÁ recebe a revista todo mês no conforto de sua casa em Portugal, tem acesso a conteúdos exclusivos no site e convites para eventos, além de outros mimos e presentes.


A entrega da edição impressa é exclusiva para moradas em Portugal, mas o conteúdo digital está disponível em todo o mundo e em língua portuguesa.


Apoie a BRASIL JÁ

Últimas Postagens