O presidente de Governo da Espanha, Pedro Sánchez, teve o seu "Dia do Fico" nesta segunda (29). "Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto! Digam ao povo que fico." Não, Sánchez não repetiu as palavras de dom Pedro, então príncipe-regente do Brasil, em 9 de janeiro de 1822. Mas foi quase.
Há mais de dois séculos, Dom Pedro anunciou a permanência no Brasil anos depois de a família real portuguesa fugir para a ex-colônia com medo do expansionismo de Napoleão Bonaparte. O príncipe-regente decidiu que seguiria em solo brasileiro, apesar da pressão da corte para que ele voltasse a Lisboa.
O objetivo dos parentes de dom Pedro era fazer o Brasil voltar à condição de colônia, ainda que àquela altura já fôssemos um Reino Unido a Portugal e Algarve
Com o "fico" do príncipe, não houve retrocesso e o episódio entraria para a História como um dos marcos do processo de libertação política dos brasileiros das amarras portuguesas.
A situação de Sánchez também envolve um drama familiar —e nisto se esgotam os paralelos entre os casos.
Tempo para refletir
Na semana passada, o presidente espanhol cancelou compromissos públicos e divulgou uma carta afirmando que meditaria sobre a permanência na chefia do Executivo espanhol. "Seguirei trabalhando, mas cancelarei minha agenda pública para refletir e decidir que caminho seguir", afirmou.
O comunicado foi divulgado no mesmo dia em que um tribunal de Madrid confirmou ter aberto um inquérito preliminar por tráfico de influência e corrupção supostamente praticados pela esposa de Sánchez, Begoña Gomez.
A investigação foi motivada por denúncia de uma organização chamada Mãos Limpas, ligada à extrema direita espanhola. Dias depois do inquérito ser instaurado, a entidade afirmou ter montado a acusação com base em reportagens —uma delas já se demonstrou que se trata de desinformação.
Ao ser confrontada com a possibilidade de as notícias serem mentiras, a Mãos Limpas saiu pela tangente, afirmando que a responsabilidade seria atribuída aos veículos que publicaram as reportagens. De qualquer modo, não parece que a denúncia vai avançar.
O Ministério Público já pediu o arquivamento do inquérito por entender que não há indícios de crimes para abrir um procedimento penal contra Begoña Gomez. Fato é que Sánchez, com o anúncio de possível saída do governo, deu uma das suas já notórias cartadas em momentos complicados.
Na "carta à cidadania", como batizou o documento, o presidente afirmou que o ataque (contra a sua esposa) não tinha precedentes e que, portanto, ele precisava parar para, junto de Begoña, refletir.
Apoio e decisão de ficar
Na sequência, Sánchez recebeu suporte e pedidos para que ele continuasse na Presidência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos que manifestou apoio ao aliado.
Lula publicou no X (ex-Twitter) ter conversado com Sánchez para expressar solidariedade, e elogiou o homólogo pelo papel e liderança na Europa.
As manifestações a favor de Pedro Sánchez parecem ter surtido efeito porque, nesta segunda, ele fez novo anuncio afirmando que fica na Presidência. "Decidi seguir com mais força se é possível à frente da Presidência do Governo da Espanha", declarou.
No Palácio da Moncloa, sede do governo espanhol, Sánchez veio a público afirmar que assumia o compromisso de trabalhar sem descanso, com firmeza e com generosidade pela regeneração pendente da nossa democracia, e pelo avanço e consolidação dos direitos e liberdades".