Donald Trump. Crédito: Reprodução, X

Donald Trump. Crédito: Reprodução, X

Entre espetáculo e decretos, o trator de Trump em seu novo mandato

'Despertaremos a inveja em todas as nações', afirmou o presidente num dos seus primeiros discursos

21/01/2025 às 10:22 | 4 min de leitura | Dia a Dia
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Há o circo, e há a caneta. O primeiro dia do segundo mandato presidencial de Donald Trump teve muito em comum com a sua passagem anterior na Casa Branca. 

Do lado simbólico, bravatas, impropérios, quebras de protocolo e ameaças. Do concreto, uma enxurrada de medidas executivas destinadas a instaurar políticas que resultam em mudanças drásticas para a população dos Estados Unidos e do mundo.

O espetáculo veio primeiro. Devido a temperaturas congelantes, a cerimônia de posse aconteceu na rotunda do Capitólio, em um encontro restrito a cerca de seiscentos convidados, em vez das dezenas de milhares esperadas ao ar livre. 

Na disposição dos presentes, uma mudança notável em relação ao governo anterior.

Em lugar de destaque à esquerda do púlpito, as três pessoas mais ricas do mundo —respectivamente, Elon Musk, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg —compareceram para saudar o novo mandatário, deixando claro um alinhamento entre o setor da tecnologia e a Casa Branca inexistente no mandato anterior. 

Somada, a fortuna do trio supera 885 bilhões de dólares. 

Com uma gravata violeta que se tornou sua marca registrada, Trump começou seu discurso com uma de suas clássicas mensagens messiânicas, simultaneamente combinando promessas idílicas, descrições catastróficas dos adversários e intimidações implícitas a terceiros.

“A era de ouro dos Estados Unidos começa agora”, disse Trump, logo após saudar os presentes, incluindo todos os ex-presidentes vivos e a ex-vice-presidente e candidata derrotada, Kamala Harris. 

Deste dia em diante, nosso país irá florescer e será respeitado ao redor do mundo. Despertaremos a inveja em todas as nações. E não deixaremos que voltem a tirar vantagem de nós.

Em todos os seus discursos, Trump se comporta como se estivesse fazendo campanha, e assim foi a sua primeira fala após voltar a se tornar presidente da República. 

Algumas ideias de fundo que embasam o resto: a (velha) denúncia de que há um declínio a ser interrompido; a (nova) promessa de que seu governo será de união; a (presente desde a campanha) noção de agir em nome do “senso comum”.

Articuladas, essas noções servem para mascarar o que há de autoritário, dominador e radical no projeto do novo presidente, que, com a energia de uma vitória expressiva nas urnas, almeja ter um novo mandato muito mais ambicioso do que da vez anterior.

A força na ponta da caneta

Por coincidência, a posse de Trump caiu no Dia de Martin Luther King, um feriado nacional nos Estados Unidos. O novo presidente saudou o líder negro no discurso, dizendo que irá “se esforçar para tornar o seu sonho realidade”. 

Suas medidas executivas, ações dependentes apenas de canetadas, no entanto, pouco têm em comum com a esperança de King de que “a justiça seja uma realidade para todos os filhos de Deus”.

Mais de cem ordens executivas eram esperadas para o dia da posse, e elas foram sendo divulgadas ao longo do dia, em um ritmo vertiginoso difícil de digerir. Muitas miravam a fronteira e a migração. 

Uma delas força solicitantes de asilo a esperar no México; outra, a concluir o muro na fronteira. 

Enquanto a cerimônia de posse ainda acontecia, um aplicativo de celular que organizava a fila de solicitantes de asilo saiu do ar, levando às lágrimas pessoas que esperavam por uma audiência e estavam perto de consegui-la.

Algumas das ordens são inéditas, como envolver o Exército na segurança transfronteiriça. No mínimo uma das medidas deve gerar desafios legais: uma ordem para acabar com a cidadania automática de qualquer pessoa nascida nos Estados Unidos, o que inclui filhos de imigrantes irregulares. 

A medida entra em conflito com a 14ª emenda da Constituição dos Estados Unidos, e deve ser questiona nos tribunais.

Outras ordens põem em perigo a garantia da vida no planeta. Tal como fizera em seu primeiro mandato, Trump ordenou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. 

Os norte-americanos são o segundo maior emissor de carbono do mundo, atrás só da China, e a decisão terá impactos graves nos esforços para mitigar a mudança climática.

Também com efeitos nocivos sobre o clima, Trump decretou uma "emergência energética nacional", com o objetivo de aumentar a produção de energia doméstica e reduzir os custos para os consumidores. 

Na prática, ele revoga uma série de medidas do governo de Joe Biden de incentivo a veículos elétricos e energia limpa, e estimula a produção de petróleo e gás.

Em outra esfera, Trump assinou uma ordem para remover “orientações de ideologia de gênero” das comunicações, políticas e formulários do governo federal. 

A ordem torna política oficial a existência de “apenas dois gêneros, masculino e feminino”.

O próprio texto da medida é bastante insolente, e afirma que “as agências deixarão de fingir que homens podem ser mulheres e mulheres podem ser homens ao aplicar leis que protegem contra discriminação sexual”.

É impossível resumir todas as ações em um só texto jornalístico.

O novo governo determinou, por exemplo: 

  • que os Estados Unidos deixarão a Organização Mundial da Saúde, a OMS, que coordenou o enfrentamento global à pandemia de Covid; 
  • que pessoas condenadas pela invasão do Capitólio no dia 6 de janeiro de 2021 estão perdoadas; 
  • que funcionários públicos federais agora podem ser demitidos com maior facilidade; 
  • e que o Golfo do México agora se chama, para o governo americano, Golfo dos Estados Unidos.

Para além do ataque em múltiplas frentes, há outras medidas mais complexas reiteradas no dia da posse, mas que devem ficar para a frente. 

Entre elas, uma das mais exóticas é a tomada do Canal do Panamá, reforçada por Trump em seu discurso, supostamente para conter uma influência chinesa. 

“A China está operando o Canal do Panamá. E nós não o demos para a China, o demos para o Panamá. E estamos retomando-o”, afirmou Trump. 

Outra promessa é uma expedição tripulada a Marte.

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