Sotaque, escrita, modelos de negócio e mais temas pertinentes ao jornalismo —e especialmente ao jornalismo brasileiro em Portugal— foram debatidos na noite de quarta (11) na segunda Conferência Internacional de Inovação na Mídia, evento na Universidade de Lisboa.
O diretor de informação da BRASIL JÁ, Nonato Viegas, foi convidado a participar da mesa-redonda, que também contou com os editores-chefes do Público Brasil e do DN Brasil, Vicente Nunes e Amanda Lima, respectivamente, e com a colunista da BRASIL JÁ e apresentadora do podcast Lado B da Gastronomia, Gisele Rech.
A conversa entre os representantes também tratou do mercado jornalístico para brasileiros em Portugal, que por vezes são impedidos de trabalhar por usarem o nosso sotaque português. Contudo, a chegada da BRASIL JÁ e abertura dos demais braços editoriais de jornais portugueses têm mudado esse cenário. Sobre o assunto, Viegas lembrou que "não existe hierarquia na riqueza linguística do português, seja [a variante] do Brasil, de Portugal, Angola, Moçambique".
Outro tema abordado foi o modelo de financiamento de veículos de comunicação na atualidade. Embora não lide com a parte comercial da BRASIL JÁ, o diretor de informação afirmou que fica atento à sobrevivência econômica da revista. "Estamos caminhando para o nosso primeiro ano [de publicação e funcionamento do site], e estamos ajustando", disse.
Sobre a decisão de lançamento de uma revista quando as perspectivas para o mercado gráfico não são as melhores, Viegas afirmou que o lançamento da BRASIL JÁ se apoiou na necessidade de um ambiente jornalístico mais diverso em Portugal. "A BRASIL JÁ nasce com a proposta de ser uma revista com sotaque brasileiro, que tem uma preocupação de abordagem um pouco diferente dos demais veículos", afirmou.
E por diversidade no ambiente jornalístico entende-se também em focar a cobertura em temas que são caros à revista e estão defendidos no Estatuto Editorial. Por exemplo, o "desenvolvimento de ideias humanísticas e a consolidação dos direitos humanos na sociedade".
O diretor de informação citou que essa cultura busca ser consolidada no dia a dia da revista, com decisões aparentemente menos relevantes, mas carregadas de significado, como escolher não usar a palavra "ilegal" para se referir a pessoas sem documentos e que tentam se regularizar no país. "A simples existência de alguém fora de seu território de nascimento não o torna ilegal, ainda que esteja sem documento", disse.
Denúncias contra o racismo e a xenofobia também costumam ganhar destaque na publicação. "Nesses nove meses de revista, tivemos mais de oitenta artigos abordando racismo. Não sei se um outro veículo falou tanto desses temas como a gente", disse Viegas.
A colunista da BRASIL JÁ Gisele Rech, e criadora do podcast Lado B da Gastronomia, compartilhou a experiência de vir para Portugal, ressaltando que na cobertura gastronômica é surpreendente como um país pequeno pode apresentar uma diversidade tão grande de comidas.
Rech convidou os leitores a ler a edição deste mês, na qual conta que o tempurá —comumente vinculado à culinária japonesa— e o tradicional chá das cinco horas britânico têm, na verdade, origem portuguesa.