Nonato Viegas

Diretor de Informação e editor-chefe da BRASIL JÁ

Nonato Viegas

Navegar é preciso

Não existe democracia sem jornalismo livre, independente e crítico, ainda que haja certo custo sobre aquele que o exerce.

24/01/2024 às 20:48 | 3 min de leitura
Nonato Viegas
Nonato Viegas

Diretor de Informação e editor-chefe da BRASIL JÁ

Chegamos. A primeira chamada de capa da primeira edição da BRASIL JÁ carrega em si a ambiguidade da chegada de um novo órgão de comunicação social e de uma nova onda de chegada de brasileiros a Portugal. Os brasileiros e a revista viemos complementar, contribuir, acrescentar à diversa e rica cultura portuguesa, além de somar à sua economia.

Não existe sociedade culturalmente homogênea. Ao contrário, tão mais rica é quanto mais diversidade couber em si. Portugal tem a riqueza de ser a soma de suas raízes celta, fenícia, ibérica pré-romana, romana, germânica, muçulmana, árabe, judaica. Depois, dos povos que colonizou, sobretudo na África, carregou marcas culturais profundas; e, mais recentemente, traços da cultura brasileira.

É claro que esse não é um movimento de direção única. Ao mesmo tempo em que se permite integrar, os portugueses, como emigrantes, levam a própria cultura e transformam os espaços que ocupam. O Brasil é um exemplo —e não me refiro ao óbvio período colonial e à língua.

Por quase cem anos, entre os séculos 19 e 20, o Brasil recebeu cerca de dois milhões de portugueses. Fugiram da fome, da opressão política, e foram em busca de oportunidades melhores para si e a sua família. Com aqueles que foram “tentar a sorte” no Brasil independente, estavam na bagagem o empreendedorismo e a arte de negociar, que agora trazemos de volta quando viemos também “tentar a sorte” em Portugal.

Mas a emigração não é a única maneira de Portugal espalhar a sua cultura. Os estrangeiros que aqui chegam, quando saem, carregam em si o que assimilaram da cultura e levam para onde vão um pouco de Portugal. Se antes, a cultura portuguesa viajava em naus e caravelas, hoje viaja pelas pessoas que recebe.

Dito isso, selamos um compromisso com você, leitor. Vamos respeitar o que está inscrito no decálogo do Estatuto Editorial da BRASIL JÁ. Ele será o norte de cada jornalista da revista. E vamos defender seus princípios em todas as edições, seja na versão impressa, seja aqui em nosso site ou nas redes sociais, porque acreditamos que o jornalismo contribui para o avanço civilizatório da sociedade.

Não existe democracia sem jornalismo livre, independente e crítico, ainda que haja certo custo sobre aquele que o exerce. Como repórter no Brasil recente, vivi tempos inolvidáveis, com ameaças à minha integridade física e à da minha família. Sofri, como alguns de meus colegas, especialmente mulheres e gays, linchamento virtual de apoiadores incitados por aquele que ocupava o mais alto posto político do país, além da calúnia e difamação mais vis.

E o que o incomodava aquelas pessoas era o exercício do meu dever como jornalista. A missão do jornalismo sempre me faz lembrar parte do poema Navegar é Preciso de Fernando Pessoa em que ele diz “cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de (...) contribuir para a evolução da humanidade”.

É com esse espírito que trouxemos na primeira edição impressa três trabalhos para os quais gostaria de chamar a sua atenção, leitor.

A primeira é a entrevista CARA A CARA com o ativista antirracista Mamadou Ba. Ele atua há quase três décadas na defesa de uma sociedade mais plural, menos desigual e mais aberta à diversidade. É possível que alguns leitores vejam as suas palavras como ataque. Não são. Sugiro que leia a entrevista com o coração aberto para compreender a crítica como um convite à reflexão.

Aristóteles defendia que o contato com opiniões contrárias permite, após reflexão, reafirmar ou mudar de posição de maneira mais fundamentada. Mas, mais do que uma prática filosófica, ouvir uma opinião diferente da nossa nos permite outro exercício: o da empatia.

Eu também sugiro a leitura da seção AFRICANIDADES. O repórter Coutinho Macanandze traz de Maputo um retrato complexo da disputa de poder em Moçambique. Trata-se do aprendizado do exercício da democracia. O país vive sua aurora democrática. A gente olha para o céu e acha lindo o espetáculo de luzes nos árticos, ignorando a violência do fenômeno.

A sociedade moçambicana está aprendendo a lidar com o jogo democrático de peso e contrapeso. É do jogo o desconforto e a pressão das ruas. Como irmão dos moçambicanos, torço para que resistam à pseudorresolução dos conflitos pelo uso das armas.

E como é de democracia que tratamos aponto para a reportagem sobre as legislativas. É feita para você estrangeiro residente em Portugal. Votar é parte fundamental dos seus direitos e define que projeto de país, conselho e freguesia deseja. No mais, boa leitura, porque navegar é preciso; o jornalismo, não (mas estamos em busca da precisão).

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