O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, Otacílio Soares, estima que o investimento direto de empresas brasileiras em Portugal cresça cerca de 50% nos próximos três anos, com "o foco" na expansão para a Europa.
"Se somarmos o que as grandes empresas brasileiras pretendem investir em Portugal e o que as novas estão investindo, o crescimento [do investimento do Brasil no mercado português] será próximo a 50% nos próximos três anos", afirmou Soares em entrevista à Lusa.
As grandes empresas, segundo ele, serão responsáveis por 80% do crescimento, enquanto as médias e pequenas representarão "20% do aumento global" do investimento brasileiro em Portugal até 2028.
Entre as pequenas e médias empresas, o presidente da CCILB contabiliza as criadas no mercado português por imigrantes empreendedores brasileiros "animados pela segurança institucional e pessoal" que encontram em Portugal.
Soares também mencionou projetos que virão "colados" aos grandes investimentos brasileiros, como acontece sempre que um grande grupo português investe no Brasil. O presidente da câmara afirma que entre as centenas de milhares de brasileiros que vivem em Portugal, de cinquenta a setenta mil são empresários ou líderes empresariais do Brasil.
Na opinião dele, o crescimento do investimento previsto para os próximos três anos "é algo assim excepcional" que "vai ajudar Portugal a gerar renda e emprego” e fazer “as empresas brasileiras crescerem”, dando o seu primeiro passo para a expansão no mercado europeu.
Expansão para a Europa
Para o presidente da câmmara, não há dúvida que "o foco" destes investimentos é a expansão para a Europa.
"Há dezenas de intenções para investimento em Portugal, especialmente em tecnologia, saúde e reconstrução urbana, com um enfoque cada vez maior em inovação e tecnologia sustentável", disse.
Por outro lado, ele pondera que há projetos de investimento para o setor da banca e da construção de habitação.
Nos últimos cinco anos, o investimento brasileiro em Portugal já cresceu “de forma consistente”, em média 12% ao ano, tomando por base os dados do Banco de Portugal e da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, completou Soares.
Por tudo isto, ele considera que as mudanças políticas no Brasil, resultantes das eleições presidenciais realizadas há dois anos no país, que levaram de novo Luís Inácio Lula da Silva à Presidência do país, "nem pioraram nem melhoraram o que já estava sendo organizado" nos planos empresariais.
As empresas brasileiras "no geral" têm planos que "nem sempre dependem de aspectos políticos locais", afirmou. E os planos de expansão das grandes empresas brasileiras “para o mercado europeu, utilizando o hub de Portugal, já são uma realidade” há algum tempo, acrescentou.
Soares usou como exemplo a Embraer, gigante da indústria aeronáutica brasileira, que segundo ele "teve um investimento destacado, especialmente em suas instalações em Évora, que gerou centenas de empregos”. Soares também afirmou que “as pequenas e médias empresas brasileiras estão ganhando terreno".
Só o setor de tecnologias registrou "um aumento de 30% no número de 'startups' brasileiras estabelecidas em Portugal, refletindo o ambiente favorável para inovação no país", disse.
Agronegócio e mais negócios
Outros setores que têm atraído investimentos brasileiros para Portugal são os “agronegócios [vinhos], imobiliário, turismo e energias renováveis, com investimentos que superam os 300 milhões de euros. E as perspetivas continuam favoráveis", disse Otacílio Soares.
"Os imigrantes brasileiros em Portugal que são empreendedores estão presentes em setores como alimentação, tendo “aberto centenas de novos restaurantes de culinária brasileira, serviços tecnológicos, indústria e comércio", completou.
Para ele, o que irá "transformar significativamente o cenário econômico bilateral" entre os dois países será a abertura de escritórios da Agência para a Promoção de Exportações e Investimento e da Empresa Brasileira de Turismo em Lisboa, prevista para breve, e cujos responsáveis já estão a trabalhar em Portugal, bem como um eventual reforço da presença do Banco do Brasil na capital portuguesa.
A criação da Casa Brasil, um imóvel em Lisboa, onde estarão reunidas estas duas entidades brasileiras e outras que venham a instalar-se ali, como previsto, é para Otacílio Soares "algo excepcional".
"Estamos muito agradecidos ao governo português pela acolhida", acrescentou.
Com a Agência Lusa