Crédito: Turismo do Alentejo/Divulgação

Crédito: Turismo do Alentejo/Divulgação

Marvão: uma viagem aos tempos medievais

Castelo imponente, rota do contrabando, ruínas romanas e cenários encantadores: a aldeia do Alentejo perfeita para quem ama história, aventura e natureza

01/01/2025 às 12:18 | 4 min de leitura | Turismo
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Ao cruzar a Porta de Ródão, entrada principal de Marvão, distrito de Portalegre, a sensação é de ter feito uma viagem no tempo. Muralhas antigas, ruas de pedra e casas caiadas de branco constroem o clima de Idade Média que, a cada esquina, parece querer nos contar uma história.

A vila medieval, construída e habitada por romanos e árabes, está encravada no topo da Serra do Sapoio, no Alto Alentejo, a 860 metros de altitude, atraindo visitantes de todo o mundo, especialmente àqueles em busca de um refúgio tranquilo e um mergulho na rica construção cultural portuguesa.

Caminhando pelas ruas de Marvão, é possível notar que a vida ali segue um ritmo diferente. O relógio da cidade parece passar as horas de maneira lenta. Os pássaros cantam, e o aroma de ervas envolve o visitante em uma atmosfera serena. Os pequenos cafés convidam a uma pausa. Tudo ao seu redor sugere que é hora de desacelerar. 

A BRASIL JÁ esteve em Marvão no fim de setembro. Nossa visita começou pela Praça do Pelourinho, onde está a Casa da Cultura. Chamada de Câmara Velha, o local foi o edifício dos Paços do Concelho desde a sua construção, ainda durante o reinado de dom Manuel, nos séculos 15 e 16, até os anos de 1956.

Entrada para o Castelo de Marvão. Crédito: Victor Carvalho

O lugar também foi tribunal e cadeia. No térreo, é possível visitar as antigas celas, que hoje são uma olaria e uma sala de exposição. No primeiro piso, fica o espaço de leitura do Arquivo Histórico Municipal.

O circuito termina no andar superior, onde há o velho tribunal. O roteiro seguiu até a Igreja de Santa Maria. Não há provas, mas se acredita que ela foi construída sobre uma antiga mesquita. Atualmente, a antiga igreja funciona como o Museu Municipal de Marvão, lugar que reúne coleções de arte sacra, arqueologia e etnografia.

A vila tem três casas religiosas: a Igreja de São Tiago, em tipologia gótica, a Igreja do Espírito Santo, em estilo renascentista, ambas do século 14, e a Capela do Calvário, do século 19.  

A principal atração da vila é o Castelo de Marvão. Após o domínio cristão, a região recebeu um dos primeiros forais alentejanos, em 1226, concedido por dom Sancho 2º. No período, se iniciou a construção do castelo medieval, possivelmente a mando de dom Dinis. Situada no topo da aldeia, a fortificação era considerada impenetrável.

Marvão é uma viagem aos tempos vedievais. Crédito: Nelson Carvalheiro

Até o século 19, ela cumpriu papel fundamental na defesa da fronteira portuguesa. É possível ter uma vista panorâmica do alto de suas muralhas. Não à toa, José Saramago escreveu no livro “Viagem a Portugal”: “De Marvão vê-se a terra toda”. Dali, conseguimos apreciar amplos campos, o Alto Alentejo, além da vizinha Espanha, que fica apenas a treze quilômetros da vila. Impossível não se deixar seduzir. 

Festas populares 

Antes de deixar o castelo, não esqueça de visitar a antiga cisterna. É considerada uma das maiores de Portugal. Se acreditava que, em caso de isolamento por conta de ataque inimigo, o reservatório permitiria o fornecimento de água à vila por seis meses.

O lugar fica ainda mais interessante quando recebe o Festival Internacional de Música. Idealizado pelo maestro alemão Christoph Poppen, o evento é anual. A próxima edição está marcada para julho de 2025, entre os dias 18 e 27. 

Por falar em festival, todos os anos, na primeira quinzena de novembro, é realizada a Feira da Castanha, também chamada de Festa do Castanheiro. O objetivo é celebrar as tradições de Marvão e, claro, a castanha, que serve de base para diversos produtos, como pães, compotas, cerveja, queijo e gin.

Em dois dias de festa, bebem-se mais de 1 mil litros de vinho e se consomem quatro toneladas de castanha. Não faltam danças, músicas alentejanas, artes circenses e espetáculos. Marvão tem um microclima propício ao cultivo da castanha, que tem a sua denominação de origem protegida. 

Marvão é uma viagem aos tempos vedievais. Crédito: Divulgação

Com poucas ruas e apenas 390 habitantes, Marvão é uma vila para relaxar e ter uma verdadeira aula de história. Ah, e sair da aldeia sem um souvenir é quase um pecado. Na única mercearia da aldeia, o turista pode comprar vinhos regionais, cervejas artesanais, licores, mel, bolos, pães e rebuçados de ovo. Também artesanato em cerâmica e sabonetes feito com leite de burra. 

Fora da vila amuralhada, a apenas dez minutos de carro, outro lugar interessante para incluir no roteiro é o complexo arqueológico de Ammaia. Suas ruínas são um monumento nacional desde 1949, e comprovam que a ocupação humana da região datam de pelo menos 5 mil anos atrás.

Reza a lenda que a cidade foi engolida pela terra, após um terremoto. E estando na região, visite a Praia Fluvial da Portagem. As águas do Rio Sever passam pela ponte romana e, mesmo que seja outono ou inverno, vale tirar fotos.    

Rota do contrabando 

Marvão também respira aventura. Situada no Parque Natural da Serra de São Mamede, o turista pode aproveitar diversas experiências, entre elas canoagem, stand up paddle, caiaque, escalada, caminhadas e passeios de jipe, passeios oferecidos por diversas agências.

Mas nada chama mais atenção do que a Rota do Contrabando do Café. Ao longo de seis quilômetros, percorre-se o caminho que os contrabandistas faziam na época da ditadura do Estado Novo. A rota começava na aldeia de Galegos, pertinho de Marvão, seguia pelo Monte de Baixo, e na chegada a Pitaranha é possível avistar o povoado espanhol La Fontañera, onde acontecia a venda e troca de mercadoria.

Originalmente com dez quilômetros (a rede de percursos de natureza da região encurtou o caminho para a realização da trilha), a antiga rota era frequentada por homens e mulheres que levavam até sessenta quilos de café nas costas, quase todas as noites, até a Espanha.

A caminhada, em breu total, durava até o amanhecer. Do país vizinho, traziam-se dinheiro e vários tipos de produtos, posteriormente vendidos nas aldeias.  

O contrabando ocorria porque, durante a ditadura, o café produzido em Portugal não podia sair para a Espanha. Quem o fizesse seria preso. Mas para quem vivia da venda do grão, a proibição era um problema e produtores descobriram uma maneira de chegar ao país vizinho.

Marvão é uma viagem aos tempos vedievais. Crédito: Nelson Carvalheiro

É possível fazer a trilha desacompanhado, mas se recomenda o auxílio de guia. Anualmente, a Câmara de Marvão realiza uma caminhada na companhia de profissionais que relembram a história durante o percurso. 

Sendo aventureiro ou não, sugiro que finalize a sua viagem em Galegos. A aldeia, atualmente com apenas três habitantes, conta com um antigo Lagar de Azeite. Faça uma viagem pela história da família Nunes, responsável pela fábrica, e do azeite artesanal Castelo de Marvão. A visita inclui degustação e há opções de experiências com petiscos.  

Como chegar 

A melhor maneira de chegar a Marvão é de carro, pela A6 e E802. A vila está a 238 quilômetros de Lisboa e trezentos quilômetros do Porto. Há ônibus da Rede Expressos que saem de Lisboa e vão até a vila. No entanto, existe apenas um horário por dia. A viagem dura cerca de quatro horas e meia. 

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