Cerca de 1,7 milhão de indígenas vivem no Brasil e representam 0,83% da população total do país. Em 2010, esse número era de cerca de 900 mil, ou 0,47% do total de residentes no território nacional, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE.
Esse aumento reflete mudanças metodológicas nos censos, mas, sobretudo, a crescente visibilidade representativa nas mais diversas áreas públicas, da tevê às passarelas da semana da moda em São Paulo.
Na política, não foi diferente. Em 2024, foram 2,5 mil candidaturas indígenas a cargos eletivos —332 a mais do que em 2020, a eleição municipal anterior.
A consequência do aumento de candidaturas foi o crescimento do número de eleitos. Foram nove prefeitos e 241 vereadores (os legisladores locais), um recorde. O avanço da representatividade indígena na política não ocorreu sem a garantia de direitos políticos acompanhado pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE.
Entre os pontos apontados positivos na política afirmativa estão o acesso proporcional ao Fundo Partidário —verba pública destinada à manutenção dos partidos políticos— e ao tempo de propaganda eleitoral na tevê e no rádio.
Nas eleições de 2020, foram eleitos para prefeito oito indígenas; em 2016, seis. Para as câmaras municipais, os o número de vereadores passou de 168 em 2016 para 181 em 2020, e, agora, para 241 em 2024.
Entre os eleitos para as prefeituras brasileiras está Jair Xakriabá, do partido Republicanos, em seu segundo mandato de prefeito pela cidade de São João das Missões, em Minas Gerais.
Para ele, sua posição é um marco pela origem indígena e pelo simbolismo de levar a identidade e os valores de sua etnia para o cenário público.
“Meu grande desafio foi mostrar que dentro da política é possível fazer muito pela sociedade e que essas ações têm que ser compartilhadas”, disse à BRASIL JÁ.
Para ele, é importante a presença indígena nas instâncias de poder, destacando a capacidade dos povos indígenas de contribuir para um país mais justo e plural.
“A gente precisa ainda avançar muito na política brasileira, fazer com que a sociedade reconheça que a população indígena também deve ocupar esse espaço que é de direito e construir uma política participativa de representação indígena e não indígena.”
Já em Manga, também em Minas Gerais, cidade em que indígenas são apenas 0,94% do eleitorado —a maioria, 61%, se autodeclara parda—, venceu o único candidato indígena na disputa, Anastacio Guedes, do PT, também da etnia Xakriabá.
Em seu terceiro mandato, ele diz que os votos a seu favor reforçam a representatividade em seu município.
“Fortalece as lideranças locais para que ocupem esses espaços", afirma.
“O lugar de protagonismo que ocupo é uma exceção”
Também entre os nove eleitos para prefeito, ou prefeita, neste caso, a única mulher: Ellys Oliveira, do PSD. Conhecida como Ninha, de 43 anos, ela vai chefiar o Executivo da cidade de Marcação, no Pará, com 4 922 votos —a maior votação já recebida por um político na cidade.
Ninha celebra a conquista do espaço citando a longa trajetória das mulheres até começarem a ocupar protagonismo.
“Muitas vezes somos subestimadas, inferiorizadas, temos nossa capacidade intelectual sendo posta à prova", disse, acrescentando ter escolhido entrar para a política para ajudar indígenas e mulheres a ocupar os espaços de poder.
“Eu, como mulher indígena, tenho plena consciência de que o lugar de protagonismo que ocupo hoje é uma exceção em um mundo onde o patriarcado ainda é tão forte.”
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