21/11/2024 às 16:09
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Portugal tem sido um destino recorrente de governadores brasileiros com interesses em expandir o turismo e negócios de seus estados. Durante visita ao país, na última semana, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, veio com uma comitiva de secretários e pleiteou junto à companhia aérea TAP mais voos.
À BRASIL JÁ, Zema disse que aumentar a quantidade de voos diretos de Portugal para a capital Belo Horizonte possibilitará estreitar laços culturais e comerciais com o país. E acrescentou que se não for com a TAP, vai tentar outras empresas aéreas.
Atualmente, a TAP faz sete voos por semana, e o que o governador mineiro quer é que esse número passe para dez viagens semanais —e que os três novos deslocamentos saiam do Porto. Por enquanto, porém, não há uma resposta definitiva da companhia aérea sobre o tema.
Tal qual Zema, no início do mês a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, também bateu à porta da companhia aérea portuguesa para tentar mais voos entre o estado e o país. No caso, o que Lyra buscava era uma ligação entre Porto e Recife.
A vinda de Zema a Lisboa coincidiu com a “Semana da Cozinha Mineira”, uma nova etapa do projeto Minas em Portugal realizada pela Fartura Gastronomia do Brasil em parceria com o Governo de Minas, iniciativa apoiada pelo Sebrae e com patrocínio da Cemig.
Nesse contexto, Minas Gerais teve estande próprio na feira Essência do Vinho, e assim pôde apresentar as regiões vinícolas do estado e estratégias de fomento ao enoturismo e a chamada “Rota dos Vinhos”.
Confira a entrevista com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema:
Além da simpatia e hospitalidade, que é um grande diferencial do povo mineiro, o que mais o governo quer ao convidar turistas portugueses a conhecerem Minas Gerais?
Nós temos, em Minas Gerais, o maior patrimônio histórico português fora de Portugal. No Brasil Colônia, Minas Gerais foi a principal capitania, a principal província. Ouro Preto, durante décadas, foi a maior cidade das Américas. E boa parte desse patrimônio está lá hoje, bem preservado, em Ouro Preto, em Mariana, Congonhas, Diamantina, Serro, São João del-Rei.
E nós queremos mostrar para os portugueses que eles podem conhecer essa parte rica da história de Portugal, indo a Minas Gerais, que é o estado do Brasil onde se concentra a maior parte desse patrimônio.
E é lógico que não fica restrito a isto. O estado de Minas Gerais tem as suas belezas naturais, as suas montanhas, os seus reservatórios, os seus parques naturais, tanto estaduais quanto federais, áreas de preservação. Tem ainda a sua cozinha, que é considerada uma das melhores do Brasil, um povo muito acolhedor. E está no centro do Brasil.
Quem vai a Minas Gerais vai ter facilidade de ir a Salvador, ao Rio de Janeiro, a São Paulo, a Brasília, e com um custo bem mais acessível do que lugares turísticos ou grandes regiões metropolitanas. O que nós estamos [fazendo] aqui é mostrando que Minas Gerais tem muito a oferecer aos portugueses.
Quais são as principais ações do governo para promover Minas Gerais como destino turístico sustentável, especialmente agora com foco na internacionalização?
Uma série de ações como esta que nós estamos fazendo aqui. Convidamos a imprensa portuguesa para participar. Estamos para inaugurar em abril [2025] o primeiro hotel Vila Galé em Minas Gerais.
E assim que esse hotel for inaugurado na cidade de Ouro Preto, nós vamos levar todo o público aqui envolvido com turismo, agências, para poder conhecer não só o hotel, que vai ser a mais nova unidade dessa rede portuguesa, como também as principais atrações do estado.
Estamos pleiteando junto à TAP ampliação dos voos, já que é difícil conseguir vagas. Nós temos voos diários hoje, mas talvez o ideal seria ter dez voos por semana —e não sete.
Então, são várias ações. [...] A produção de vinho em Minas Gerais tem crescido de forma substancial, mais de 25% ao ano. E vinho é uma atividade tipicamente portuguesa. Nós estamos ainda desenvolvendo no início dessa atividade, mas já estamos produzindo vinhos de altíssima qualidade, porque já foram feitos previamente uma seleção das mudas, das uvas plantadas.
E estamos tendo também uma história semelhante com o azeite, que é outro produto aqui típico de Portugal. Então, tudo isso, eu acho que acaba estreitando os nossos laços.
Os voos diretos para BH custam em média mil euros (em torno de seis mil reais). Para quem está em Portugal, isso é mais caro do que viajar pela Europa, para os Estados Unidos ou até para Dubai. Nessa negociação com a TAP, o senhor pede a diminuição dos valores?
Então, a questão aí eu acho que é muito mais comercial do que propriamente… Nenhuma companhia aérea quer colocar suas aeronaves em linha que os assentos ficam vazios. Se estamos tendo voos sempre lotados, isso significa que caberia mais opções de voos.
Nós estamos lutando por isso. Hoje, a nossa única porta de entrada pela Europa é Lisboa. O que nós estamos até solicitando é que o voo seja para a cidade do Porto, que hoje tem mais disponibilidade de voos.
Caso a TAP não tenha interesse, vamos pleitear junto a outras companhias aéreas, a Iberia, a Ita Airways, da Itália, porque só uma opção para a Europa realmente é muito pouco para Minas Gerais.
Nós ainda temos uma quantidade muito grande de mineiros que, na hora que querem vir para a Europa, acabam indo para São Paulo ou para o Rio de Janeiro para poder viabilizar a sua vinda para a Europa.
E as nossas companhias brasileiras, como a Latam e a Azul?
Também estamos em contato, porque sempre tem uma reciprocidade. Se uma empresa portuguesa está operando uma linha, uma brasileira pode também complementar. Então, estamos fazendo o mesmo lá com a Azul e com a Latam.
O projeto de internacionalização de Minas Gerais começa por Portugal. A intenção é promover o estado também para o resto da Europa?
O processo de internacionalização sempre existiu. Desde que nós assumimos o Governo de Minas, seis anos atrás, nós temos feito um esforço muito grande para mostrarmos Minas Gerais. Iniciamos, é lógico, pelo Brasil. Muito do que Minas oferece era pouco conhecido dentro do Brasil e nós hoje temos um estado onde a atividade turística tem crescido muito acima da média e muito desse crescimento se deve aos turistas brasileiros.
Mas nós temos procurado divulgar Minas além do Brasil. Estamos iniciando esse trabalho aqui em Portugal, mas já temos definido que iremos também ao Chile, que passou a ter voos diretos e está tendo uma movimentação muito boa. Já foram ampliados os voos e devem ser ampliados novamente. Nós temos muito o que mostrar.
Quando as pessoas pensam em Brasil, só pensam em carnaval, em praia... E não em montanhas, em patrimônio histórico português que Minas Gerais tem, numa cozinha boa… Então, é um trabalho que vai levar um bom tempo e que precisa ter consistência, continuidade para dar resultados.
Não é vir aqui uma vez, promover e pronto, não. Você precisa sempre estar lembrando. Então, eu acho que é o início de um processo longo que nós estamos fazendo.
O ecoturismo está diretamente ligado à preservação ambiental e à valorização de belezas naturais, como as nossas montanhas (esta repórter também é mineira), que são tão representativas em Minas Gerais. Quais políticas públicas estão sendo implementadas para garantir que o crescimento do setor aconteça de maneira sustentável e respeitosa com o meio ambiente?
Eu falo que o turismo depende de uma série de fatores. Eu sempre tenho citado que um dos pontos que o turista sempre analisa é: eu estou indo para um lugar seguro? E Minas Gerais hoje é um dos estados mais seguros do Brasil. Eu estou indo para um lugar onde eu vou ter um certo conforto. Nós estamos recuperando as estradas que estão intransitáveis e é preciso alugar um carro especial para conseguir chegar.
E, além disso, uma infraestrutura hoteleira adequada. Estamos recebendo esse investimento do Vila Galé-Ouro Preto, que já está definido, e vai construir uma unidade também em Inhotim, na cidade de Brumadinho. Está só dependendo de uma questão de regularização fundiária que está pendente lá, mas já está sendo providenciada. E Minas Gerais, hoje, é um estado que tem zelado pela questão ambiental. [...]
E Minas Gerais ainda tem uma questão adicional de ter de fazer essa lição, porque dois dos maiores acidentes, tragédias ambientais do Brasil, talvez dos últimos 50 anos, aconteceram lá recentemente. A tragédia de Mariana e a tragédia de Brumadinho. Nós temos tomado todas as medidas para que isso nunca mais ocorra. Hoje, nós estamos nos transformando num Estado que será, para não dizer que já é, exemplo de preservação.
Somos o Estado do Brasil que mais gera energia fotovoltaica, que é uma energia sustentável, multiplicamos por vinte essa energia na minha gestão. Então, quem vai a Minas vai ver que esse esforço está sendo feito para deixarmos para trás esse rastro de não-respeito ao meio ambiente que já prevaleceu.
Quais são as principais áreas que o governo estadual espera atrair investimentos e parcerias comerciais durante essa missão aqui em Portugal?
Nós temos atraído investimentos em todas as áreas. Nós temos investimentos em mineração, que sempre foi tradicional no estado, em energia renovável, em siderurgia, em mecânica, no setor automobilístico. Então, para nós, qualquer investimento é bem-vindo.
A economia de Minas hoje cresce sempre numa taxa superior à economia do Brasil. E nós temos já, de concreto, com investidores portugueses, o hotel Vila Galé em Ouro Preto e uma fábrica de cápsulas de café na cidade de Varginha, que também está de acordo com a nossa lógica.
Nós queremos é que o café saia pronto para uso, e não um café in natura para poder ser industrializado fora de Minas Gerais. Dentro do possível, nós queremos seguir esse caminho.
Quais são os principais investimentos previstos para infraestrutura e capacitação de profissionais para tornar Minas Gerais ainda mais atrativa aos turistas?
Nós estamos concedendo vários lotes de rodovia. Já concedemos três lotes. E vamos conceder mais cinco. E a maior obra rodoviária dos últimos cinquenta anos vai ser o Rodoanel Metropolitano, que vai circular a região metropolitana e melhorar muito o trânsito de Belo Horizonte.
Essas concessões rodoviárias em todas as regiões do estado são de fundamental importância. Além delas, vamos ter a linha 2 do metrô na cidade de Belo Horizonte, que já foi iniciada…
Já está em execução e com um recurso reservado e garantido. Então, não é mais promessa. Eu falo que quando você ver alguma obra do meu governo, pode ter certeza que ou nós estamos reduzindo o grande cemitério de obras inacabadas, ou estamos começando alguma coisa com recurso para poder terminar.
Porque a minha bandeira é essa: é não fazer o que sempre foi feito, que é começar a obra, soltar o foguete e depois parar no meio do caminho. É o que mais existiu. Então, no meu governo, eu faço questão. A orientação número um para os meus secretários é essa. Nós só vamos iniciar aquilo que tem recurso para acabar. Caso contrário, é melhor não anunciar, que é o que sempre aconteceu.
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