Por favor, não me venham falar mais uma vez que o Brasil precisa jogar para o Neymar na próxima Copa do Mundo. Já perdi a conta de quantas vezes li ou ouvi tamanha barbaridade. Passou mesmo do (meu) limite.
Não estou querendo dizer com isso que a Seleção brasileira não precisa mais dele. Muita calma. Bem fisicamente e com foco total em 2026, ele ainda seria fundamental para um eventual sucesso na competição que vai ser realizada simultaneamente nos Estados Unidos, Canadá e México.
Acreditar que os outros jogadores deveriam correr e se entregar em função de um único jogador é totalmente inaceitável —um jogador, inclusive, que tem convivido com sérias lesões e fez somente sete jogos oficiais nas duas últimas temporadas.
Mesmo que Neymar estivesse no seu auge físico, técnico e mental, a estratégia compartilhada com frequência nas últimas semanas, ora por torcedores, ora por jornalistas, seria bastante arriscada rumo ao hexacampeonato mundial, sobretudo num momento do futebol em que o êxito passa muito mais por questões coletivas.
Hoje, mais do que nunca, o profissionalmente impera, seja dentro ou fora das quatro linhas. Há pouco —ou quase nenhum— espaço para privilégios e privilegiados. Muito menos para egos preocupados essencialmente com o lado extracampo.
Não, o Brasil não jogou pelo Pelé no primeiro título em 1958. O maior de todos os tempos. Ainda com 17 anos, ele começou a Copa na Suécia na reserva. Passou a titular somente no terceiro jogo, na vitória por 2 a 0 em cima da União Soviética. Sobressaiu-se. Dominou tudo e todos. Porém, contou com o brilhantismo de Garrincha, Zito, Didi, Vavá, Zagallo e companhia.
Machucado logo na segunda partida da Copa de 1962, Pelé viu Garrincha puxar para si a responsabilidade pelo bicampeonato. Foi exatamente isso. Mas o anjo-das-pernas-tortas, por mais decisivo que tenha sido no Chile, voltou a contar com os coadjuvantes de luxo de outrora: Zito, Didi, Vavá e Zagallo. Amarildo, ausente 4 anos antes, foi outro nome importante.
Em 1970, o já intitulado Rei do Futebol deitou e rolou no México. Tudo isso também porque participou de um ataque de peso, com Rivellino, Jairzinho e Tostão —sem falar nos outros craques muito bem conduzidos por Zagallo, entre eles Carlos Alberto Torres, Gerson e Clodoaldo. Ninguém ganhou o tricampeonato sozinho.
A busca pelo tetracampeonato infelizmente ruiu em 1982. Teria sido muito merecido, mas não aconteceu na Espanha. Júnior, Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico bem tentaram. Encantaram. Entretanto, caíram diante da Itália. Prevaleceu a estrela individual de Paolo Rossi, diante de uma constelação que ficou na história como a maior seleção de todos os tempos.
Chegamos, então, a 1994. Aqui, talvez, a ideia do "jogar por ele" até possa ser encarada como uma quase verdade. Romário carregou o piano nas costas no tetracampeonato nos Estados Unidos. Ponto. Mas alguém acredita mesmo naquela conquista inesperada se não houvesse o gigante Taffarel, o líder Dunga e o companheiro dos sonhos Bebeto? Pois é.
Por fim, a maior mentira de todas: o Brasil entrou em campo na Copa de 2002 em função exclusivamente de Ronaldo. O Fenômeno era, sim, o grande nome do time de Felipão. Também era a maior incógnita, uma vez que estava voltando de uma lesão complicada no joelho.
O camisa 9 se superou na Coreia e no Japão. Foi lindo ver. Digno de um romance best-seller. Para muitos, no entanto, Rivaldo acabou por ser o grande destaque do pentacampeonato, tendo ainda uma ajudinha de Marcos, Cafu, Roberto Carlos e Ronaldinho Gaúcho.
Todos os cinco títulos mundiais da seleção brasileira tiveram um expoente máximo: Pelé, Garrincha, Pelé novamente, Romário e Ronaldo, respectivamente. Histórias individuais maravilhosas. Concordo. Mas ganhou, sobretudo, o sucesso coletivo. O companheirismo. Predominou a célebre frase escrita por Alexandre Dumas em "Os Três Mosqueteiros": um por todos e todos por um.