Terremoto que varreu Lisboa no século 18. Crédito: Discover Walks, Reprodução

Terremoto que varreu Lisboa no século 18. Crédito: Discover Walks, Reprodução

Pior terremoto em Portugal, em 1755, causou tsunami que atingiu a costa brasileira

Desastre também inspirou nome de albúm da banda Moonspell, que gravou uma versão de 'Lanterna dos Afogados', do Paralamas do Sucesso

26/08/2024 às 17:34 | 4 min de leitura
Publicidade Banner do empreendimento - Maraey

O pior terremoto que atingiu Portugal ocorreu em 1755, o maior desastre da história do país, destruindo Lisboa e chegando a repercutir no Brasil, do outro lado do Atlântico. Na madrugada desta segunda (26), um novo tremor —mais fraco— também chacoalhou parte de Portugal e assustou a população.   

Relatos históricos da época do maior terremoto em terras portuguesas e na Europa registram que o tremor não só causou destruição, mas também formou um tsunami que varreu a costa de Portugal com ondas de até seis metros de altura. 

A ondulação gigante causada pelo sismo de 8,7 na Escala Richter percorreu mais de 5,7 quilômetros, até chegar às Antilhas.  

Ao longo dos anos, o desastre natural ocorrido no século 18 continua a ser analisado e pesquisado por especialistas. O trágico incidente marcou a história portuguesa e, por outro lado, serviu de inspiração, por exemplo, na música. 

Foi o caso da banda Moonspell, um dos maiores nome do heavy metal em Portugal. Em 2017, o grupo gravou um disco todo cantado em português intitulado "1755", em referência ao ano em que houve o terremoto. 

Neste mesmo álbum, o grupo lançou uma versão de "Lanterna dos Afogados", da banda brasileira Os Paralamas do Sucesso

Em 2018, o Moonspell passou por várias cidades brasileiras para divulgar o álbum. 

"Como tínhamos esse conceito de terremoto, os afogados etc., quando comecei a escrever '1755', foi a canção que, para além dos temas originais que eu estava escrevendo, me veio à cabeça", explicou o vocalista Fernando Ribeiro em entrevista ao site Hedflow. 

O líder da banda disse ter conhecido a música durante a infância, período em que assistia as novelas brasileiras na televisão portuguesa. 

"Na altura, comprei o disco "Bang Bang" [quinto álbum de estúdio dos Paralamas, lançado em 1989]. Claro, os achei pop rock, mas é uma banda muito completa, com várias facetas e com muito bom instrumental", disse. 

O músico lembrou ainda o quanto a versão de "Lanterna dos Afogados" ajudou a chamar atenção do público brasileiro por conta da "irmandade na língua, na história e na cultura" entre os dois países. 

"Para mim foi a canção perfeita porque, de alguma forma, a tornamos mais trágica, mais arrastada." 

Naquele ano, além da estreia no Rio de Janeiro, o Moonspell também se apresentou em Curitiba, São Paulo, Recife e Belo Horizonte. "Com todo o respeito por todas as cidades brasileiras, gostamos muito de tocar no Recife", afirmou Fernando.

Tsunami no Brasil

Além de dar nome ao álbum da Moonspell, que interpretou a música do Paralamas no disco, o ano de 1755 também foi marcante no Brasil porque —assim como em Portugal— um tsunami atingiu a costa brasileira. Ambas ondas gigantes foram causadas pelo terremoto que varreu Lisboa. 

A BBC publicou, em 2021, que o desastre naquele século também deixou destruição no sul da Espanha e no Marrocos, além do tsunami que atingiu a Irlanda e o Caribe. A reportagem também registrou que o fenômeno matou entre 20 e 30 mil pessoas. Há estimativas, porém, que situam em 100 mil vítimas mortais.

Como consequência do sismo, uma onda gigante se formou, cruzou o Atlântico e causou estragos na costa brasileira. É o que afirmou o trabalho liderado pelo professor Francisco Dourado, do Centro de Pesquisas e Estudos sobre Desastres da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 

Pesquisadores da equipe de Dourado investigaram as repercussões do tsunami ao longo de 270 quilômetros e 22 praias entre Rio Grande do Norte e o sul de Pernambuco. Cartas de autoridades da época com relatos do maremoto corroboram o estudo feito pela equipe acadêmica.  

Agora, o maior tremor desde 1969

O Instituto Português do Mar e Atmosfera informou ter registrado nesta madrugada um sismo de magnitude 5,3 na escala de Richter. O tremor foi detectado a quase sessenta quilômetros de Sines, na altura de Setúbal. De acordo com o instituto, o abalo foi registrado exatamente às 5h11 da manhã. 

Moradores de Setúbal e Lisboa sentiram o tremor com mais intensidade, segundo o relatório emitido às 6h17 da manhã pelo Instituto Português do Mar. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil confirmou a informação, acrescentando que não houve registro de vítimas ou danos materiais.

O comandante da Agência de Proteção Civil, José Miranda, afirmou ter recebido um número considerável de ligações da zona do Alentejo até Coimbra, mas sem contabilizar o total de chamadas. 

“Recebemos muitas chamadas sobretudo de pessoas que queriam saber o que se passava e o que deviam fazer."

O sismo aconteceu a uma profundidade de 10,7 quilômetros, segundo o serviço geológico dos Estados Unidos, o USGS, que estimou uma magnitude de 5,4 na escala de Richter.

Já o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico estimou o sismo como sendo de magnitude 5,1 na escala de Richter, com o epicentro a uma profundidade de cinco quilómetros.

O tremor de terra também foi sentido na Espanha e no Marrocos.

'Achei que o prédio ia cair'

Muitas pessoas ficaram assustadas com o tremor de terra na região metropolitana da grande Lisboa. Há 55 anos que Portugal não sentia um abalo sísmico com tanta intensidade. A última vez que a terra tremeu no país foi em 1969. 

Nas redes sociais, muitas pessoas começaram a compartilhar mensagens de alerta do Google para avisar a pessoas mais próximas. Outros resolveram gravar vídeos relatando o momento de pânico.

Jorge Filho, que estava no bairro da Graça, em Lisboa, disse à BRASIL JÁ que acordou no meio da madrugada achando que estava em um pesadelo. Quando percebeu o quarto tremendo, pegou o telefone e viu que havia um alerta de abalo sísmico.

"Quando eu vi o alerta de terremoto no telefone eu pensei que eu deveria sair correndo do prédio. Foi aí que eu levantei, fui até a varanda e vi que já estava todo mundo na rua", detalhou.

Jornalismo verdadeiramente brasileiro dedicado aos brasileiros mundo afora


Os assinantes e os leitores da BRASIL JÁ são a força que mantém vivo o único veículo brasileiro de jornalismo profissional na Europa, feito por brasileiros para brasileiros e demais falantes de língua portuguesa.


Em tempos de desinformação e crescimento da xenofobia no continente europeu, a BRASIL JÁ se mantém firme, contribuindo para as democracias, o fortalecimento dos direitos humanos e para a promoção da diversidade cultural e de opinião.


Seja você um financiador do nosso trabalho. Assine a BRASIL JÁ.


Ao apoiar a BRASIL JÁ, você contribui para que vozes silenciadas sejam ouvidas, imigrantes tenham acesso pleno à cidadania e diferentes visões de mundo sejam evidenciadas.


Além disso, o assinante da BRASIL JÁ recebe a revista todo mês no conforto de sua casa em Portugal, tem acesso a conteúdos exclusivos no site e convites para eventos, além de outros mimos e presentes.


A entrega da edição impressa é exclusiva para moradas em Portugal, mas o conteúdo digital está disponível em todo o mundo e em língua portuguesa.


Apoie a BRASIL JÁ

Últimas Postagens