Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (esquerda) e primeiro-ministro Luís Montenegro. Crédito: Stefani Costa, BRASIL JÁ

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (esquerda) e primeiro-ministro Luís Montenegro. Crédito: Stefani Costa, BRASIL JÁ

Montenegro, Zelensky e o apelo aos países de língua portuguesa por apoio à Ucrânia

Primeiro-ministro disse que está trabalhando junto aos países da CPLP para que enviem representantes à conferência que discutirá, na Suíça, um possível cessar-fogo na região

29/05/2024 às 15:16

Durante a visita de Volodymyr Zelensky a Portugal nesta terça (28), o primeiro-ministro Luís Montenegro atendeu ao apelo do presidente ucraniano ao afirmar estar engajado em atrair mais países ao encontro que discutirá, na Suíça, um possível cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia. 

Segundo o chanceler português, é fundamental que isso aconteça para que o apoio à Ucrânia não fique apenas na retórica. 

Ao ser questionado sobre o papel do Brasil neste acordo, Montenegro revelou que está trabalhando junto aos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para que enviem representantes a Burgenstock (Suíça) nos próximos dias 15 e 16 de junho. 

O Itamaraty reiterou que Lula não participará de um evento que se propõe a discutir a paz sem que o outro lado esteja presente —os russos não foram convidados. 

Além disso, o presidente da Ucrânia também não esclareceu se as propostas de Brasil e China para um acordo de paz serão discutidas durante a conferência. O governo chinês também informou que não pretende enviar representantes.

Para o líder ucraniano, a possibilidade de convidar a Rússia é inexistente, pois, segundo ele, Moscou tem como objetivo apenas “destruir os direitos humanos” atacando os valores europeus e tentando cancelar todos os acordos do direito humanitário previstos no estatuto da ONU (Organização das Nações Unidas).

“O que pudermos fazer com esses países para ajudar a mobilizar apoio à Ucrânia, faremos”, afirmou. O primeiro-ministro também disse que o apoio “não se esgota apenas em dinheiro, mas em ajuda humanitária e política”.  

Durante a coletiva de imprensa, Luís Montenegro voltou a afirmar que Portugal dará todo o suporte à Ucrânia “pelo tempo que for necessário” e que esse apoio também será destinado à ajuda humanitária e à reconstrução da Ucrânia, garantindo “a liberdade, os direitos humanos e a democracia para o povo ucraniano”.

Disputa por apoio na CPLP

Embora Portugal exerça forte influência sobre os países da CPLP, é a Rússia que vem atuando em território africano através do apoio financeiro e militar em muitos países que são ex-colônias portuguesas.

Além disso, Portugal parece estar cada vez mais distante dos países da CPLP. 

Mesmo registrando o maior número de trocas comerciais com a comunidade desde 2000, os dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) indicam que os 8,8 bilhões de euros em 2022 representaram apenas 4,7% do volume global de exportações e importações com os países do grupo —ficando atrás dos 8% registrados no final de 2013. 

Formada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, os nove países da CPLP representam, juntos, um PIB (Produto Interno Bruto) de 2,3 trilhões de dólares, o maior deles o brasileiro.

Adesão à UE e Otan

Volodymyr Zelensky foi recebido no Palácio de São Bento, residência oficial do primeiro-ministro, por volta das 15h45 (11h45 no horário de Brasília) sob um forte esquema de segurança envolvendo atiradores de elite e helicópteros da Força Aérea portuguesa. 

Durante a reunião de aproximadamente uma hora, foi celebrado um acordo de cooperação militar de 126 milhões de euros (cerca de 720 milhões de reais) válido por dez anos, e com possibilidade de ser renovado. 

Desse valor, 100 milhões já haviam sido garantidos pelo governo anterior. Entre os principais pontos do tratado, estão a compra de equipamentos militares e a disponibilidade em oferecer treinamento técnico aos pilotos dos caças F-16 cedidos por Portugal a Kiev.

Durante a coletiva de imprensa, Luís Montenegro voltou a afirmar que Portugal dará o suporte necessários à Ucrânia “pelo tempo que for necessário” e que essa ajuda também será destinada à ajuda humanitária e à reconstrução da Ucrânia, garantindo “a liberdade, os direitos humanos e a democracia para o povo ucraniano”. 

O chanceler português também adiantou que as negociações para a adesão da Ucrânia à União Europeia e à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) devem começar a partir de junho. “Estamos dando suporte à Ucrânia desde que o seu território foi invadido pelos russos de forma inaceitável”, disse.

Entretanto, o primeiro-ministro não foi questionado sobre as garantias de Kiev em não utilizar armas de fabricação nacional para atacar civis, algo que tem sido constante, principalmente na região do Donbass, localizada no leste ucraniano.

A reportagem da BRASIL JÁ esteve em Donetsk e testemunhou o bombardeio de hospitais, transportes públicos, escolas e zonas residências com obuses produzidos e cedidos ao exército ucraniano pelos países da Otan, no qual Portugal também é membro.

CIVIS: O outro lado da guerra

"Estamos dando todo o suporte à Ucrânia desde que o seu território foi invadido pelos russos de forma ilegal e inaceitável", afirmou Montenegro. 

Entretanto, o conflito na região não se iniciou em 2022, apenas se intensifica. Antes da invasão russa, foram 14 mil mortes desde 2014, período em que os estados do leste tentavam negociar suas autonomias como previa o Acordo de Minsk.

Hoje, a comunidade ucraniana é a segunda maior em Portugal, ficando atrás apenas da brasileira. Desde fevereiro de 2022, o país recebeu mais de 60 mil pedidos de asilo vindos de ucranianos que fugiram da guerra. 

Segundo Montenegro, foram atendidas cerca de 50 mil dessas solicitações. "Estamos falando do segundo maior grupo de estrangeiros vivendo em Portugal em harmonia e integrado ao país", disse. 

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