Portugal aprovou, no início do mês passado, um plano com sessenta medidas para acelerar a economia do país. O ponto 53 do programa desenhado pelo governo visa, entre outros objetivos, a qualificação e a integração de jovens de países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) —que o Brasil integra— na rede de escolas de hotelaria e turismo lusitana.
O turismo em Portugal tem números nada desprezíveis. O setor contribui com 17% do produto interno bruto (PIB) do país, segundo relatório da empresa de gestão turística GuestReady, enquanto no Brasil o mesmo dado representa 8% do PIB.
E, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE) de Portugal, em 2023 a chegada de turistas estrangeiros ao país somou 26,5 milhões de pessoas, 19,2% mais que o ano anterior e 7,7% mais que em 2019, no período pré-pandemia de covid.
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Tendo os resultados em conta —e lembrando que em entrevista à BRASIL JÁ o presidente da agência de fomento do turismo brasileiro (Embratur), Marcelo Freixo, disse que o país aposta no desenvolvimento do segmento —, então a parceria entre Brasil e Portugal é bem-vinda.
Ao menos é o que demonstra o Ministério da Economia português em resposta à reportagem.
Depois do lançamento do projeto voltado para a CPLP, a BRASIL JÁ enviou perguntas ao ministério buscando detalhar de que forma as parcerias com os nove países da CPLP iriam se estabelecer.
Fazem parte da comunidade de falantes de português, por ordem alfabética: Angola, Brasil, Cabo Verde Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Oficialmente, no dia do lançamento do programa de aceleração da economia, o governo português informou que a medida para costurar parcerias estratégicas no setor hoteleiro e turístico visa a qualificação de jovens nos países da CPLP. Mas como?
Em linhas gerais, a estratégia traçada se apoia em três eixos:
1. "Assegurar um alcance internacional da marca da rede de escolas de hotelaria e turismo do Turismo de Portugal no contexto da CPLP , através de modelos de gestão de escolas partilhado;
2. Apoiar localmente países da CPLP na qualificação dos seus jovens através do estabelecimento de parcerias estratégicas com standards de qualidade reconhecidos pelo turismo de Portugal;
3. Contribuir para a melhoria das condições de vida das populações destes países através da sua integração no mercado de trabalho".
E por que o Brasil?
Em veículos portugueses, o Brasil vira e mexe é citado como o gigante econômico entre os países de língua portuguesa. Portanto, a estratégia lusitana de incluir o país nos planos de internacionalizar a escola de hotelaria e turismo de Portugal é óbvia.
Nesse sentido, o Ministério da Economia informou na resposta à reportagem que "a internacionalização [das escolas de hotelaria e turismo] passará pela extensão acelerada da rede de escolas, numa primeira fase, para países da CPLP, e em que, por isso, naturalmente a República Federativa do Brasil estará enquadrada".
Embora tenha se referido a uma primeira fase, a resposta do ministério não citou data para a implementação do programa.
A pasta do Executivo português acrescentou que Portugal e o Brasil "mantém um relacionamento único e a nível bilateral a cooperação tem sido dinâmica em áreas tão distintas como economia, inovação, finanças, comércio, indústria aeronáutica, energias, sustentabilidade e educação".
A inclusão do turismo nessa carteira de parcerias é, então, um novo flanco de ações junto ao Brasil que busca o governo português.
"Pretende-se, agora, imprimir uma nova ambição no sentido de apostar no reforço da dimensão da cooperação ao nível da formação e da mobilidade de talento [brasileiro]", afirmou o ministério.
Mas no que consiste o programa?
Afirma o Ministério da Economia que o modelo envolverá "a definição e implementação do modelo de gestão das escolas de hotelaria e turismo em nível de gestão administrativa, financeira e de recursos humanos".
E também contempla a "gestão pedagógica, concepção e gestão de portfólio de cursos ajustados às especificidades e necessidades de cada mercado e à dupla certificação dos jovens e dos profissionais".
Lembra a pasta portuguesa que o lançamento da proposta coincide com o início das celebrações do bicentenário das relações Brasil-Portugal, que será celebrado em 29 de agosto do próximo ano.
Na mesma data, em 1825, foi assinado o tratado do Rio de Janeiro, que marcou o início das relações diplomáticas entre os países.
"Estamos muito confiantes de que esta relação sairá muito reforçada numa área fundamental e estratégica para os dois países como é o setor do turismo", informou o ministério.