No mesmo dia em que disparou ofensas racistas contra os filhos de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso e mais pessoas numa praia da Costa de Caparica, Maria Adélia de Barros, que em setembro irá a julgamento pelos crimes, também evocou a figura de Antônio Salazar, o ditador português.
A menção ao tirano que comandou Portugal entre 1932 e 1968 —figura frequentemente lembrada por extremistas de direita saudosistas do regime— se deu na tarde daquele dia 30 de julho de 2022, há exatos dois anos.
As informações abaixo estão na denúncia do Ministério Público contra Adélia de Barros, obtida pela BRASIL JÁ.
Já passavam das 18 horas daquele dia quando Maria Adélia, atualmente com 59 anos, berrou insultos racistas aos filhos de Ewbank e Gagliasso na areia da praia de São João, na Costa da Caparica, e perseguiu as crianças até o Clássico Beach Club, restaurante onde estava a família.
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Inicialmente, funcionários tentaram impedir que a mulher entrasse no estabelecimento, mas Maria Adélia entrou para o restaurante do local.
Uma atendente foi a primeira a abordar a mulher e pedir que ela deixasse o espaço, mas, sempre segundo a acusação do MP, Maria Adélia se negou. Foi então que a polícia foi acionada para uma ocorrência com uma "senhora alcoolizada".
Agentes do posto da Guarda Nacional Republicana foram até local.
Na presença dos guardas, a mulher, que já havia atacado as crianças na areia, passou a insultar funcionários brasileiros e clientes angolanos que estavam no local:
"Filha da puta, vai para a tua terra! Estamos em Portugal, não queremos cá levar com estes brasileiros filhos da puta. Vocês não são portugueses! Voltem para o Brasil! Voltem para a África! Saiam daqui! Viva Portugal!", esbravejou.
Diante da situação, um dos guardas pediu que a mulher o acompanhasse para fora do estabelecimento. Sem ter como ignorar o guarda (tal qual fez com a funcionária do local), dessa vez, Maria Adélia assentiu.
Imagens feitas no dia mostram que Maria Adélia precisou ser tomada pelo braço para deixar o restaurante.
Já fora do espaço, segundo o MP, o mesmo agente deu ordem para que Maria Adélia de Barros se identificasse apresentando alguma documentação.
No entanto, narra o MP, a mulher mentiu dizendo que havia deixado os pertences no carro estacionado em outro local da mesma praia.
Os guardas insistiram e a mulher foi conduzida na viatura da polícia até o estacionamento onde supostamente havia deixado os documentos.
Dentro do carro da corporação, Maria Adélia escolheu novos alvos, passando a ofender também os policiais e cuspindo na direção deles: "Filhos da puta. Vocês não são polícias, não são nada".
Com Adélia de Barros sob escolta, os policiais não encontraram o carro da mulher e novamente cobraram dela uma identificação.
Segundo o MP, foi só então que ela abriu uma mala que carregava e apresentou os documentos. Outros dois policiais continuaram a busca pelo carro da mulher, enquanto ela seguia sob custódia de um agente.
A este policial, Adélia de Barros voltou a descarregar ofensas, chegando a acusá-lo de usar de drogas. "Andas a cheirar branca [cocaína], filho da puta. És um filho da puta. São corruptos. Vou acabar com a vossa profissão", ameaçou a mulher.
Foi a gota d'água para o policial, que deu voz de prisão à mulher.
Maria Adélia de Barros acabou algemada e reconduzida para dentro da viatura, sob mais protestos e xingamentos ao policial. "Filho da puta, cabrão", seguiu a mulher. Dali, o destino dela era o posto da GNR da Trafaria, a 2,8 quilômetros do restaurante onde ocorreram os insultos racistas.
Foi dentro do posto que, segundo a denúncia, Adélia de Barros evocou a figura de Salazar, enquanto seguiu com as ofensas aos policiais. Não se especifica no documento do MP de que forma se dava a exaltação ao ditador.
Ao detalhar o momento em que Adélia de Barros cita Salazar, é usado o verbo "invocar".
"Enquanto permaneceu no referido posto, a arguida [Maria Adélia de Barros] continuou a gritar e a dirigir aos militares da GNR a expressão filho da puta, ao mesmo tempo [em] que invocava Salazar."
Para o MP, afora as ofensas e insultos racistas contra os filhos de Ewbank e Gagliasso e demais pessoas no restaurante, Maria Adélia também agiu com o intuito de atingir a honra dos policiais.
"Agiu a arguida Maria Adélia de Barros de forma livre, deliberada e consciente, sabendo serem as suas condutas proibidas e punidas por lei", afirmou o MP.
A BRASIL JÁ tentou sem sucesso contato por email e por telefone com a defesa de Maria Adélia de Barros. Este espaço permanecerá aberto e a reportagem será atualizada com eventual posicionamento.