Em Portugal e nos Palop, o "Dia das Mães" ou "Dia da Mãe" é comemorado no primeiro domingo do mês de maio. Crédito: PxHere

Em Portugal e nos Palop, o "Dia das Mães" ou "Dia da Mãe" é comemorado no primeiro domingo do mês de maio. Crédito: PxHere

Mães, trabalhadoras, imigrantes: as brasileiras que transformam desafios em rede de apoio

Grupo criado em Portugal mostra como a coletividade pode amenizar a solidão e fortalecer mães na jornada da imigração

04/05/2025 às 11:49 | 7 min de leitura | Dia a Dia

Quando Letícia Gurgel desembarcou em Portugal, em 2019, trazia na bagagem a esperança de um recomeço e a incerteza de criar seu filho, Miguel, então com 11 anos, em um país desconhecido.

A adaptação inicial em Braga foi seguida por uma separação conturbada, marcada por violência doméstica, que a forçou a ir para a Margem Sul de Lisboa com o filho.

"Eu vim sem conhecer ninguém. Trabalhar, ainda ter um filho autista e ser mãe solo não é nada fácil", conta a designer de interiores de 40 anos. Ela, como tantas outras, enfrenta diariamente o equilibrismo entre a necessidade de garantir o sustento e o desejo de estar presente na vida do filho.

A falta de uma rede de apoio tradicional, a dificuldade em conseguir empregos que respeitem as necessidades da maternidade, o medo da precariedade e o peso da responsabilidade recaem sobre os ombros dessas mulheres.

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Em resposta a essa realidade, surgem iniciativas como o grupo "Mãe Imigrante", um espaço virtual —mas não só— onde a troca de experiências, o acolhimento e a informação se tornam ferramentas poderosas para enfrentar a dupla —ou tripla— jornada em solo português.

O grupo no WhatsApp tornou-se uma ferramenta virtual com impacto real na vida de 149 brasileiras em Portugal, número registrado até a publicação desta reportagem. E é com essas mães que conversamos para construir esta matéria. 

Conciliando trabalho e maternidade na imigração

Diferente do que podem pensar aqueles que nunca fizeram este movimento migratório, aquilo que parece ser somente uma mudança geográfica, é, na verdade, uma reconfiguração completa da dinâmica entre vida profissional e pessoal.

No meio disso, a solidão é, talvez, o fantasma mais persistente a assombrar as mães imigrantes. A gerente de contas Paula Poslednik sentiu isso na pele quando chegou em 2019. O choque cultural inicial, a estranheza com os costumes locais e a distância da família a mergulharam em um período difícil, com crises de pânico e depressão.

"Tudo aquilo que eu estava vendo de Portugal, que eu achava lindo, comecei a achar tudo feio", confessa.