Moacyr Luz - Foto: Renato Velasco

Moacyr Luz - Foto: Renato Velasco

Moacyr Luz, o sambista trabalhador

Moa sobe ao palco nesta sexta, no Coliseu dos Recreios, a partir das 21h30

07/06/2024 às 08:54 | 3 min de leitura

Um dos fundadores do Samba do Trabalhador —tradicional roda de samba do Rio de Janeiro—, Moacyr Luz sobe este mês ao palco acompanhado de outros artistas para cantar sucessos conhecidos do grande público em Lisboa. 

Por ocasião do show, o cantor e compositor de 66 anos me atendeu numa manhã ensolarada no Rio de Janeiro, direto das areias da praia do Flamengo, onde costuma frequentar, por ser perto de sua casa. 

Moa (como é chamado pelos íntimos) estava comendo sardinha frita e tomando um gin para se refrescar no outono (disfarçado de verão) carioca.

Moacyr Luz - Foto: Jordan Alves

Fale um pouco sobre será o show Moa.

[Antes de responder, sentado numa cadeira de praia, ele dá um gole em seu drink com gin] 

Rapaz, graças a Deus, de uns tempos pra cá, eu tenho feito coisas mais frequentes em Portugal. Acabou de sair um disco meu com o Pierre Aderne “Mapa dos Rio” [o disco promove a interação entre Brasil e Portugal] e agora a Orquestra Bamba Social gravou um disco só com músicas minhas lá no Porto e já está no Spotify. 

Eu não paro, bicho. A ideia do show foi do Pierre Aderne. Ele sugeriu reunir os compositores que têm feito músicas para os intérpretes atualmente. Eu tô indo mais para o lado do Samba.

Vai rodar Portugal ou vai ser só no Coliseu?

A gente sonha que ele prossiga. Até porque é um show que dá trabalho. Ele é muito abrangente, então, ele pode agradar muita gente diferente, que gosta mais de um estilo ou de outro. O show é uma comunhão de violões que é a costura principal do show. Tenho me dedicado a esse instrumento. 

O violão tem uma história muito bonita na música. Não só do Brasil como no mundo. Tem o fado, tem o tango, tem a bossa nova, tem oscantos árabes, o flamenco... E tudo vai estar reunido em torno do violão.

Você já gravou com vários intérpretes que serão homenageados no show.

Eu já gravei música com Gilberto Gil. “Mico Preto”, por exemplo, era um tema de abertura da novela da TV Globo. É uma música minha com o Aldir Blanc. Bethânia já gravou quatro músicas minhas. Zeca Pagodinho já gravou cinco [canções] minhas e temos músicas juntos também. 

Maria Rita também já gravou música minha. Bastante gente aí dessa turma toda. Eu tenho atualmente trezentas músicas gravadas.

Como é que faz para conseguir fechar esse repertório?

Você sabe que tem algumas obras de arte que você tem que dizer: acabou! E termina ali, senão, você não para nunca. Para mixar discos, você pega a música e bota mais piano, tira o piano, bota mais voz, tira a voz. A gente escolhe a música, e ela se encaixa um pouco no roteiro. E pronto. 

Eu cantaria as minhas músicas recentes com o Zeca, mas tem a Maria Bethânia, tem “Saudade da Guanabara”, que a Bete Carvalho gravou. Eu acho que já escolhi minhas músicas...

Quais são as músicas?

“Medalha de São Jorge” [de Moacyr Luz e Aldir Blanc], “Saudade da Guanabara” [de Moacyr Luz, Paulo César Pinheiros e Aldir Blanc], “Vida da Minha Vida” [de Moacyr Luz] e “Toda Hora” [de Moacyr Luz e Toninho Geraes].

Neste momento, Moa mostra sua mesa na praia com uma porção de peixe frito e em seguida o céu azul do Rio de Janeiro e diz: “Olha só. Isso é que é vida. [O resto é] a gente é que complica. No Rio de Janeiro a gente pesca sardinha até no açougue. A sardinha é o peixe da maioria”.

Por falar em vida, vi uma entrevista recente sua em que você diz não ter medo de morrer.

Vou te contar uma coisa, bicho. Eu tô com 66 anos. Eu já fiz muita merda na minha vida, era pra ter morrido faz tempo. Então, eu já tô no lucro. Tô com uma doença delicada, mas estou levando a vida, fazendo show, viajando, gravando disco. 

Envolvido com escola de samba, com viagens. [Moacyr Luz trata a doença de Parkinson desde 2008 e no fim de 2022 descobriu um câncer de próstata curado com radioterapia].

E o segredo dessa alegria e disposição: é Fé, é o que você canta?

A minha música, né? Eu faço o que eu gosto, para mim isso não tem preço. Se eu tivesse que trabalhar numa repartição pública, eu acho que já tinha ido embora. Mas eu gosto do que eu faço. Eu passo noite e dia fazendo. Não tem hora.

O show

Ele sobe ao palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, neste 07 de junho, acompanhado de uma turma boa, como se diz no Rio de Janeiro. 

O show, marcado para às 21h30, conta com outros grandes músicos brasileiros como Pedro Luís, Pierre Aderne, Rodrigo Maranhão, Gabriel Moura e Edu Krieger. 

No repertório canções, compostas por eles, e eternizadas nas vozes de Seu Jorge, Martinho da Vila, Chico Buarque, António Zambujo, Maria Bethânia, Zeca Pagodinho, Milton Nascimento, Maria Rita, Roberta Sá, Adriana Coconhoto, Ney Mato Grosso e Gilberto Gil.

Redes sociais

@moaluz @coliseudosrecreios 

Cartaz - Foto: Divulgação

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