Autora brasileira Micheliny Verunschk. Crédito: Reprodução

Autora brasileira Micheliny Verunschk. Crédito: Reprodução

Brasileira Micheliny Verunschk e o português Nuno Júdice vencem o prêmio Oceanos

Verunschk ganhou honraria com o livro 'Caminhando com os mortos', enquanto Júdice foi distinguido com a obra 'Uma colheita de silêncios'

06/12/2024 às 03:29 | 3 min de leitura
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Os livros "Caminhando com os mortos", da brasileira Micheliny Verunschk, e "Uma colheita de silêncios", de Nuno Júdice, autor português que morreu em março deste ano, foram os vencedores do Oceanos, premiação da literatura em língua portuguesa.

O resultado foi anunciado nesta quinta (5). O Oceanos é organizado anualmente no Brasil, e distingue obras escritas em língua portuguesa e publicadas em qualquer país do mundo.

A romancista brasileira Micheliny Verunschk, que esteve presente no anúncio dos vencedores, afirmou que apesar de a honraria ser individual,ela também representa um prêmio da língua portuguesa em geral. 

“Dessa língua que é tão bela, tão pungente, tão forte. E, num mundo em ruínas como o nosso, a gente ter a arte, a palavra, a literatura como guia é, talvez, penso, não sei, um farol para uma reconstrução ou de um novo mundo ou um apocalipse que nos seja educativo”, disse a autora.

O livro "Caminhando com os mortos" retrata um crime que choca os moradores de uma pequena cidade no interior do Brasil. Uma mulher é queimada viva, num ritual motivado por razões religiosas, a fim de purificar a vítima e endireitá-la para o "caminho do bem".

Nuno Júdice, que morreu em Lisboa, aos 74 anos, em março, dizia que o mais relevante na sua poesia é a imagem, a possibilidade de ver e dar a ver, "o que fica nas palavras daquilo que se viveu".

Último livro de poemas publicado em vida, "Uma colheita de silêncios", fala do mundo em volta, multiplicando referências históricas, de arte e literatura, para abordar esses "silêncios" vindos da passagem do tempo, e que são tudo ou quase tudo.

Na cerimónia, Manuel da Costa Pinto, curador do Oceanos para o Brasil, homenageou o autor português lembrando que “Nuno Júdice via a finitude com melancolia, mas, para o poeta, a poesia podia transcender esse limite, como deixou eternizado nesses versos”.

“Porém, o melhor é esconder a mão e não fazer contas pelos dedos: há equações que nunca se resolvem, e talvez seja melhor não as aprender, apenas para sentir, no que é finito, o sabor do infinito”, acrescentou Costa Pinto, citando parte do poema "Meditação num fim de ano", escrito pelo vencedor da categoria poesia pelo júri final do Oceanos.

Poeta, ficcionista, tradutor e dramaturgo, Nuno Júdice deixou uma obra literária de quase oitenta títulos, que se estendem ao conto, ao romance e ao ensaio.

Além de Micheliny Verunschk, concorreram na final da categoria prosa, o livro de contos "Certas raízes", da portuguesa Hélia Correia, "Os infortúnios de um governador nos trópicos", do cabo-verdiano Germano Almeida, e as obras "Outono de carne estranha", do brasileiro Airton Souza, e "Meu irmão, eu mesmo", do brasileiro João Silvério Trevisan.

Em poesia, os outras obras finalistas foram "Criação do fogo", do moçambicano Álvaro Taruma, "Limalha", do brasileiro Rodrigo Lobo Damasceno, "Perder o pio a emendar a morte", do cabo-verdiano José Luiz Tavares, e "Uma volta pela lagoa", da brasileira Juliana Krapp.

A partir de 2023, os organizadores do prémio dividiram as inscrições em duas categorias: prosa, que também incluiu obras de dramaturgia, e poesia. Os autores selecionados nessas categorias foram avaliados por três júris diferentes.

Na edição deste ano, concorreram 2 619 livros de autores residentes em 28 países, sendo esse total divido em 1 204 obras de poesia, 836 romances, 389 contos, 156 crónicas e 34 dramaturgias.

Participaram escritores de Angola, Argentina, Brasil, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Espanha, Guiné-Bissau, Índia, Itália, Moçambique, Palestina, Portugal, São Tomé e Príncipe e Uruguai. 

Os autores premiados vão receber trezentos mil reais, aproximadamente 47,1 mil euros, que serão divididos pelos vencedores.

O Oceanos é realizado por via da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura do Brasil, e conta com o patrocínio do Banco Itaú e da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas da República Portuguesa, com o apoio do Itaú Cultural, do Ministério da Cultura e do Turismo de Moçambique, do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde e o apoio institucional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Com informações da Lusa

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