06/08/2024 às 10:25
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O sonho de viver em Portugal virou pesadelo para a engenheira brasileira Julia Teixeira, de 32 anos. A saga começou no dia 12 de junho, quando ela recebeu um email da imobiliária informando que o apartamento que havia reservado, em Lisboa, estava infestado por percevejos.
Desde então, Julia afirmou à BRASIL JÁ que tem sofrido ao tentar uma solução junto à empresa. A jovem culpa a Ukio —startup de aluguel de imóveis de médio e alto padrão já mobiliados em cinco cidades europeias— pelos transtornos.
A BRASIL JÁ entrou em contato com a Ukio por telefone às 10h15 de terça, 6 de agosto. Uma funcionária da startup disse que alguém da área responsável por danos e reclamações entraria em contato com a reportagem, entretanto, não houve retorno.
(Atualização: Seis dias após a publicação, na tarde de segunda, 12 de agosto, a Ukio enviou um email se posicionando sobre o caso. A empresa afirma que reembolsou a cliente. Veja a resposta da imobiliária ao fim do texto)
Em seu site, a Ukio afirma que trabalha em parceria com companhias globais e agências de realocação em outras cidades além de Lisboa. Embora esteja baseada em Barcelona, na Espanha, na página da imobiliária consta que há também escritórios em Madrid, Lisboa, Berlin e Paris.
O perfil na rede social LinkedIn da companhia tem mais detalhes da história da empresa. Registra que a Ukio existe desde 2020 e, desde então, disponibiliza para locação imóveis completamente mobiliados e equipados, com designs luxuosos para estadas de, no mínimo, um mês.
Em Lisboa, como foi o caso de Julia, não há apartamentos que saiam por menos de 1 mil euros mensais. Na outra ponta, há imóveis cujos aluguéis podem superar os 5 mil euros na plataforma.
O pesadelo de Julia: percevejos no colchão
Cinco dias antes de ser notificada sobre a infestação de percevejos, Julia já havia recebido outra mensagem da empresa informando que o imóvel que escolheu seria dedetizado. Para ela, àquela altura se tratava de um procedimento padrão.
No entanto, dias antes da data da mudança, marcada para 17 de junho, o atendimento da Ukio informou a Julia que ela não poderia entrar no apartamento escolhido porque os insetos seguiam no imóvel. Então, segundo ela, foram apresentadas opções de apartamentos inferiores.
Eram, disse a engenheira, prédios sem garagem e apartamentos menores. “Como não havia outra hipótese, tive que aceitar”, afirmou.
Ao se mudar para um desses apartamentos, Julia disse que se deparou com mais problemas. Segundo ela, faltavam utensílios básicos —lembrando que a empresa promete apartamentos completamente equipados— e foi então que as dificuldades de comunicação com a Ukio começaram.
Em 1º de julho, com o contrato em vigor, Julia contou ter sido finalmente autorizada a se mudar para o imóvel originalmente escolhido.
A terrível surpresa foi descobrir que ainda havia percevejos no apartamento. A engenheira disse que contactou a Ukio e foi orientada a sair do imóvel sem levar nada, nem roupas ou itens pessoais.
"Isso ocorreu numa sexta-feira, dia 5 de julho. Meu pai, que havia retornado ao Brasil um dia antes, apresentou mordidas no corpo semelhantes às de percevejos", disse a jovem.
Sem suporte e contabilizando prejuízos
Depois cinco dias dormindo com os insetos, Julia contou ter sido orientada a deixar o local para que suas roupas fossem lavadas e o apartamento desinfetado.
No entanto, durante o fim de semana, a engenheira disse que teve pouco suporte da companhia. A resposta que teve da empresa foi que o problema seria resolvido na segunda-feira seguinte, e que Julia precisaria desembolsar 150 euros por noite numa hospedagem temporária.
A brasileira se hospedou em um hotel e teve que comprar roupas novas, gastando mais de 300 euros. Ela afirmou que não recebeu qualquer informação sobre como os seus pertences seriam cuidados e só conseguiu um local para se hospedar entre 10 e 20 de julho.
Há um mês, em 7 de julho, Julia disse ter enviado um e-mail pedindo um apartamento semelhante ao contratado, reembolso das roupas compradas e um orçamento para alimentação enquanto estivesse em um hotel.
A jovem disse que a empresa liberou um orçamento de 50 euros por dia para alimentação, o reembolso das roupas e a mudança para um apartamento semelhante.
Demoraria mais uma semana para Julia ter de volta os pertences. Ainda assim, a engenheira contabilizou um prejuízo de aproximadamente 220 euros com itens danificados no processo de lavagem feito pela Ukio.
Julia disse que, em 17 de julho, resolveu levar o caso à Justiça portuguesa. No mesmo dia, a jovem relatou ter solicitado à Ukio documentos e o contrato firmado com a empresa, mas a companhia enviou a papelada com valores errados. Julia, então, pediu que os dados fossem corrigidos.
Após ter solicitado a documentação, a jovem disse que recebeu nova mensagem de texto da Ukio, no dia seguinte, dizendo que ela não poderia se mudar para o apartamento reservado.
"Fui informada que a reserva ainda estava em meu nome, mas que eu precisaria esperar o retorno da pessoa responsável pelo meu caso no fim de semana."
Mais uma vez, em 22 de julho, Julia disse ter recebido uma oferta da empresa para se mudar a um apartamento menor e com localização menos privilegiada em comparação com os imóveis anteriores. Também foi comunicado à engenheira que os reembolsos das roupas, previamente aprovados, foram negados.
Em 24 de julho, a brasileira contou ter recebido uma ligação de um gerente da Ukio. Ela afirma que o atendimento foi rude e que o funcionário insinuou que ela estava agindo de má fé ao querer escolher um apartamento similar ao contratado.
Julia disse que o gerente também lhe informou que a empresa não pagaria para ela "renovar o guarda-roupa" e que, caso ela não estivesse satisfeita, a única opção seria, a seis dias do fim do mês, cancelar o contrato. A engenheira, entretanto, acredita que desistindo do acordo sairá mais prejudicada.
Prejuízo de 8 mil euros
A engenheira, que segue sem apartamento, calcula que nessas idas e vindas com a Ukio gastou aproximadamente 8 mil euros. Um dinheiro que ela não tem esperança de reaver.
Além disso, até esta terça (6), o apartamento originalmente reservado pela jovem seguia disponível no site da imobiliária.
"Inicialmente, vim para estudar, mas já consegui um trabalho. Encontrei a Ukio na internet depois de verificar que eles tinham boas avaliações, mas agora não tenho para onde ir", desabafou a jovem, que atualmente está viajando e não sabe onde ficará ao voltar a Lisboa.
"Até o momento, só recebi da Ukio uma notificação de que o reembolso seria processado em um valor abaixo do real, o que não é justo", acrescentou.
No contato por telefone feito pela reportagem, uma funcionária da startup disse que não estava autorizada a dar esclarecimentos à imprensa, mas afirmou que alguém da área responsável por danos e reclamações entraria em contato com a reportagem. Até a publicação, não houve nenhum retorno.
A resposta da Ukio
Por email, às 15h24 de segunda (12), a Ukio enviou um posicionamento à BRASIL JÁ.
Segundo a imobiliária, Julia foi reembolsada em €5.589,78, valor que a empresa afirma cobrir o aluguel não usado €3.139,78); ajuda de custo de alimentação (€250,00); ajuda de custo de roupas novas (€250,00); alojamento em hotel (€450,00); e estada em Airbnb (€1.500,00).
A Ukio afirmou que a compensação e reembolso abrangentes refletem o "compromisso [da companhia] em resolver as preocupações da hóspede de forma justa e rápida".
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