O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, reforçou ao homólogo italiano, Sergio Mattarella, a necessidade de se concluírem as negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
“Reiterei ao presidente italiano o interesse do Brasil em concluir, o quanto antes, um acordo com a União Europeia que seja equilibrado e que contribua para o desenvolvimento das duas regiões”, afirmou Lula.
Segundo divulgou o governo brasileiro, Mattarella também se mostrou favorável ao fechamento do pacto: “Nós consideramos que é indispensável chegar rapidamente a uma decisão histórica para benefício do mundo”.
A tentativa de se estabelecer um livre comércio entre os dois blocos econômicos já dura mais de duas décadas. E embora Mattarella tenha se manifestado a favor do acordo, movimentos de agricultores de países europeus —inclusive da Itália— são diametralmente opostos à proposta.
No início do ano, agricultores de França, Espanha, Bélgica, Grécia, Alemanha, Itália e Portugal, saíram em marcha por estradas e chegaram a interromper estradas dos países com tratores. A rejeição ao acordo estava entre as reivindicações dos que se manifestaram.
Os agricultores europeus temem que, abrindo o comércio com o Mercosul, eles sejam engolidos pela produção sulamericana. O presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos políticos com críticas mais inflamadas e mentirosas ao acordo.
Em uma de suas falas sobre o pacto, Macron disse que a pegada ambiental dos produtores do Mercosul era repugnante. O francês também argumentava que os produtores sulamericanos não estavam submetidos a regras sanitárias tão rigídas quantos os europeus —uma falácia.
A situação com Macron, entretanto, foi aparentemente pacificada depois que o presidente visitou o Brasil em março. Ele continuou a dizer que o pacto era muito ruim para os europeus, mas suavizou o discurso ao assumir, em reunião com empresários em São Paulo, a vantagem brasileira no tema.
"Eu acredito que precisamos repensar nossas regras de comércio sobre a perspectiva dessa vantagem. É por isso que fui muito crítico ao dizer que o acordo negociado hoje, com o Mercosul, é muito ruim para nós e para vocês", disse Macron.
O que é o acordo UE-Mercosul
Passados mais de vinte anos de negociações, em junho de 2019 finalmente Mercosul e UE anunciaram chegar a um termo comum pelo que pudessem fechar o acordo que abarca três pilares: comércio, diálogo político e cooperação.
O objetivo do pacto entre os países do Sul e do Norte é eliminar barreiras tarifárias entre os blocos econômicos e facilitar a circulação de produtos entre as nações.
Ao longo de décadas, programa-se eliminar progressivamente tarifas aplicadas a produtos de ambos os lados.
Por exemplo, atualmente o Mercosul impõe a taxação de vários produtos agrícolas da comunidade europeia.
Em contrapartida, a UE oferece liberar 82% das importações agrícolas do Mercosul e só impor tarifas a produtos mais sensíveis. Os padrões europeus de segurança dos alimentos, tão rígidos quanto os do Mercosul, seriam mantidos por ambos blocos.
Na indústria, também se prevê a eliminação de 90% das tarifas de importações da UE. Para sair do papel, os grupos precisam cumprir protocolos no que diz respeito ao meio ambiente e ao direito dos trabalhadores.
Mais de Mattarella
Mattarella esteve no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), na segunda (15) e continuaria no país até sexta (19). Foi a primeira visita de Estado de um presidente italiano ao Brasil em 24 anos. Durante a agenda no Planalto, Lula e Mattarella fecharam acordos de cooperação entre os dois países.
Um dos acordos diz respeito ao reconhecimento recíproco de carteiras de habilitação. “Espero que esse instrumento incentive o turismo e os negócios e facilite a rotina dos brasileiros que vivem na Itália e dos italianos que moram no Brasil”, afirmou Lula.
Os presidentes também assinaram memorandos de entendimento entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade de Turim, entre a Universidade de São Paulo e a Universidade de Turim, entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e o Centro Internacional de Física Teórica, além de acordo entre a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a empresa italiana Enel.
