Ator e diretor Vinícius de Oliveira falou com a BRASIL JÁ sobre sua experiência no Oscar e no Globo de Ouro. Crédito: Rafael Castilho

Ator e diretor Vinícius de Oliveira falou com a BRASIL JÁ sobre sua experiência no Oscar e no Globo de Ouro. Crédito: Rafael Castilho

Vinícius de Oliveira: 'Estamos em Hollywood com Fernanda Torres'

Em entrevista à BRASIL JÁ, ator comenta o reconhecimento tardio do cinema brasileiro, 25 anos após atuar em Central do Brasil

11/03/2025 às 14:30 | 6 min de leitura | Cultura, Diversão e Arte
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Em 1999, um menino subiu ao palco do Globo de Ouro em Los Angeles para receber, ao lado do diretor Walter Salles e da atriz Fernanda Montenegro, o prêmio de Melhor Filme Internacional por “Central do Brasil” —obra que revelou o cinema brasileiro ao mundo.

Hoje, aos 39 anos, o ator e diretor Vinícius de Oliveira celebra outro marco da sétima arte nacional: o sucesso de “Ainda Estou Aqui”, dirigido pelo mesmo Salles, e que rendeu à atriz Fernanda Torres o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama neste ano

Após o estrondoso sucesso de “Central do Brasil”, Vinícius recebeu convites para novelas, mas foi no cinema que construiu sua trajetória, com participações em obras aclamadas como “Abril Despedaçado”, “Linha de Passe”, “Assalto ao Banco Central”, “Boi Neon” e “Dente por Dente”.

No streaming, destacou-se recentemente em “Não Foi Minha Culpa” da Disney e, em 2024, estreará nos cinemas os filmes “Os Quatro da Candelária”, “Leite em Pó” e “Rio de Sangue”, além da série “Tremembé”, no Prime Vídeo.

Nascido e criado no Rio de Janeiro, Vinícius vive em São Paulo com os filhos Benjamin e Antonio, de 11 e 9 anos. Sua história, porém, começou no complexo de favelas da Maré, na Zona Norte carioca, onde sonhava em ser jogador de futebol —e depois quase se torna mesmo um atleta.

A arte, no entanto, traçou outro destino —e o mundo ganhou um talento. A BRASIL JÁ publica trechos da entrevista que o artista concedeu logo após a vitória de Fernanda Torres, filha de sua primeira e eterna parceira de cena, Fernanda Montenegro. Confira!

Josué do filme “Central do Brasil” é o início de tudo na sua carreira. Quer nos contar o que significou ou ainda significa o personagem para você? 

Josué foi meu ponto de partida [na atuação] e me fez chegar ao lugar onde eu estou hoje, não só como ator ou artista, mas como ser humano. A minha visão de mundo parte dali, do Josué de “Central...”, dos contatos que eu tive no entorno com Walter [Salles, diretor], com a Fernanda [Montenegro], que são seres humanos incríveis e refletem até hoje na minha vida, no meu modo de viver, na minha visão de mundo e minhas reflexões, além, claro, no meu modo de trabalhar como artista, como ator.

Vinícius de Oliveira e Fernanda Montenegro em "Central do Brasil". Crédito: Divulgação

 Você teve o privilégio de iniciar a carreira tendo a Fernanda Montenegro como referência de trabalho, de método de construção de personagem. Imagino a riqueza.

Com certeza. Sempre que eu vou para um set de filmagem ou estou pensando em um personagem, a Fernanda Montenegro é a primeira pessoa que me vem à cabeça como referência. Penso sempre no que ela fez no “Central...”, tentando resgatar na minha memória. O que ela faria? Isso não apenas para construir um personagem. Sempre que eu vou para o set de filmagens lembro de como era o comportamento dela com as pessoas ao redor, em saber lidar com quem está no entorno, trabalhando junto. Então, o “Central...” é uma base muito forte na minha vida. Um alicerce muito poderoso. Fernanda sempre foi muito organicamente próxima, cheia de amizade, de carinho e de cuidado. Durante as filmagens, ela tinha esse olhar carinhoso, preocupado em fazer com que eu tivesse bem em cena. Elanão me cobrava as coisas, muito pelo contrário: ela me dava apoio, dicas, sempre de maneira muito terna. Na verdade, os dois, tanto ela quanto o Walter eram muito atenciosos. Pensar na Fernanda Montenegro é pensar num ser humano que deu certo.

 De lá para cá, depois do “Central...”, você seguiu sendo artista, sendo ator e desempenhando o seu ofício. Ficou óbvio depois?

A coisa do ator se fixou muito forte em mim. Tanto que logo depois de “Central do Brasil” fiz outros trabalhos, fui convidado para fazer o “Linha de Passe”, que é outro filme do Walter Salles e da Daniela Thomas.Eu fui convidado lá no início, ainda nem tinha roteiro, só tinha o argumento, mas eu já sabia qual era o personagem: um aspirante a jogador de futebol. Aí, eu comecei a fazer a escolinha de futebol do Zico, a treinar,a melhorar no esporte que eu já gostava, mas ainda achava importante melhorar essa parte técnica e física. Os meus professores gostavam tanto do meu futebol que ficavam o tempo inteiro pedindo para eu fazer teste no CFZ, que é o time profissional do Zico. Aquilo, claro, dava uma mexida.Eu pensava: pô, será que vou, o que eu faço? Na verdade, minha arte sempre esteve ligada na questão da direção, de ser diretor.

O que você estudou?

Eu fiz faculdade de cinema. Comecei fazendo a PUC no Rio de Janeiro, depois eu vim para São Paulo, onde também fiz um pouco de Faap. Sempre foi uma vontade muito grande, latente em mim. Já dirigi alguns curtas, tô com projetos de roteiro na praça. Estou naquela busca de venda, de parcerias. Quero ver se entro de vez nesse lugar de direção mesmo. Claro, eu não estou pensando em abandonar a atuação, porque gosto de atuar e tô disponível ainda, mas a coisa da direção é muito forte. Tenhomuita vontade de fazer meu primeiro longa.

Vinícius de Oliveira chegou a flertar com o futebol mas se formou em cinema. Crédito: Rafael Castilho

Você fez mais cinema que televisão. Foi uma opção por causa dasua ligação com a linguagem cinematográfica ou acabou sendo da vida mesmo?

Uma opção e acabou acontecendo. Eu sempre me vi no audiovisual eestruturei junto da minha empresária a importância do audiovisual e de continuar fazendo cinema, porque foi o lugar de onde eu vim, onde nasciartisticamente e pelo que sou realmente apaixonado. Cinema é a minha praia. É claro que vêm as séries agora. Elas têm uma linguagem parecida, o mesmo pessoal que faz cinema. É bacana também fazer. Mas o cinema é o tempo inteiro, é o que eu quero fazer sempre.

Você era uma criança quando esteve no Globo de Ouro e no Oscar. O que você lembra dos bastidores?

De lembrança da época, dos bastidores do prêmio, eu me lembro da emoção de estar ao lado de grandes estrelas de Hollywood, dos atores e atrizes que eu via na tevê, nos filmes e, claro, a ansiedade pela hora da premiação. E, quando o filme ganhou o Globo de Ouro —igual à Fernanda Torres ao ser vencedora do Globo de Ouro agora— foi um susto e uma felicidade muito genuína, absolutamente não esperada. Porque uma coisa é quando a felicidade é planejada pela possibilidade da vitória, outra é a felicidade com o que é concreto, com o que acaba de acontecer diante dos nossos olhos. O coração bate diferente [risos]. É muito lindo!

 A vitória da Fernanda Torres é muito importante para o cinema brasileiro, para o cinema em língua portuguesa.

Fernanda Torres ganhar esse prêmio é não só um reconhecimento pelo seu belíssimo trabalho no filme, como um reconhecimento tardio dos talentos brasileiros, da nossa cinematografia. É estamos em Hollywood, no olho do furacão das grandes premiações norte-americanas, 25 anos depois de ganharmos aquele Globo de Ouro com “Central do Brasil”. É um hiato grande demais dada a qualidade do nosso cinema. Que a partir de agora haja um olhar mais generoso e justo dos votantes para o cinema brasileiro. E, claro, que tenhamos aqui no Brasil também boa vontade e investimento nos filmes com potencial para chegar nesses prêmios. No mais, estamos em estado de euforia máxima com essa premiação para Fernanda. Viva nosso cinema!

Vinícius de Oliveira e Fernanda Montenegro no Globo de Ouro. Crédito: Reprodução

Falando sobre o cinema brasileiro, a indústria do audiovisual, no que você acha que precisamos melhorar?

Acho fundamental aproveitar o momento para abrirmos um diálogo sobre o preço dos ingressos das nossas salas de cinema. Não podemos pedir a presença do público nos nossos filmes cobrando caríssimo pelo ingresso. Temos que entender que o nosso público só vai crescer incluindo a classe C, a D, a E, essa parte da população que é a maioria esmagadora por aqui. É preciso boa vontade de todos os agentes que realizam e exibem nossos filmes, assim como do poder público que pode perfeitamente fomentar esse processo. Está mais do que na hora de começarmos a debater e resolver isso.

As novas possibilidades de produção audiovisual ampliaram e melhoraram tanto na quantidade do que é feito quanto no acesso do público, não?

Sem dúvida ampliou. Para o ator, é ótimo. Há um leque depossibilidades. Ao mesmo tempo, vejo que os streamings, às vezes, tendem a buscar muita gente com rótulo de famosinho, com muitos seguidores nas redes sociais, abandonando o artista com anos de estrada e talento comprovado. Teve um tempo no início dos anos 2000, mais ou menos, que o cinema brasileiro pegava muitos globais [atores contratados pela TVGlobo] para fazer filmes. Era a galera que estava bombando nas novelas. Queriam ver se conseguiam bilheteria. Mas essa nunca foi a fórmula que deu certo. Tanto no cinema como nos streamings não tem dado certo. Se a gente parar para pensar nas séries que estão com sucesso, são séries boas de verdade, não é porque está com essa ou aquela galera. É com elenco de atores e atrizes de verdade e que surgiram do teatro, do cinema, e não porque surgiram como influencer.

A série “Um Dia Qualquer” [disponível no Max] em que você faz Maciel trata de milícias, um tema urgente e preocupante no Rio de Janeiro.

A gente está torcendo muito para uma terceira temporada. Depende da audiência, mas a primeira temporada foi muito bem, principalmente no Rio de Janeiro. Por causa do Maciel eu fui instigado a estar com um preparo físico melhor, um pouco mais forte, digamos. Fui provocado.Porque, na primeira temporada, eu sou um miliciano muito franzino, mais trabalhado na base da arma. Pra essa segunda temporada, eu pensei que poderia dar um up nessa coisa visual. Principalmente porque nessa segunda temporada, o Marcel vem mais forte, muito ambicioso, a ponto de liderar a milícia num determinado momento. Então, eu julguei interessante, claro, conversando com a direção, que o Marcel poderia ganhar mais corpo, indicando mesmo essa evolução. Não só no quesito da ambição, mas fisicamente também.

Como foi esse o desafio, difícil? 

Sim. Mas fui ao médico. Tomei remédios. Tudo muito bem balanceado para poder ganhar massa num curto espaço de tempo. Porque tem isso. Quando eu decidi, faltavam uns três, quatro meses para começar a gravar. Aí, cara, você precisa dar um gás a mais.

Meio que aquela preparação de carnaval.

[risos] Mas foi tudo direitinho, com médico, tudo muito bem pensado. Dieta certinha e sem sofrer nenhuma consequência.

Além de uma possível terceira temporada da série, o que há mais?

Na direção, eu tenho roteiro na praça e estou batendo nas portas; e estou desenvolvendo outro projeto, ainda na fase de argumento. Como ator, na Netflix, estou em “Os Quatro da Candelária”, que é sobre a chacina da Candelária, no Rio de Janeiro. Para 2025, há três longas para lançar, dois em que eu sou protagonista, um chama “Leite em Pó”, e tem um outro longa que fiz com o José Carlos Eduardo Belmonte. A gente filmou em Detroit. Somos três protagonistas. Sou eu, um ator uruguaio que mora na Argentina, e uma atriz norte-americana, que é a Angela Sarafyan. Há, ainda, outro filme de ação, que eu faço uma participação e que se chama “Rio de Sangue”, com a Giovanna Antonelli. A gente pode dizer também que tem uma série para 2025, além dos três longas. A série é “Tremembé”,do Prime Vídeo, e que terá a Marina Ruy Barbosa no elenco sendo a Suzane von Richthofen.

Vinícius de Oliveira fez preparação corporal para viver Maciel da série "Um Dia Qualquer". Crédito: Rafael Castilho

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