A diáspora, como é conhecido o fenômeno de saída em massa de pessoas de um país, tem implicações para o Brasil como nação. A emigração de tantos cidadãos talentosos e ambiciosos pode representar perdas. No entanto, também cria oportunidade para o país de origem, seja no retorno de gente qualificada e experiente, seja nas remessas de dinheiro dos emigrados para suas famílias, nos investimentos em empresas brasileiras ou até em algo menos palpável, como a promoção da cultura e da imagem do país no exterior.
Segundo o Banco Central do Brasil, entre 2020 e 2021, as remessas de brasileiros que residem fora cresceram 15,4% e chegaram a 5,52 bilhões de dólares (cerca de 29 bilhões de reais). Em matéria de envios de dinheiro do exterior para os seus países, destacam- -se brasileiros e portugueses.
Dados do BC mostram que nossos conterrâneos residentes em Portugal ocupam a segunda posição no ranking de remessas de divisas para o Brasil, atrás apenas dos que vivem nos Estados Unidos. Analogamente, dos portugueses que moram no exterior, o grupo que reside no Brasil ocupa a segunda posição em volume de dinheiro mandado para Portugal, perdendo também para os que vivem nos Estados Unidos.
O economista Paulo Dalla diz que “as remessas de brasileiros têm alguma significação para suas famílias, mas para a economia brasileira como um todo, isso não significa muito. Ao contrário do que representa o dinheiro enviado de lá para cá — "a dos portugueses para Portugal faz uma diferença significativa”.
A explicação é o tamanho do Produto Interno Bruno (o conjunto das riquezas) do Brasil e de Portugal. Enquanto o PIB português dá 266 bilhões de dólares ao ano, a do brasileiro é quase dez vezes maior, cerca de dois trilhões de dólares. Daí, a diferença de peso para as remessas de seus respectivos emigrantes.
Marina Andrade Cartaxo, mestre em direito constitucional e professora de direito constitucional da Universidade de Fortaleza, fez uma pesquisa sobre os impactos que essas remessas internacionais podem ter sobre o desenvolvimento das regiões brasileiras.
Segundo Cartaxo, a globalização e a falta de desenvolvimento atualmente são a grande causa das migrações dos países do Sul para os do Norte. Não é diferente no caso dos brasileiros. Como o número dos que residem e trabalham fora do Brasil se tornou significativo (4,59 milhões), a quantidade de dinheiro enviado de volta para os familiares que lá residem chama a atenção.
O fenômeno é global e se já tornou pauta na Organização das Nações Unidas. O assunto também é alvo de pesquisas conduzidas pelo Banco Mundial. No Brasil, a percepção da pesquisadora é que, apesar de não ser a única causa de desenvolvimento, não se pode negar o impacto regional que o envio de dinheiro causa no Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios das regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Outras regiões brasileiras que não recebem esses valores do exterior não têm o mesmo nível de desenvolvimento humano municipal, concluem os estudos de Cartaxo. Segundo a pesquisadora, as remessas tendem a gerar riquezas para além dos familiares, porque o dinheiro circula e impulsiona a economia local.
O trânsito dos dólares e euros dos emigrantes brasileiros chamou a atenção também do governo do Brasil. À BRASIL JÁ, o embaixador do país em Portugal, Raimundo Carreiro, afirmou que a administração do presidente Luís Inácio Lula da Silva vai ampliar sua presença em Portugal.
Inicialmente, será com a instalação de um local físico em Lisboa que se chamará Casa Brasil (não confundir com a Casa do Brasil de Lisboa, uma organização independente). O local vai reunir “órgãos voltados à promoção do comércio e das relações entre os dois países”.
Segundo Carreiro, o governo português dispôs de imóveis para a criação do centro. As negociações com o governo local, disse o embaixador, “estão bem encaminhadas”.
Está previsto para a Casa Brasil a congregação, num único espaço, de entidades como a Apex (agência de fomento à exportação do Brasil), o Sebrae, a Fiocruz e a Embratur, ao mesmo tempo que abrigará startups e incubadoras interessadas em operar em Portugal e, a partir daqui, no mercado europeu.
“Portugal tem todas as condições para ser o ponto de entrada para as empresas brasileiras que desejam se expandir para a Europa”, afirmou Carreiro.