Alcione nos bastidores do show que fez no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Crédito: Jordan Alves

Alcione nos bastidores do show que fez no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Crédito: Jordan Alves

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10/09/2024 às 10:38 | 4 min de leitura
Jordan Alves
Jordan Alves
jordan@brasilja.pt

Jornalista da BRASIL JÁ

São mais de 50 anos de carreira e uma trajetória vitoriosa que está marcada na história da música brasileira. Histórias, algumas delas hilárias, não faltam na vida dessa maranhense de São Luís que fez o Brasil inteiro —e não só— aplaudir de pé seu trabalho. 

Alcione Dias Nazareth completa 77 anos em novembro. Cantora, compositora e multi-instrumentista, a Marrom, é regida pelo signo de escorpião —quem sabe dos astros logo entende que seu mapa astral diz muito sobre sua personalidade. 

Com voz e unhas inconfundíveis, Alcione não gosta de cores “nudes” nem de passar despercebida. Jamais. 

Este ano está sendo especial para a cantora, que foi até samba-enredo da Mangueira. Além da série de homenagens que vem recebendo Brasil afora, a artista fez sua primeira apresentação no Central Park, em Nova York. 

Alcione também acabou de gravar, em dueto com Ludmilla, a música "Volta por Cima", que será o tema da próxima novela das sete da TV Globo e estará no Rock in Rio, no Rio de Janeiro, no Dia Brasil, agora em setembro. 

Aqui em Portugal, ela subiu aos palcos do Coliseu do Porto dia 6 de setembro e no de Lisboa, no dia seguinte.

Alcione gravou com Ludmilla "Volta por Cima", que será o tema da próxima novela das sete da TV Globo - Foto: Anomacria

São 50 anos de música. Você cantou tudo o que quis?

Sempre cantei o que quis e a minha verdade. Nunca pensei em fazer apenas sucesso, e sim em ter uma carreira. Ela não se faz impunemente, o público sabe quando você é verdadeiro.

Você tem recebido muitas homenagens pelos seus 50 anos de carreira. Qual a parte mais interessante da sua biografia?                                                    

Cada parte da minha biografia foi construída com muito trabalho, empenho e dedicação. Para mim, todas têm sua importância.

Qual parceria você gostaria de ter feito ou que ainda quer fazer? 

Tenho tido a oportunidade, ao longo da minha trajetória, de realizar parcerias com muita gente boa, artistas de todas as gerações e estilos. Mas, claro, sempre faltará alguém.

Você já se apresentou em mais de 30 países. Cantar para países que falam português tem algo especial?

Cantar para os povos que falam o nosso idioma nos aproxima ainda mais e cantar para um país irmão, como é Portugal, sempre me traz uma alegria ímpar. 

É quase como estar em casa, e os portugueses são muito gentis. Sempre me receberam com muito carinho e respeito. E ainda tem muitos conterrâneos, saudosos da música brasileira.

O que tem a dizer da gastronomia portuguesa?

Nossa! A gastronomia portuguesa é uma das melhores do mundo!

O que influenciou musicalmente a Alcione?

Minhas influências e referências vieram principalmente do rádio. Na época da minha adolescência, o rádio delimitava o sucesso e não tinha essa de emissora segmentada. As rádios tocavam de tudo: de música regional e brasileira a canções americanas, italianas e francesas. 

Ouvia muito Ângela Maria, Núbia Lafayette, Maysa, Dolores Duran mas, também, as divas do jazz americano, Charles Aznavour.

O Cauby Peixoto dizia em entrevistas que não poderia fazer um show sem cantar “Conceição”. Qual é a sua “Conceição”? 

Ah, graças a Deus tenho hits que não posso ficar sem cantar. Mas, sem dúvida, "Não deixe o samba morrer" tem cadeira cativa nos roteiros dos meus shows. E é uma música que fez história, se transformando quase em um hino para os sambistas. Eu fiquei 22 semanas em primeiro lugar com essa música. 

Tem uma música que Eliana de Lima cantava: 'A vida é um privilégio, ninguém aprende samba no colégio'. Quer dizer, o samba não se aprende no colégio. 

O samba está ali, ele vem com a pessoa porque já é daquela terra. 

O samba te pega não é?

Ele pega você e eu gosto demais de samba. Acho que o brasileiro que não gosta de samba bom sujeito não é.

Com você vê a música hoje? 

Para falar a verdade o Brasil é um país que é um celeiro de poetas e o que mais tem é compositor bom para fazer a gente cantar. Não faltarão poetas mas cabe a gente peneirar e graça a Deus eu tive sorte de encontrar muitos deles. 

Algumas músicas suas tratam de relações amorosas difíceis. Já teve alguma relação difícil? Você é romântica?

Sim, eu sou romântica. Gosto muito daquelas músicas que nos arrepiam. Mas quem não passou por alguma relação difícil? Eu já passei por poucas e boas, como qualquer outra pessoa.

Qual é sua "Estranha Loucura"? 

Se é estranha, melhor não perguntar (risos)

O que significou ser enredo da Mangueira esse ano?

Ser homenageada na Passarela do Samba e, ainda por cima, por sua escola do coração... não existe glória maior! Nunca imaginei ver minha história retratada pela Mangueira em plena Sapucaí. É uma emoção que não pode ser dimensionada.

Uns anos atrás, você gravou um vídeo exigindo respeito ao então presidente da República. Ele havia sido desrespeitoso com os nordestinos. Que papel você acha que os artistas têm quando se trata de política?

Sou brasileira, nordestina, mulher. Todos e todas merecemos respeito. E, como também sou artista, acho que posso usar minha voz para defender direitos.

Por exemplo, recentemente você participou de uma comemoração pelos 18 anos da Lei Maria da Penha, fundamental para a proteção das mulheres brasileiras.

Sim, participei. Acho que tivemos avanço [políticos na questão dos direitos das mulheres], mas ainda precisamos avançar muito. 

Aliás, acabei de gravar um clipe/single com a música "Marra de Feroz", do Xande de Pilares, Gilson Bernini e Helinho do Salgueiro. Um samba que fala exatamente do machismo e dá um basta na violência contra as mulheres. 

No clipe, inclusive, contei com a participação de muitas mulheres icônicas, representativas como a Conceição Evaristo.

A cantora no carnaval da Estação Primeira de Mangueira no carnaval 2024 - Foto: Reprodução

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