Marcos Pamplona, proprietário do Terceira Margem. Crédito: Victor Souza, BRASIL JÁ

Marcos Pamplona, proprietário do Terceira Margem. Crédito: Victor Souza, BRASIL JÁ

Terceira Margem: um espaço de resistência

Iniciativa oferece acolhimento para quE pessoas possam expor as suas artes sem ter que atravessar a ponte até Lisboa

21/05/2024 às 07:09 | 3 min de leitura
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Do encontro entre três editores, ins pirado por Guimarães Rosa, nasceu a ideia do Terceira Margem, um lo cal que reúne escritores, artistas e trabalhadores das artes no Barreiro, cida de localizada à beira do Rio Tejo. 

Marcos Pamplona, ao lado de seus dois sócios — o paulista Wladimir Vaz Mourão e a transmontana Virgínia do Carmo —, decidiu que era hora de mudar o ângulo e movimentar o circuito cultural na margem sul. 

“No conto ‘A Terceira Margem do Rio’, que está no ‘Primeiras Estórias’, o pai do narrador vai para o rio. Só que ele não fica nem à margem direita, nem à esquerda, ele fica no meio, dentro de uma canoa, e passa a viver nesse lugar onde a água espelha o céu”, explicou o escritor e roteirista paranaense. 

Ao descentralizar a voz de artistas que vivem na região, Pamplona diz que a iniciativa oferece acolhimento para que essas pessoas possam expor as suas artes sem ter que “atravessar a ponte” até Lisboa: “Foi a Virgínia que insistiu para que ficássemos aqui mesmo no Barreiro, porque assim podemos incluir e trazer mais gente do Montijo, do Seixal, de Almada e de outras cidades da margem sul”. 

Virgínia do Carmo, sócia do Terceira Margem. Crédito: Victor Souza, BRASIL JÁ

Depois de quase um ano de conversas, o local cedido para iniciar o projeto só foi possível graças à sensibilidade e à generosidade de Inês Amado, proprietária do prédio que abriga O Espaço Cultural. A proposta de não cobrar aluguel durante o primeiro ano do projeto foi fator decisivo para empreender na região. 

Marcos recorda o importante papel do músico e professor universitário Miguel Amaral que, ao comentar que estava prestes a inaugurar uma cervejaria no mesmo edifício, revelou que a dona do local estava à procura de pessoas aptas a integrar um movimento cultural na cidade: “E foi daí que nós propusemos a eles a literatura através das nossas três editoras (Kotter Editorial, Urutau e Poética Edições) e fo mos abraçados imediatamente”. 

Segundo Virgínia do Carmo, o acordo reduziu as despesas, que hoje são da manutenção da sala: “Estamos tentando recuperar o investimento através da venda de livros durante os eventos”. 

Localizado em frente à Praça Catarina Eufêmia, o Terceira Margem oferece ambiente para eventos que façam parte intrínseca da literatura, incluindo debates sobre política e palestras que abordem sociologia, antropologia e ciências sociais como um todo. 

Marcos Pamplona, um dos sócios do Terceira Margem. Crédito: Victor Souza, BRASIL JÁ

Na edição de estreia do Fala Margem, evento que ocorreu na primeira semana de março, cerca de cinquenta pessoas compareceram para acompanhar a apresentação de Marina Campanatti (poeta, atriz, artista-pedagoga e representante de Portugal na Copa do Mundo de Slam) e a performance musical do Pequeno G, um rapper cabo-verdiano que vive no Barreiro e escreve as suas rimas em crioulo. 

A entrada é gratuita, mas algumas pessoas fazem questão de pagar um valor simbólico para ajudar a manter o projeto. Os três afirmam que são esses encontros que fazem jus à proposta de unir diferentes expressões. 

“Todo mundo recebeu muito bem e entendeu a mensagem. Pode ser que venha alguém aqui e comece a ler sonetos, ou cantar um rap em crioulo falando sobre a Rua Miguel Bombarda, sabe? Quando pensamos sobre o espaço enquanto o ocupamos, reafirmamos o nosso modo de ser como editores”, reforça Wladimir. 

A ideia de diversidade também passa pelo apoio aos artistas do underground, mas os editores explicam que trazer pessoas renomadas —desde que tenham um engajamento progressista— é um dos objetivos, já que isso ajuda a atrair público e, de certa forma, move figuras consideradas intocáveis para um lugar comum e popular. 

Wladimir Vaz Mourão, sócio do Terceira Margem. Crédito: Victor Souza, BRASIL JÁ

“Camões era um marinheiro, um cara que andava com prostitutas lá no Bairro Alto. Um homem que esteve em navios nos quais muitos morriam de escorbuto. Quer dizer, esse cara fez poesia com vida, com sangue, com bebida, com mulheres e com homens. Não é um poeta com um louro na cabeça em uma estátua de bronze, entende? Então, tirar esse cara do pedestal e colocá-lo no chão também é uma missão para o Terceira Margem”, explica Marcos. 

Outro objetivo da parceria é a criação de uma feira do livro. A ideia é fazer por ali mesmo, na Praça Catarina Eufêmia. “Isso tudo dá um trabalho danado (risos). Por isso, vamos buscar um eventual apoio da Câmara Municipal, até porque, antes de tudo, precisamos aumentar esse volume de diálogo em torno da literatura”, completa. 

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