Paulistana, alma de carioca e no currículo três anos de vivência lisboeta, onde chegou em 2018. Por aqui, Anna Sant'Ana produziu espetáculos teatrais e também trabalhou como assistente de encenação de Diogo Infante.
Calhou —como dizem por essas terras— de que o reencontro de Sant'Ana com a capital portuguesa ocorresse este ano, quando ela cruzou o Oceano Atlântico para apresentar ao público o seu espetáculo “Marilyn por trás do espelho”.
A peça é resultado de uma década de pesquisa, contemplando assim o tempo em que Anna viveu em Lisboa. Quando voltou ao Brasil, a atriz resolveu tirar do papel a obra, que começou a ser ensaiada aqui mesmo em Portugal.
No Brasil, a montagem percorreu várias cidades nos últimos dois anos para, então, voltar a Portugal e estar em cartaz até este domingo (22). Aos 44 anos, Anna nos conta que está sendo uma grande realização pessoal e profissional.
“Marilyn por trás do espelho” percorre a história da inesquecível estrela do cinema Marilyn Monroe e é possível conferir o espetáculo no teatro da Trindade, em Lisboa. E quem perder a chance, ainda poderá ver Anna Sant'Ana em Portugal no próximo ano, numa apresentação em 8 de fevereiro, em Faro.
Confira mais sobre a peça, nas palavras da própria artista:
Esse espetáculo é um grande desafio?
É o meu maior desafio profissional. Primeiro porque é um projeto muito especial pra mim, que eu fui fazendo ao longo de quase dez anos que eu ia realizando outros trabalhos na minha carreira e, paralelamente, ia cuidando desse projeto até entregar toda a pesquisa para o dramaturgo Daniel Dias da Silva, que fez o texto final. Eu me identifico com muitas passagens da vida da Marilyn, por isso inclusive eu resolvi fazer o espetáculo.
Também tenho o desafio de ser monólogo. O Roberto Bomtempo [ator e diretor], e ele sempre diz isso, que todo ator deve fazer monólogo uma vez na vida, porque é um divisor de águas. E é mesmo. É muito desafiador e de uma responsabilidade muito grande você estar ali sozinho em cena, mas ao mesmo tempo é um prazer tão grande porque a relação com o público é completamente outra, é uma relação direta.
Como foi esse processo para trazer a peça para Portugal?
Eu estava morando aqui [em Portugal] quando eu resolvi fazer a peça. O texto ficou pronto e fui fazer uma leitura dramatizada, aqui, em Lisboa, para experimentar o texto, para ver como é que ele chegava nas pessoas, se a história estava sendo bem contada, se o texto estava tocando as pessoas, a história da Marilyn e o que a gente estava falando e resolvi fazer.
Fiz três dias de leituras dramatizadas na Casa do Coreto e, na altura, chamei a Ana Isabel Augusto, que é uma encenadora portuguesa, para dirigir as leituras, sem compromisso nenhum. Eu falei pra ela que eu iria estrear naquele mesmo ano o espetáculo no Brasil. Então essa leitura aconteceu em fevereiro de 2022 e depois o espetáculo estreou oficialmente no Rio de Janeiro em agosto, no dia 4 de agosto, na verdade no dia exato em que se completaram sessenta anos da morte da Marilyn.
Era um desejo imenso trazer o espetáculo para cá, e eu e a Ana Isabel batalhamos bastante para que isso acontecesse. Eu apresentei o projeto ao Diogo Infante, que é o diretor artístico do teatro, e aí começamos uma conversa até que ele nos ofereceu essa pauta agora, estreando em novembro de 2024, uma temporada de seis semanas no Teatro da Trindade.
O que você considera mais difícil nesse processo migratório da sua arte para cá?
Eu já conhecia muito bem o espaço. Nesse momento, eu não senti essa dificuldade migratória de trazer o meu espetáculo para cá. O que eu senti foi, na época em que eu morava aqui, muitos desafios para os artistas que vêm para cá. Aí sim, não para fazer uma apresentação do espetáculo, mas para morar e para tentar as suas carreiras aqui.
Isso, sim, eu senti muita dificuldade, mas eu tive a sorte de conseguir um trabalho dentro da área muito rapidamente, então eu trabalhei durante anos como produtora na Plano 6, produtora teatral, e depois trabalhei como assistente de encenação do Diogo Infante em dois espetáculos, mas eu sentia muita dificuldade justamente de trabalhar como atriz.
Um monólogo com uma atriz estrangeira ocupar um espaço tão importante de Portugal é uma vitória pessoal e profissional?
Olha, é uma vitória com certeza. Pessoal pelo carinho de ter morado aqui e profissional porque eu acho que é o sonho de qualquer ator poder ultrapassar as barreiras do seu país e levar o seu trabalho a outros lugares. Ficar em cartaz num dos teatros mais importantes, que é o Teatro da Trindade, me orgulha muito porque a gente realmente entrou na programação. Isso é uma vitória profissional imensa.
E nesse período em cartaz, como é a receptividade do público?
A receptividade do público está sendo maravilhosa. O Teatro da Trindade é um teatro que já tem um público que vai, que gosta de acompanhar os espetáculos. E a gente está com a casa cheia praticamente todos os dias. Normalmente, eu tiro foto após o espetáculo, caracterizada ainda como Marilyn, e eu gosto muito dessa troca, quando a gente tem a oportunidade de ouvir o que as pessoas acharam do espetáculo, ou ouvir as perguntas, as curiosidades que o público tem.
Então, está sendo uma delícia. A gente está falando de uma personalidade que é universal, mas principalmente de temas que são universais. Então, não existe barreira. O espetáculo poderia estar sendo apresentado em qualquer outro lugar do mundo que eu acho que as pessoas se identificariam pelas questões pessoais que atinge. E aqui, em Portugal, não está sendo diferente. A receptividade está muito gostosa.