Bruno Andrade

Jornalista e comentarista

Bruno Andrade

Meu indonésio favorito

"Ainda bem jovem, já tinha comigo a certeza de ser jornalista esportivo e, assim, cumprir uma promessa feita à minha falecida mãe."

13/02/2025 às 11:43 | 3 min de leitura | Vozes em Destaque

Kurniawan Dwi Yulianto era um craque desconhecido. Um meia-atacante indonésio de qualidade ímpar. Um verdadeiro achado no começo dos anos 2000, quando explodiu o inovador e mais impactante jogo de manager de futebol: Championship Manager. 

No auge da minha adolescência, entre 12 e 15 anos, dediquei boa parte das minhas horas vagas —e de sono desperdiçado— ao game que marcou toda uma vida. Foi a olhar para a tela de um computador que, no papel de treinador fictício, criei uma base de dados fundamental na minha formação. 

A descoberta de Kurniawan aconteceu pelas mãos do meu irmão mais velho. Leonardo, então com 16 anos, foi o primeiro a apostar, de fato, na contratação do jogador asiático. No arranque de qualquer competição, estava sempre livre no mercado de transferências. O famoso "negócio sem custos". 

Como irmão mais novo que se preze, resolvi seguir os passos do primogênito. Escolhia frequentemente o indonésio de nome peculiar para brilhar nos meus clubes. Foi a referência de Corinthians, Portuguesa, Parma, Brescia, Rayo Vallecano, Tenerife, Portsmouth, Derby County, Belenenses, Boavista, entre outros. Éramos unha e carne. 

É com riqueza de detalhes que me recordo de disputarmos com muita emoção e alguma animosidade a aquisição de Kurniawan, nas poucas vezes em que iniciávamos um jogo juntos. Levava a melhor no mundo virtual quem pontuasse mais numa espécie de quiz sobre futebol. 

Ainda bem jovem, já tinha comigo a certeza de ser jornalista esportivo e, assim, cumprir uma promessa feita à minha falecida mãe. Julgo que fiz por merecer. Foram anos de estudos, busca por relações e disponibilidade para aproveitar toda e qualquer brecha na profissão. 


Em meados de 2008, fui contratado como estagiário do diário Lance!, o maior jornal esportivo do Brasil. Comecei ali uma trajetória que passou por outros veículos de comunicação de peso e, sobretudo, contou com o atravessar do Oceano Atlântico atrás de um sonho.

Antes de pisar em Portugal, onde estou desde 2015, Kurniawan Dwi Yulianto voltou a cruzar o meu caminho. Não de forma literal, é claro. Conhecer a Indonésia até está nos meus planos, mas o contato existiu por meio de um inusitado intermediário.

Em novembro de 2010, decidi escrever um perfil do polêmico Carlos Alberto, revelado pelo Fluminense, campeão europeu pelo Porto e que teve passagens marcantes por Corinthians e Vasco.

As pesquisas me levaram a procurar vários companheiros que o problemático atacante teve no início de carreira. Entrevistei alguns, fui ignorado por outros tantos. Um deles, no entanto, despertou maior interesse: Zada

Aos 34 anos, o meia-atacante brasileiro jogava, na altura, no futebol indonésio. Dividia a liderança do PSMS Medan com uma figura emblemática do país. Era o capitão da equipe ao lado de um tal de Kurniawan. Como assim? Será? 

Sim, o Kurniawan dos meus tempos de adolescente desocupado era mesmo real. Sim, porque passei anos a acreditar que o personagem era fictício, daqueles feitos de qualquer jeito, única e exclusivamente para fazer número. 

Na reta final do bate-papo com Zada, tomei a liberdade de contar ao pormenor toda a minha ligação —e do meu irmão— com o nosso indonésio favorito. Fiquei maravilhado ao ouvir as diversas peripécias de um jogador que supus não existir. 

Mais perto do Natal, nos preparativos para viajar de São Paulo para Lorena, no interior paulista, eis que recebo uma encomenda misteriosa na redação do jornal. Não estava à espera de nada, sobretudo de origem tão distante: Indonésia. 

Era um presente surpresa de Leonardo Martins Dinelli, o Zada. O pacote todo amassado trazia consigo uma camisa oficial do PSMS Medan. Linda. Toda verde. Sem número. Com um "pequeno" detalhe: autografada por ele, Kurniawan, o próprio. 

Era o melhor dos (meus) dois mundos. Não pensei duas vezes e decidi oferecer dias depois, a 25 de dezembro, aquele item simbólico para o responsável por ter me apresentado o meu querido e inesquecível indonésio. 

Obrigado, Leonardo Andrade. Espero que esteja a cuidar bem dela até hoje, meu irmão. 

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