Movimento de passageiros no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Galeão (Arquivo). Crédito: Fernando Frazão, Agência Brasil

Movimento de passageiros no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Galeão (Arquivo). Crédito: Fernando Frazão, Agência Brasil

Preço da passagem aérea para o Brasil atrapalha turismo no país

Presidente da Embratur, Marcelo Freixo explicou o que tem feito para tentar baratear bilhetes

01/03/2024 às 18:47

A ampliação da frequência, e, principalmente, a redução dos preços de voos entre Brasil e Portugal foram temas de entrevista da BRASIL JÁ com o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, que esteve nesta quinta (29) em Lisboa com a missão de promover o turismo brasileiro. 

O ex-parlamentar pelo Rio de Janeiro foi à Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), evento do setor que vai até domingo (3), na Feira Internacional de Lisboa (FIL). 

Fora a melhora do fluxo aéreo entre os países, com preços mais acessíveis, conversamos também sobre o retorno de investimentos do governo federal na Embratur. 

Em Portugal, o turismo representa 18% do Produto Interno Bruto (PIB) —no Brasil, são 8%, que Freixo espera subir para 10% ao fim de sua gestão.

É nesse contexto que, segundo presidente da Embratur, aumentar a malha aérea brasileira e priorizar os acordos com as companhias são medidas que ele considera importantes para reduzir valores das passagens, fator que ele reconhece ser um impasse para o aumento de turistas no Brasil. 

“A TAP [companhia aérea portuguesa], por exemplo, anunciou nesta quarta, que a prioridade é mais voos para o Brasil. Hoje, a companhia portuguesa cobre onze estados brasileiros e todas as regiões são atendidas. É uma malha importante que não traz só portugueses ao Brasil, mas à Europa de maneira geral”, disse Freixo.

Brasil, o principal mercado

Hoje, o Brasil é o principal mercado da TAP fora de Portugal. Carlos Antunes, diretor da companhia para a América Latina, já havia confirmado à BRASIL JÁ um aumento total de 20% nas rotas entre os dois países. 

Nos últimos meses, foi realizado pela empresa aérea um planejamento de médio a longo prazo e um de médio e curto prazo. 

A partir daí, verificou-se uma continuidade na demanda pelos destinos brasileiros, permitindo, por exemplo, um aumento semanal de mais dois voos para Fortaleza (CE), passando de sete para nove, além de Recife (PE), que vai de dez para treze deslocamentos. 

“Saímos de 80 para 91 voos, mas agora decidimos aumentar ainda mais, estendendo para 96 voos”, explicou Antunes.

Discurso anti-imigração

Marcelo Freixo também fez comentários sobre o recrudescimento do discurso anti-imigração e da xenofobia contra brasileiros em Portugal. 

“A gente quer um mundo cada vez mais receptivo e mais capaz de acolher pessoas de outros países porque a gente vive o mundo que tende a ser cada vez mais integrado”, afirmou. No próximo dia 10 de março, os portugueses voltam às urnas para eleger um novo governo. 

“A gente espera sempre que os países que passam por eleições democráticas, que é o mais importante, tenham responsabilidade com a própria democracia e com os rumos das relações internacionais”, completou.

Confira abaixo perguntas e respostas da entrevista com o presidente da Embratur.

No ano passado, o senhor declarou que se o governo não tomasse medidas para investir a sério na Embratur, a agência corria o risco de fechar as portas. Nesta terça (27), o presidente Lula aprovou a MP de número 1.207, que autoriza órgãos e entidades da administração pública a contratarem os serviços da agência sem ter que passar por processos de licitação. Além dessa aprovação, quais vitórias vocês já conseguiram até o momento para fortalecer o trabalho da Embratur?

Marcelo Freixo - De lá pra cá, tivemos algumas vitórias, né? A gente conseguiu aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) com 200 milhões de orçamento, e isso também foi uma conquista importante dentro do governo. Também conseguimos 1% da arrecadação dos Bets (apostas esportivas) que não sabemos o que significa porque ainda não há a valorização dessa cobrança. Nós também temos o contrato com o Sebrae. O quadro que nós tínhamos em 2023 era preocupante. 

Não está 100% resolvido, mas está muito encaminhado. A aprovação dessa MP é extremamente importante, pois possibilita a contratação direta da Embratur por estados e municípios. Então, se o governador do Maranhão quiser promover os lençóis maranhenses no mercado norte-americano, por exemplo, ele pode contratar a Embratur que tem expertise para fazer com que se chegue a esse acordo. Então, a MP é muito importante porque viabiliza um fluxo capaz de monitorar a Embratur.

Um dos maiores impasses para o turismo no Brasil está relacionado com os valores das passagens aéreas. Hoje, sair de Lisboa para Istambul é mais barato do que ir ao Rio de Janeiro. A Embratur pode auxiliar de alguma forma nessa questão?

Passagem comprada com antecedência sai mais barata, mas a gente concorda que o grande desafio é ampliar a malha aérea. O Brasil não é um país que você chega de trem como toda a possibilidade que existe de deslocamento dentro da Europa. A malha aérea é muito decisiva para o Brasil, tanto para o mercado norte-americano como para o europeu e o sulamericano também. A gente tem trabalhado isso intensamente. 

Nós temos uma Embratur que é técnica, que possui um setor só de modal, que trabalha o tempo inteiro com uma análise de voos. Nós sabemos quantos voos estão vindo para o Brasil, para qual país o Brasil está emitindo mais turista, qual o perfil desse turista, qual o perfil desse mercado… 

A gente tem um centro de inteligência e dados que nos permite uma promoção com maior qualificação, maior qualidade e eficiência da nossa divulgação do Brasil como destino. Acho que esse é um ponto importante. Nós estamos trabalhando muito com as companhias aéreas.

Presidente da Embratur, Marcelo Freixo (Arquivo). Crédito: Valter Campanato, Agência Brasil

Com quais companhias? Pode dar um exemplo a respeito desse trabalho que está sendo desenvolvido?

A gente tem trabalhado com a Sky [Airline], com a TAP, com a ampliação da LATAM, com a Azul… A Sky, por exemplo, vai ter agora um voo do Chile com destino novo para o Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte. A Azul tem a possibilidade de voo do Porto, em Portugal, para Recife, Pernambuco. São novas rotas e esse é o nosso horizonte de negociação com as companhias. Ontem [28 de fevereiro], assinamos um acordo muito importante com a TAP de troca e transferência de dados, promoção de destinos e possibilidade de ampliação de voos. 

Nós não temos como decretar uma redução no valor das passagens, pois isso passa pelo preço do combustível, da oferta e demanda, das melhores condições de destino… O que está ao nosso alcance, a gente faz. Agora, são empresas privadas que a gente não tem como determinar preço. A TAP, por exemplo, anunciou que a prioridade é mais voos para o Brasil. Hoje, a companhia portuguesa, e eu falo isso por conta da Europa, que é o assunto da gente neste momento, cobre onze estados brasileiros, todas as regiões são atendidas. É uma malha importante que não traz só portugueses ao Brasil, mas à Europa de maneira geral. 

Franceses, por exemplo?

A França é o país que mais manda turistas para o Brasil, mas a Itália provém muito italiano ao nosso país pela TAP, principalmente para a região do Nordeste. Ontem eles anunciaram que vão ter 96 voos semanais para o Brasil já neste verão europeu. O que nos cabe é essa ampliação de malha. E torcer para que haja redução de imposto de combustível e uma quantidade maior de demanda para que esses preços caiam. A passagem não está cara só para o Brasil, ela está cara para vários lugares, mas a gente sabe que, hoje, a grande dificuldade que temos para aumentar o número de turistas está no valor da passagem aérea.

Como está o andamento da construção do museu de Valongo no Rio de Janeiro?

A gente acompanha indiretamente, mas esse não é um investimento nosso, mas do BNDES com o Ministério da Igualdade Racial. Para nós, é muito importante porque é um polo de afro-turismo e esse é um tema que a gente tem trabalhado muito. A gente já trabalhou muito em Salvador. A capital da Bahia ganhou um prêmio na Feira de Madrid pelo destaque e pela criatividade no afro-turismo. O Rio de Janeiro é um centro muito relevante do afro-turismo, mas quem tem mais informações sobre o museu em si é mesmo o BNDES.

Hoje, a comunidade brasileira em Portugal é muito grande, representando entre 6% a 8% da população do país. Entretanto, com a ascensão da extrema-direita aqui e por toda a Europa, os índices de xenofobia e preconceito contra imigrantes vem aumentando. Você acredita que a Embratur possa exercer algum tipo de papel relativo a essa questão?

A Embratur é a empresa brasileira responsável pela promoção do Brasil no exterior. Essa é a função da Embratur. A gente trabalha com a imagem do Brasil aqui fora. Quando o presidente Lula assume o  governo no início de 2023 e nos coloca na Embratur, a gente se preocupa com a política internacional no sentido de melhorar o diálogo do governo brasileiro com outros países. O Lula priorizou a política internacional no seu primeiro ano de administração e fez várias viagens. Nós viemos juntos para a cimeira aqui em Portugal e assinamos tratados de acordos com o governo português como, por exemplo, no setor de inovação, no setor de rota literária, de incentivo a startups brasileiras… 

A nossa relação com o governo português é excelente. Nós temos uma questão cultural forte. O número de brasileiros vivendo aqui é muito grande, mas a xenofobia não é bem vista por nós em nenhum lugar, né? A gente quer um mundo cada vez mais receptivo e mais capaz de acolher pessoas de outros países porque a gente vive o mundo que tende a ser cada vez mais integrado. Hoje, o turismo em Portugal representa 18% do PIB. Fica difícil o país imaginar a sua vida sem a força econômica que o turismo tem. Mas, o que nos cabe é uma relação de respeito à autonomia do governo, assim como eles respeitam a nossa, sempre com muita integração entre as duas pastas. 

Estamos próximos de uma eleição para compor o novo governo em Portugal e a pauta anti-imigração tem sido constante entre alguns candidatos da direita e da extrema-direita. Caso haja uma vitória dessa ala, você acredita que isso possa atrapalhar de alguma forma essa boa relação entre os países?

A gente espera que não. A gente espera sempre que os países que passam por eleições democráticas, que é o mais importante, tenham responsabilidade com a própria democracia e com os rumos das relações internacionais, mas não cabe a nenhum membro do governo brasileiro comentar decisões de um governo ou de outro. Não me cabe e não cabe a ninguém do governo brasileiro.

Tem que haver o diálogo com o governo português por parte do Ministério das Relações Exteriores. O que nos cabe é manter uma relação de receptivo positivo de um lado e de outro. As conversas com o governo português relativas às parcerias no turismo são excelentes. Inclusive, com a aprovação de startups brasileiras sendo desenvolvidas aqui. Nunca tivemos problema. Claro que nas moradias e nas questões entre os brasileiros que vivem aqui, há outras complexidades, mas cabe ao Itamaraty comentar sobre isso. Assim como eu não gostaria que alguém do Itamaraty falasse sobre o papel da Embratur, também não vou comentar sobre o papel deles. 

Últimas Postagens