Torcida do Flamengo. Crédito: Paula Reis, Flamengo, Divulgação
Flamengo e Leixões: uma negociação ainda incerta às vésperas das eleições
Escolha do novo presidente do clube carioca será no dia 9, e só um dos três candidatos se compromete com o negócio, atualmente em standby pelo clube português
25/11/2024 às 12:48
| 4 min de leitura
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Eleitores do Clube de Regatas do Flamengo decidem no dia 9 de dezembro quem será o novo presidente da instituição. A escolha trará reflexos para além-mar, sendo determinante para o futuro de uma polêmica negociação entre o clube carioca e uma equipe portuguesa: o Leixões.
A gestão da tradicional equipe da cidade de Matosinhos poderá ser concretizada caso o candidato Rodrigo Dunshee —atual vice-presidente jurídico e geral do clube— saia vencedor.
Mas se o escolhido for um dos outros dois postulantes de oposição ao cargo, Luiz Eduardo Baptista, conhecido como BAP, ou Maurício Gomes de Mattos, ambos ex-aliados de Rodolfo Landim, atual presidente do Flamengo e idealizador do acordo, o projeto será abandonado.
O acordo entre o Flamengo e o Leixões, hoje na segunda divisão portuguesa, está parado desde agosto. A atual gestão rubro-negra tentou aprová-lo numa reunião do Conselho Deliberativo, a quem cabe a palavra final sobre o tema.
Entretanto, o racha dos conselheiros, potencializado pelo clima das eleições de dezembro, forçou o presidente Landim, maior entusiasta do negócio, a recuar e retirar o acordo da pauta.
O presidente da SAD do Leixões —um modelo parecido com o de Sociedade Anônima de Futebol no Brasil—, André Castro, chegou a ir ao Rio de Janeiro para uma reunião com dirigentes do Flamengo. Saiu dizendo que estava tudo acertado. Mas não estava.
A possibilidade de fracasso do negócio foi confirmada pelo próprio presidente do Leixões, que admitiu a seus sócios que as indefinições geradas pelas eleições do Flamengo paralisaram o andamento da negociação.
Pesquisas indicam cenário disputado
Uma pesquisa conduzida pela empresa INPR, com 434 sócios do Flamengo e margem de erro de 2,5 pontos percentuais, revelou o seguinte cenário:
Pesquisa estimulada
- Rodrigo Dunshee: 39,8%
- BAP: 31,4%
- Maurício Gomes de Mattos: 17,5%
- Indecisos: 6,2%
- Branco e nulo: 5,1%
Rejeição estimulada
- Rodrigo Dunshee: 38,2%
- BAP: 34,9%
- Maurício Gomes de Mattos: 26,9%
O nível de confiança da pesquisa é de 95%. O levantamento foi realizado entre os dias 10 e 16 de novembro.
Divisão entre os candidatos e impactos da eleição
Dos três candidatos à presidência do Flamengo, só Rodrigo Dunshee inclui a gestão da SAF do Leixões como uma prioridade em sua plataforma. Ele acredita que a parceria será estratégica para a internacionalização do clube carioca, ampliando sua influência no futebol europeu e criando uma via para o desenvolvimento de jovens talentos. No entanto, Dunshee enfrenta desafios consideráveis.
“Infelizmente, houve uma travada nesse projeto porque o próprio Leixões ficou desestimulado. Os candidatos começaram a politizar essa questão”, disse Dunshee, recentemente. Ainda assim, ele defende que o acordo é vantajoso para o Flamengo:
“[É] Investir num clube onde o Flamengo poderia assumir a operação sem custo e ficar três anos para avaliar se seria vantajoso ou não. Haveria um custo mensal, mas não de aquisição. Era muito bom, mas alguns candidatos começaram a criticar o projeto, afirmando que não seria cumprido. O Leixões está assustado e preferiu esperar pela eleição”.
Já BAP tem se declarado contra o negócio, e sua boa performance nas pesquisas levou o Leixões a pisar no freio.
“Vai internacionalizar a marca do Flamengo comprando um clube da segunda divisão de Portugal? E nós que fazemos piada com portugueses... Tolice. O que vai internacionalizar a marca do Flamengo é pegar o sinal da Globo, que esse contrato de transmissão de TV permitiu, e levar o sinal do Flamengo para qualquer buraco do mundo que queira assistir a gente. Segunda divisão de Portugal? Isso é tolice!”, afirmou BAP.
Assessores de Dunshee informaram à BRASIL JÁ que dirigentes do Leixões já enviaram recados temendo que o contrato, se assinado, poderia ser rescindido por BAP.
Maurício Gomes de Mattos, por sua vez, se mostra mais cauteloso com a retomada das negociações. Ele promete respeitar o que for definido pelo Conselho Deliberativo do Flamengo: “Se o Conselho quiser, eu vou tratar o Leixões como tem que ser tratado”.
Em declaração à BRASIL JÁ, Mattos acrescentou ser a favor de "qualquer bom negócio para o Flamengo", mas que por ora não tem como avaliar a negociação com o Leixões.
"O que se sabe disso? Qual informação ou explicação foi dada pela atual gestão? Ser contra ou a favor seria achismo ou discurso eleitoreiro. A verdade é que não abriram nenhuma informação sobre isso até agora", disse.
O candidato tem afirmado que prioriza a abertura de mais “embaixadas” e Casas do Flamengo, com licenciados a custo zero em áreas com viabilidade.
Em relação aos resultados da pesquisa do INPR, Matos contesta a liderança de Dunshee, dizendo que o concorrente só lidera as intenções de voto "na pesquisa dele".
Precipitação do Leixões e influência da mídia
Outro fator que trouxe incertezas ao projeto foi a postura precipitada do presidente da SAF do Leixões que chegou a dar o negócio como fechado no início das negociações. A declaração gerou protestos entre os torcedores do Leixões, que temem perder a identidade do clube, além de repercutir negativamente entre conselheiros do Flamengo.
A cobertura midiática também contribuiu para o clima de indefinição. Alguns veículos de imprensa noticiaram de forma apressada que o acordo estava fechado, o que não era verdade. Isso aumentou a pressão sobre ambas as partes, levando o Flamengo a postergar as decisões até que se realizem as eleições.
A força do Flamengo e os desafios da internacionalização
O Flamengo, dos maiores campeões da América do Sul nos últimos anos, é um dos clubes mais valiosos do continente. Com uma torcida estimada em mais de 42 milhões de pessoas —quatro vezes a população de Portugal—, o clube é um gigante no mercado brasileiro e uma marca de peso global.
Para os defensores do projeto, assumir a gestão do Leixões representa é oportunidade para expandir a marca, entrar no mercado europeu e estabelecer uma base para o intercâmbio de jogadores. Contudo, o clube português enfrenta dificuldades financeiras e estruturais.
Procurados pela BRASIL JÁ, Dunshee e BAP não quiseram dar entrevistas sobre o assunto. A revista também não conseguiu contato com André Castro, do Leixões, nem com Rodolfo Landim, do Flamengo.
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