Inverter papéis entre mulheres e homens é a proposta de "King King Fran". Crédito: Sarah Leal, Divulgação

Inverter papéis entre mulheres e homens é a proposta de "King King Fran". Crédito: Sarah Leal, Divulgação

A gorilona que aterroriza o patriarcado

Em 'King Kong Fran', a atriz Rafaela Azevedo provoca o debate sobre feminismo em shows lotados; apresentação em Portugal é nesta quinta (6)

05/02/2025 às 17:23 | 3 min de leitura | Cultura, Diversão e Arte
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Sucesso na internet a fora dela, a atriz e palhaça Rafaela Azevedo, de 33 anos, lota teatros no Brasil e agora estreia em palcos da Europa com o aplaudido espetáculo “King Kong Fran”, onde inverte os papéis entre homens e mulheres. 

“Quando começa o espetáculo, eu saio da gorila e faço a transformação inversa. Ela vira a palhaça, de gorila para palhaça. Então, já começo colocando todos os homens no lugar das mulheres em situações invertidas”, disse em entrevista à BRASIL JÁ

O mote da performance nasce com a personagem Fran, criada por Rafaela, que sai ao palco para aterrorizar o patriarcado. E daí todo o espetáculo se desenrola. 

Carioca, Rafaela contou à reportagem que, numa carreira instável, ainda está se habituando ao sucesso de público. Só no Brasil, "King Kong Fran" somou quatrocentas apresentações desde a estreia, em 2022, e mais de cem mil espectadores viram o show. 

A inspiração do espetáculo foi o livro feminista "A teoria King Kong", de Virginie Despentes.

A turnê de "King Kong Fran" começa no Porto e passará por Barcelona, Berlim, Dublin, Londres, Paris, terminando em Lisboa - Crédito: Sarah Leal

Em Portugal, Rafaela Azevedo, ou Fran, estará nesta quarta (5) na FNAC de Matosinho para um debate. Na quinta (6), ela tem apresentação marcada no Passos Manuel, no Porto, e em Lisboa no dia 15 de fevereiro, no Capitólio.  

Confira parte da conversa da BRASIL JÁ com a humorista:  

Esse sucesso todo com você lotando palcos de teatro... E numa arte tão difícil de se popularizar. Como está esse momento?

Eu não consigo me acostumar ainda. É muita felicidade, sabe? Eu comecei há mais de dez anos. Então, para a coisa virar mesmo, demorou esse tempo. Então, foram, sei lá, nove anos que não rolava. Aquela coisa toda de dificuldade, mesmo, que tem o teatro, que você tem que trabalhar com várias outras coisas para poder se sustentar e tal.

Como foi esse primeiro espetáculo com teatro lotado? 

Quando eu tive a estreia do espetáculo foi por financiamento coletivo que a gente fez. Eu lembro que na época foram trinta mil reais, em 2022. E aí, lotou a primeira temporada, foram doze apresentações, lotou todos os dias. 

Aí eu já falei: 'Caramba, isso já é diferente'. Deve ter sido por conta do financiamento coletivo, porque eu pensei, todo mundo quis ver. Só que aí, desde então, nunca a gente não lotou. 

Todas as apresentações estão lotadas. Mas eu acho interessante pensar que, pô, é um fenômeno no teatro. Porque eu acho que a última vez que aconteceu isso, de tanta gente ir ao teatro, foi com “Minha Mãe é Uma Peça”, do Paulo Gustavo.

Carioca, do subúrbio do Rio, Rafaela comemora sua primeiro eurotour e planeja outros dois espetáculos para breve - Crédito: Reprodução

A que você atribui essa popularidade? 

Eu acredito que o pessoal está querendo falar sobre isso. Que era uma carência que a gente tinha. Porque no humor a maioria dos humoristas são homens e  sempre as mulheres são muito vulnerabilizadas. Se a gente pensar no programa Pânico na TV ou outros programas que têm humor. 

Os próprios shows de stand-up, quando mexem com o público, é sempre fazendo a mulher de ridículo. 

Em “King Kong Fran” você inverte a situação, né?

Eu peguei a referência da Monga, Mulher Gorila, que era uma aberração. Porque a mulher no circo, ou era perfeita —ela ficava lá como um acessório com aquelas roupas e cabelo impecável de bailarina todo certinho, a roupa sempre meio sexualizada—, ou ela era aberração. 

Nunca a mulher era humanizada no entretenimento e no circo. Então, eu peguei para partir da aberração para aterrorizar o patriarcado. Quando começa o espetáculo, eu saio da gorila e faço a transformação inversa. Ela vira a palhaça, de gorila para palhaça. 

Então, ela já começa colocando todos os homens no lugar das mulheres. Na questão do assédio, na questão do tratamento, da separação mesmo. 

As mulheres se sentem muito seguras no meu espetáculo, enquanto os homens sentem que a qualquer momento algo pode acontecer com eles. E aí, eu puxo para o palco e faço cenas invertidas. Por exemplo, atiradora de facas, em que o cara fica lá de cueca e eu vestida, atirando facas. Faço o cara fazer uma dança sexy, tocando uma música de striptease.

E como é a reação da plateia? 

As pessoas começam a rir disso, porque é efetivamente ridículo. Só que a gente fica pensando: 'Mas isso acontece com as mulheres...'

O espetáculo estreou em 2022, com financiamento coletivo, e hoje celebra 400 apresentações somente no Brasil - Cartaz: Divulgação

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