Madrugada de 3 de julho de 2021. O auxiliar de enfermagem Samuel Luiz, de 24 anos, fazia uma chamada por vídeo na porta de um bar na orla de A Coruña, cidade em Galicia, noroeste da Espanha. O brasileiro vivia há um ano na comunidade autônoma quando, naquele dia, foi espancado até a morte.
Nesta quarta (16), começou o julgamento dos réus pelo do assassinato do rapaz, que trabalhava pela manhã e estudava à tarde para ser protético. A imprensa espanhola também registra que Samuel frequentava um igreja evangélica na cidade.
A promotoria quer a condenação de cinco envolvidos no espancamento —os envolvidos no crime eram sete no total, mas dois sendo menores cumpriram medidas socioeducativas num internato e estão soltos.
"Uma caçada brutal e desumana", afirmou a promotora María Olga Serrano durante a primeira sessão do julgamento, ao se referir aos ataques sofridos por Samuel. A previsão é que ocorram ao menos mais vinte audiências até que se conheça um veredito.
Samuel foi morto por um motivo banal. Do lado de fora do pub na orla de A Coruña, o rapaz estava numa ligação por vídeo. Atrás dele estavam Diego Montaña e a namorada, Kathy. Montaña pensou que Samuel o estava gravando e disse que o auxiliar de enfermagem deveria parar.
Para a promotoria, o fato de Samuel ser gay também colaborou para que Diego começasse o espancamento. Amigos do agressor se somaram ao ataque. Ao todo, imagens de câmeras recolhidas pela polícia identificam até sete pessoas agredindo Samuel de várias formas —mas principalmente na cabeça.
O ataque em grupo seguiu por cerca de 150 metros, distância percorrida por Samuel enquanto desesperadamente tentava fugir. Segundo o relatório da acusação, lido pela promotora, o brasileiro estava "só e vulnerável", incapaz de reagir.
Foi quando, ao fim dos 150 metros em que tentou se salvar, machucado, Samuel caiu no chão, inerte. O jovem chegou a ser socorrido para um hospital da região, mas morreu na unidade de saúde.
O julgamento
A previsão é que todo o julgamento dure mais de vinte audiências até ser concluído. Mais de oitenta pessoas devem ser ouvidas no tribunal de A Coruña. Testemunhas, policiais, amigos de Samuel e dois senegaleses que tentaram ajudar o rapaz a se livrar dos agressores irão depor em juízo.
Dos sete envolvidos no crime, dois menores já cumpriram medidas socioeducativas num internato, e os outros cinco são os réus que podem ser condenados a penas que variam entre 22 e 27 anos de prisão.
As penas previstas ao casal Diego Montaña e Kathy, que inciou o espancamento, são agravadas por, segundo a promotoria, também se tratar de um crime homofóbico.
Outro acusado, Kaio Amaral, além do homicídio, responde a uma acusação de roubo, pois furtou o celular de Samuel enquanto o brasileiro estava caído no chão e inconsciente.
Luis Manuel Salgado, advogado que defende o principal acusado, Diego Montaña, afirmou à imprensa espanhola que o agressor estava bêbado e tinha discutido com a namorada momentos antes. Salgado alega que a participação de Montaña não influenciou o resultado final: a morte de Samuel.
A expectativa é que as sentenças saiam em 18 de novembro.