Presidente da Câmara de Comércio Luso-Brasileira, Otacílio Soares. Crédito: Reprodução

Presidente da Câmara de Comércio Luso-Brasileira, Otacílio Soares. Crédito: Reprodução

'Brasil e Portugal mais competitivos', diz presidente da Câmara Luso-Brasileira sobre acordo Mercosul-UE

Otacílio Soares avalia que tratado de livre comércio é oportunidade de mão dupla para empresas brasileiras e portuguesas

09/12/2024 às 15:50 | 5 min de leitura
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Para o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, Otacílio Soares, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia abre novos caminhos para companhias no Brasil e em Portugal. Foram 25 anos de negociações até que o pacto fosse por fim firmado, na sexta (6)

Em entrevista à BRASIL JÁ, o economista —na presidência da câmara desde 2023 e sócio de uma vinícola na região do Dão— afirmou por email que o tratado entre os blocos econômicos facilitará o fluxo entre os países e trará benefícios econômicos a ambas as nações, estreitando as relações comerciais.

Soares também acredita que, nesse contexto, o Brasil será um dos principais players do planeta, sendo menos dependente dos mercados norte-americano e chinês. Além disso, o economista afirma que Portugal "capitaliza muito" ao se firmar como a maior porta de entrada do Mercosul na Europa.

Confira a entrevista completa com o presidente da Câmara Luso-Brasileira, Otacílio Soares 

Quais setores econômicos no Brasil e em Portugal devem ser mais beneficiados com o acordo, e por quê?

No Brasil, setores como agronegócio, manufatura e tecnologia serão bastante beneficiados, especialmente com a abertura do mercado europeu. Desde produtos como carnes, grãos, frutas e açúcar, que se tornarão mais competitivos com a redução de impostos, bens industrializados e serviços tecnológicos poderão aproveitar a diminuição de barreiras para crescer internacionalmente. 

Já em Portugal, vinhos, azeite, aquicultura, tecnologia e turismo terão um destaque absoluto, com uma crescente demanda no Mercosul por produtos premium e serviços de alto nível. Sua posição como “porta de entrada” para a Europa ganhará mais destaque, impulsionando investimentos em logística e atraindo empresas brasileiras, que desejam expandir para a Europa. 

É aqui que a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira entra, ajudando na ligação de empresas e no fomento a parcerias comerciais que extraiam o máximo dessas oportunidades.

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O que Brasil e Portugal ganham em termos de inserção global com o fortalecimento dessa parceria comercial?

O Brasil se fortalece como um dos principais players globais, diversificando suas relações de trabalho e menos dependente de mercados como os Estados Unidos e a China. O acesso ao mercado europeu, altamente exigente e regulado, torna o Brasil mais competitivo e melhora seu acesso a outros mercados igualmente desafiadores. 

Portugal aumenta sua importância no cenário global, emergindo como o principal hub entre Mercosul e a Europa. O forte relacionamento histórico e cultural é um diferencial significativo, facilitando o fluxo comercial e a atração das empresas brasileiras, que têm em Portugal uma base para as operações europeias.

Como a redução de tarifas pode impactar as cadeias produtivas nos dois países?

As reduções tarifárias também alteram os padrões das cadeias produtivas, tornando-as mais competitivas e dinâmicas. 

No Brasil, os menores custos de exportação promovem a modernização e o crescimento de setores decisivos, a exemplo do agronegócio e da indústria de transformação. Em relação a Portugal, o acesso a insumos mais baratos provenientes do Mercosul fortalecem a indústria agroalimentar. 

Ademais, a integração das cadeias produtivas viabiliza o compartilhamento de tecnologias e boas práticas, fomentando a inovação e o desenvolvimento econômico. Importante que as empresas dos dois países a se adequem às mudanças regulatórias e aproveitarem oportunidades colaborativas, fomentando uma integração mais completa e durável.

Qual o papel do agronegócio brasileiro nesse acordo, considerando as cotas estabelecidas para exportação de carne e outros produtos?

Uma das maiores beneficiárias do acordo é o agronegócio brasileiro, uma indústria de destaque no comércio com a União Europeia. Embora a cota para carne, açúcar e de etanol seja limitada, já há mais liberdade que havia até então em relação a um mercado normalmente fechado. 

A necessidade de acessar o mercado mais amplo é uma oportunidade para o Brasil economizar em marcas e ao mesmo tempo investir em práticas mais sustentáveis ​​que correspondem aos padrões europeus. 

Portanto, é possível solidificar a posição do Brasil no palco global como um fornecedor de produtos agrícolas de alta qualidade. Entidades como ApexBrasil e Aicep Portugal também podem beneficiar produtores brasileiros e portugueses por meio de seus contatos com um número de distribuidores e importadores de ambos países, bem como a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira. 

Portugal é uma entrada natural para os produtos do Mercosul no continente e é possível desenvolver uma rede aqui.

O acordo pode contribuir para uma modernização industrial ou maior acesso a tecnologia no Brasil?

Esse acordo é um grande catalisador para a modernização da indústria no Brasil, permitindo um maior acesso a equipamentos, tecnologias e práticas da indústria da Europa. Modernização é crucial na corrida competitiva da indústria brasileira e a capacidade de atender às demandas de um mercado cada vez mais maduro é afetada. 

Além disso, as empresas que recebem apoio e know-how europeu podem cooperar em pesquisa e desenvolvimento, o que ajuda a avançar uma série de indústrias, da agricultura de precisão às energias renováveis e à digitalização industrial. 

A Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira pode atuar como um facilitador desse desenvolvimento, conectando empresas brasileiras com oportunidades para parcerias tecnológicas em Portugal e na União Europeia.

Como as pequenas e médias empresas brasileiras podem se posicionar para aproveitar as oportunidades abertas pelo tratado?

A gestão das pequenas e médias empresas brasileiras pode abordar a criação de valor para explorar nichos de mercado, como alimentos orgânicos, bebidas artesanais e tecnologia sustentável. Nesse contexto, o investimento em adaptação aos padrões regulatórios europeus e qualificação dos produtos são cruciais. 

As entidades empresarias luso-brasileiras podem ser um aliados estratégicos nesse processo, fornecendo orientação, organizando reuniões de negócios e promovendo a conexão entre as PMEs e possíveis parceiros em Portugal e na União Europeia. 

Ao estabelecer um novo ponto de entrada em Portugal, as PMEs brasileiras poderiam se beneficiar das vantagens logísticas e culturais para expandir sua presença internacional.

De que maneira Portugal, como porta de entrada europeia, pode se beneficiar economicamente dessa aproximação com o Mercosul?

Portugal capitaliza muito ao se afirmar como a maior porta de entrada do Mercosul na Europa, tanto para produtos quanto para empresas. 

Esse status incentiva investimentos em logística, infraestrutura portuária e serviços e fortalece setores como o turismo de negócios e tecnologia.Importante promovermos eventos e parcerias que aumentam o fluxo comercial e tornam Portugal o hub natural para empresas do Brasil que buscam penetrar no mercado europeu. 

Em última análise, a estreitamento das relações com o Brasil impulsiona a economia portuguesa ao conduzir novos negócios e reafirmar a posição do país no mercado global.

O acordo traz oportunidades específicas para setores estratégicos portugueses, como vinho, azeite e turismo?

Sim, há perspectivas de crescimento para setores tradicionais como vinhos e azeites; com o Mercosul representando um mercado em expansão para produtos de qualidade. 

O turismo será favorecido de maneira direta, à medida que o fluxo de visitantes do Mercosul, particularmente do Brasil, aumentar, com os quais Portugal compartilha laços laços culturais e históricos. 

Há como aproximarmos mais as empresas portuguesas de compradores do Mercosul e apoiando iniciativas que aumentam a visibilidade de Portugal, tanto como destino onde é possível encontrar excelência quanto como um fornecedor confiável de produtos de grande qualidade.

Portugal tem forte relação histórica e cultural com o Brasil; isso pode ser um diferencial competitivo no contexto do acordo?

Claro. A relação histórica, cultural e linguística entre Portugal é um diferencial que facilita o diálogo e a confiança nas negociações comerciais. Este país se apresenta como um elo natural entre o Mercosul e a União Europeia e faz uso desta vantagem vizinhança para atrair empresas brasileiras e promover parcerias estratégicas. 

Assim, a CCILB é um dos atores mais significativos neste processo, visto que promove essa aproximação, neste caso, faz uso de sua expertise e da sua rede de contatos exclusiva para conectar empresários de ambos os lados do Oceano e aumentar a relevância econômica e cultural de ambos. 

Desta forma, Portugal se torna o parceiro insubstituível para o Mercosul neste acordo.

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