Uma celebração da identidade de Brasil e Portugal é a proposta de “Notícias do Brasil”, que pretende reviver memórias sonoras entre as duas nações irmãs através da música.
Uma ponte de afetos e o ponta péno projeto será com o cantor e compositor brasileiro Zé Renato, que receberá António Zambujo, grande nome da música portuguesa. Eles são amigos e parceiros musicais de longa data.
Conversamos com Zé Renato, que está prestes a completar 50 anos de carreira e tem mais de vinte álbuns solo gravados.
Com sua voz marcante na MPB, elevive entre o Rio de Janeiro e Lisboa, e é integrante do grupo vocal Boca Livre, além de ser parceiro musical de nomes como Milton Nascimento, Lenine e Joyce.
Zé Renato também já participou de gravações e projetos especiais ao lado do maestro Tom Jobim, e suas canções já foram interpretadas por Zizi Possi, Leila Pinheiro, Milton Nascimento, Lulu Santos, Nana Caymmi e outros.
O que o público vai conferir em “Notícias do Brasil”?
No roteiro do show eu procurei reunir algumas canções que fazem parte da minha trajetória. Não só canções minhas, mas também canções de compositores que são referências para mim, como por exemplo “Ponteiro”, que é uma música de Edu Lobo e Capinan, e que eu regravei recentemente com Edu e fez parte da trilha sonora da novela Rancho Fundo.
“Ânima”, que é uma música em parceria com Milton Nascimento, que foi título do disco do Milton em 82. E algumas canções que eu nunca gravei, mas que são de compositores importantes, como por exemplo “Cantador”, que é uma música de Dori Caymmi e Nelson Mota. “Coração Vagabundo”, de Caetano Veloso. “Eu Te Amo”, que é uma parceria de Tom Jobim com Chico Buarque de Holanda.
“Até a festa esqueceu”, uma música que eu fiz recentemente com Cuca Rosetta. E algumas canções que eu vou cantar também com António Zambujo. Uma delas é “Quando Tu Passas Por Mim”, música de Vinícius de Moraes, que já cantamos juntos algumas vezes e “Travessia”, que é um clássico brasileiro de Milton Nascimento e Fernando Brant. Essas são algumas das canções que o público vai ouvir no show.
Quase 50 anos de carreira. Passa um filme ao observar e olhar o começo?
No ano que vem eu vou completar 50 anos de carreira e realmente passa um filme, né? A gente acaba em datas como essa fazendo uma revisão e pensando na trajetória, em tudo que eu fiz e eu me considero uma pessoa de sorte, pude ter contato com vários ídolos, trabalhar com vários ídolos.
Pessoas como Tom Jobim, Milton Nascimento, Edu Lobo, Chico Buarque. Então, pra mim, é uma trajetória que me orgulha muito. Eu acho que eu fiz o trabalho com o Boca Livre, claro, que ainda permanece, que é o quarteto vocal brasileiro, que eu faço parte com muito orgulho.
Então, eu acho que isso é um filme que tem um enredo, um roteiro que me deixa muito feliz. Fazer música e morar no Brasil, a minha vivência no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, foi fundamental para que eu me tornasse o músico que eu sou.
Como foi esse início de carreira?
O meu início de carreira foi através dos festivais estudantis, festivais de colégio. Comecei tocando em festivais e passei a fazer parte de um grupo chamado “Cantares”, em 1976, que se apresentava pelo Rio de Janeiro, tinha espaços alternativos, era um grupo iniciante e para mim foi um momento importante.
Na época eu compus algumas músicas que posteriormente foram gravadas pelo Boca Livre. Então eu tive início de carreira, claro que com todas as dificuldades de um músico iniciante, mas acho que foi um início importante porque tive contato logo com pessoas e parceiros.
Nos fale sobre seu trabalho no Boca Livre.
O trabalho com Boca Livre começou em 78, quando eu e o Cláudio fomos convidados para começar a ensaiar com o Maurício e o Davi. Foi a primeira formação do Boca Livre. E imediatamente começamos a gravar com o Edu Lobo e excursionar com ele pelo Brasil.
Isso foi importantíssimo para nós. Tentamos gravar nas grandes gravadoras mas nenhuma acreditou naquela sonoridade. Achavam que não era vendável e tudo mais. Por isso resolvemos fazer um disco independente que se tornou histórico. Porque vendeu 100 mil cópias no momento que para a produção independente era muito...
A distribuição, especialmente, era muito precária. Mas, mesmo assim, a gente conseguiu esse feito histórico de ter músicas tocando em novelas e fazendo programas de televisão. Então, acho que o Boca Livre é um grupo que é marcante na minha vida e tem o seu lugar, um lugar de honra na história da música brasileira.
Você tem grandes parcerias na sua trajetória. Como foram esses encontros musicais?
Olha, eu tive a sorte, realmente, de ter muitas parcerias, de ter grandes parceiros como o Juca Filho, que no início, Chico Chaves, que são parceiros com quem eu fiz muitas canções, que se tornaram sucessos, com o Boca Livre, Cacazo, essa parceria com o Milton Nascimento, que para mim foi também um presente. Temos duas canções, Ânima e Ponto de Encontro.
E foram sempre assim, com o Milton, por exemplo, foi um encontro que eu jamais imaginei na minha vida que eu pudesse estar ao lado dele, fazendo canções. E isso, certamente, para quem tenha... E eu estava num... Já existiu o Boca Livre, já fazia parte do Boca Livre, mas foi um encontro marcante, certamente. E outras parcerias, por exemplo, mais recentemente, Zé Cabaleiro, que é um grande compositor brasileiro, com quem eu tenho algumas canções, Joyce Moreno.
Então, eu tenho... Assim, são parceiros muito diversificados. Pedro Luiz. Eu tenho... Assim, é... São vários amigos e parceiros, amigas. Então, eu, como não faço letras, realmente, eles são fundamentais na minha vida. Então, a minha história como compositor, ela está muito ligada a esses parceiros todos. Eu falei aqui de alguns, mas tem vários outros. Eu falei aqui...
Como foi o contato com o maestro Tom Jobim?
O contato com o maestro Antônio Carlos Jobim aconteceu primeiro, quando ele participou do disco “Bicicleta” , o segundo disco do Boca Livre. Que foi em 1980. A partir daí, depois disso ele me convidou para participar da trilha sonora da minissérie “O Tempo e o Vento”, na TV Globo.
E aí logo em seguida eu também o convidei pra participar do disco que eu gravei, e ele então participou. Gravamos isso inclusive na casa dele junto com o maestro Jaques Morelenbaum no violoncelo. Eu tive essa felicidade de trabalhar junto com ele.
Então é uma coisa que me deixou, obviamente muito envaidecido, muito honrado e isso é uma página importante na minha história com certeza, inesquecível.
E sua relação com Portugal? Quando começou?
A minha história com Portugal começou, de fato, em 2001, quando cá estive e gravei um disco com um grupo que já não existe mais, mas chamava-se “Trinados”. Gravamos um disco no estúdio, inclusive, do Rui Veloso, que é um grande amigo também, um grande cantor, um amigo que eu tenho em Portugal, e o repertório misturava canções brasileiras e portuguesas.
O disco se chama “Navegante”, e o Rui até canta comigo uma canção. Então começou aí, eu comecei, de fato, a ter um contato maior com a canção portuguesa a partir desse disco.
Seu show terá uma participação de António Zambujo. O que você mais gosta na música portuguesa?
Meu show terá essa participação maravilhosa do António Zambujo, que é uma das vozes mais bonitas para mim. E o que eu gosto na música portuguesa são canções, boa parte delas, as canções clássicas. Algumas eu gravei nesse disco que fiz em 2001 como “Canção do Mar”, que eu vou cantar inclusive no show. “Saudade do Brasil em Portugal”, que é uma música do Vinícius de Moraes, mas é um fado.
E tem essa melancolia, essa tristeza linda que existe na canção portuguesa, de uma forma geral pelo menos é que o que mais me atrai na canção, o que mais me deixa emocionado são as canções mais tristes, a tristeza que tem no fado.
Mas são várias canções lindas, portuguesas, e esses intérpretes, o Zambujo, a Cuca Rosetta, e é claro que a Amália Rodrigues, que foi onde eu me baseei até para construir o repertório desse disco que gravei aqui em Portugal, Cátia Guerreiro, que é outra grande cantora, Marisa…
O projeto é promovido pela Junta da Freguesia de Benfica e tem a curadoria de Nei Barbosa. Esse ano ainda terão outros quatro encontros nos meses de março, setembro, outubro e novembro, sempre às 21h30, no auditório Carlos Paredes.
Em março (dia 27) sobem ao palco a guitarrista franco-venezuelana Elodie Bouny, a cantora brasileira Nani Medeiros, e o maestro argentino Martin Sued, que toca bandoneón e dirige a Orquestra Assintomática.
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