Washington Quaquá

Cientista social, empresário e fundador do Partido dos Trabalhadores (PT)

Washington Quaquá

A maré de volta

Nós, brasileiros, chegamos com 500 anos de miscigenação e antropofagia tropical para ensinar nossos colonizadores.

24/01/2024 às 21:20 | 2 min de leitura
Washington Quaquá
Washington Quaquá

Cientista social, empresário e fundador do Partido dos Trabalhadores (PT)

Meu bisavô Roboão Cardoso, filho de Zé Mileu, era um pastor de ovelhas a trabalhar de sol a sol na região do Douro, na então Trás-os-Montes. Em 1913, no início do tumultuado século 20, provavelmente frustrado com o assassinato do rei e a implantação da República, o meu bisavô, um monarquista, pegou minha bisavó Maria, nascida em Paredes, também no Norte de Portugal, e veio para o Brasil “tentar a sorte”.

Nas mãos, os filhos; na mala, as saudades da “terrinha”. Era assim que os portugueses se referiam a Portugal. Passei a infância ouvindo meu avô Joaquim Cardoso, segundo filho já nascido no Brasil em 1917, falando, juntamente com minha mãe, Ione Cardoso Siqueira, e minha tia, Yvone Cardoso, da vida que meus bisavôs levavam em Portugal e a tratar também Portugal como nossa terra. Uma segunda pátria.

No Brasil, eles chegaram de navio na segunda classe e foram se instalar em Niterói, um município do Rio de Janeiro. Se instalaram em um final de linha de um bairro operário da zona norte (Teixeira de Freitas). Lá criaram todos os filhos, nascidos em Portugal e os nascidos no Brasil, vendendo tripa de porco no lombo de um cavalo.

Quando o meu bisavô morreu, pouco depois de minha avó, meu avô Joaquim se mudou com minha mãe, ainda criança, para a Favela do Caramujo, onde eu nasci.

Uma relação de penetração mútua. É essa nossa relação com Portugal. Noves fora as atrocidades históricas da escravidão e do colonialismo, que enriqueceram ambas as elites, os povos firmaram laços culturais, sociais, familiares e econômicos profundos. Temos um pouco de Portugal em nós e agora, cada vez mais, Portugal tem um pouco de Brasil em suas ruas, sua economia e em seu cotidiano. A maré que foi para o Brasil entre os séculos 16 e 19, agora traz o Brasil para Portugal no século 21. 

E assim acontece com Espanha, França, Itália e toda a Europa, que vê o movimento de migração chacoalhar suas aldeias, revolucionando os modos de ser, viver, fazer e se expressar.

Nós, brasileiros, chegamos com 500 anos de miscigenação e antropofagia tropical para ensinar nossos colonizadores. A dialética dos contrários produz a síntese natural da vida. Aprendemos isso desde cedo!

Chegou a hora das novas sínteses emergirem a partir de invenções democráticas e de uma nova relação econômica, social e cultural, numa dinâmica de valorização da natureza e respeito ao ambiente, juntamente com uma abordagem econômica que privilegie as pessoas e as famílias.

Esse deve ser o novo paradigma a unir as pessoas na busca por um mundo capaz de se tornar, a um só tempo, empreendedor e solidário!

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