Produções como "Prenda-me se For Capaz" exploram nossa curiosidade por personagens que burlam o sistema. Crédito: Divulgação

Produções como "Prenda-me se For Capaz" exploram nossa curiosidade por personagens que burlam o sistema. Crédito: Divulgação

Por que histórias de trapaceiros nos fascinam tanto?

"A velha e nova, boa e má trapaça"

02/01/2025 às 09:00 | 2 min de leitura | Dia a Dia

Afinal, o que nos atrai tanto em histórias de trapaceiros? Muitas manifestações artísticas —teatro, literatura, cinema e tevê— são feitas com base na trapaça e ganham rapidamente o fascínio do público.

Em uma publicação de 1887, o filósofo Friedrich Nietzsche escreveu que “ver sofrer faz bem, fazer sofrer mais bem ainda”.

Ele também admitiu que é uma “frase dura”, mas sem dúvida explica o deslumbramento, na arte, pela trapaça e até mesmo pela tragédia —o que nos remete até o nascimento do teatro com as tragédias gregas.

O conceito de schadenfreude têm origem em duas palavras alemãs que correspondem ao prazer e ao dano, sendo amplamente utilizada como o prazer pelo infortúnio de outrem. Embora possa ser desagradável interpretar a humanidade sob essa ótica, é interessante entender quando o fenômeno acontece—comumente em três situações: 

  1. Quando o contratempo ocorre para alguém de quem se sente inveja;  
  2. Quando há algo a ganhar com a desgraça do outro;  
  3. Quando se considera que a infelicidade do outro é merecida. 

Essas três situações costumam gerar prazer no observador. O schadenfreude não só existe, como também é incentivado. Em manchetes de tabloides sensacionalistas que contam de divórcios ou brigas entre famosos e personalidades.

Em jogos esportivos em que nem sempre é sobre o seu time ganhar, mas às vezes apenas sobre o time adversário perder. Em obras de tevê como “Inventando Anna” (minissérie, 2022), em que se acompanha a ascensão e a queda da personagem Anna Delvey, inspirada na história real de sua homônima, uma famosa golpista que convencia membros da elite de Nova York de que ela era uma herdeira dona de uma grande fortuna.

A produção da série conta com o schadenfreude para engajar a audiência, tanto pelos alvos dos golpes como pela ruína da personagem principal no fim. Essa pode ser uma das explicações do porquê esse tipo de narrativa é tão envolvente e é uma motivação também encontrada na minissérie “Bad Vegan” (2022) e no documentário “Fyre” (2019). 


Afora o schadenfreude, é possível considerar outras duas possíveis explicações para a atratividade desse tipo de conteúdo, ainda que as hipóteses não sejam excludentes. 

A primeira é sensação de segurança gerada pela comparação do espectador com as vítimas dos golpes, percepção certamente explorada em produções como “WeCrashed” (minissérie, 2022) e “O Golpista do Tinder” (minissérie, 2022).

A segunda explicação possível é o espelhamento do espectador no golpista, a sensação de que o personagem está desmantelando um sistema que precisa ser quebrado, um sistema que é falho; a sensação de que o burlão é um anti-herói quebrando regras que o espectador não pode quebrar, mas gostaria.

Essa sensação pode ser sentida ao assistir o divertido filme brasileiro “Os Salafrários” (2021) e nos clássicos filmes “Prenda-me se For Capaz” (ou “Apanha-me se Puderes”, 2002) e “O Talentoso Ripley” (1999) —que ganhou até mesmo um remake em formato de série chamado Ripley (2024), confirmando que a trapaça ainda está em alta. 

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