Uma possível vitória de Donald Trump na corrida presencial, que tem início nesta terça (5), trará consequências significativas para as relações de cooperação ambiental entre Estados Unidos e Brasil e para os demais esforços globais de contenção da crise climática.
As constantes investidas de Trump e seu negacionismo climático se chocam com os esforços no combate às mudanças climáticas.
Enquanto no Brasil o governo tem consolidado uma posição na defensa de políticas ambientais e buscado firmar compromissos internacionais, Trump, por outro lado, apresenta se apresenta como cética em relação à ciência climática.
Durante o seu mandato, entre 2017 e 2021, Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris afirmando que os termos eram injustos para o país.
A decisão interrompeu o engajamento norte-americano nas metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa, e sua postura gerou críticas entre defensores do meio ambiente e líderes mundiais.
Quando Joe Biden assumiu a presidência, o país retornou ao acordo, com um compromisso renovado em combater a crise climática e estabelecer cooperação internacional.
A vice-presidente Kamala Harris, atual candidata pelo Partido Democrata, promete manter os Estados Unidos alinhados a esses compromissos, o que, segundo Lula, é essencial para a preservação da democracia e para o avanço das pautas ambientais globais.
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Em entrevista à emissora francesa TF1 em novembro de 2024, Lula se posicionou sobre as eleições norte-americanas, afirmando que uma vitória de Kamala Harris assegura o fortalecimento da democracia nos Estados Unidos.
Desse modo, Lula demonstrou preferência por Harris, sugerindo que a vitória dos Democratas favorecerá políticas ambientais brasileiras. Foi nessa linha que Lula seguiu o raciocínio reforçando a importância da democracia para o avanço das pautas ambientais.
O presidente brasileiro acrescentou que um governo comprometido com a ciência climática é mais eficaz em promover políticas globais sustentáveis.
A vitória de Trump, portanto, poderia prejudicar os esforços climáticos globais. O ex-presidente republicano, que frequentemente minimiza os impactos das mudanças climáticas e critica acordos internacionais, prometeu investimento reforçado nos combustíveis fósseis.
Em julho, Trump recuperou o slogan "drill, baby, drill", usado pelos Republicanos desde 2008 para aumentar a perfuração de petróleo e gás como fontes de energia adicional.
É esperado que Trump adote uma postura de boicote ou até mesmo impeça a participação dos Estados Unidos em eventos de discussão climática, reduzindo o impacto e a representatividade das conferências.
A ausência de um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo (os Estados Unidos) nas discussões climáticas globais dificultaria a execução de planos conjuntos e desmotivaria outras nações a cumprirem seus compromissos.
Publicamos na BRASIL JÁ que o programa de governo de Harris, publicado em agosto, reserva sete páginas do total de noventa para as políticas ambientais. Embora se concentre mais nas conquistas de Biden e nas críticas a Trump do que em novas iniciativas, o texto ressalta a intenção de:
- “Prosseguir com a redução das emissões dos edifícios e da indústria pesada norte-americana”;
- “Ampliar os esforços contra a poluição do ar e da água”;
- E “enfrentar a grande indústria petrolífera, enquanto o setor de energia limpa rompe o domínio dessa indústria sobre os mercados de energia”.
Além disso, o Brasil espera um aumento no apoio financeiro internacional para preservar a Amazônia e conter o desmatamento.
Biden destinou 50 milhões de dólares para o Fundo Amazônia em 2023 e formalizou outros repasses em 2024, mas Trump, durante o governo anterior, não se interessou em apoiar financeiramente iniciativas de preservação ambiental fora dos Estados Unidos.
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Caso eleito, ele poderia reverter essas contribuições, o que limitaria a capacidade do Brasil de implementar medidas de proteção ambiental em larga escala.
Questão ambiental e matriz energética brasileira
Comparado a outros países —inclusive os Estados Unidos—, o Brasil e está muito bem-posicionado para liderar as discussões a respeito de fontes de energia renováveis. Estudos de 2023 do Energy Institute indicam que quase metade da energia consumida (49%) no país é limpa.
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Ao longo de 2021, o total de emissões de carbono associadas à matriz energética para cada brasileiro foi o equivalente a 14,5% do que emitiu um norte-americano, ou 36% do que produziu um cidadão europeu, e, ainda, 26,2% do que um cidadão chinês lançou para atmosfera. Os dados são da Agência Internacional de Energia, IEA em inglês.
Levando em consideração o impacto da economia na emissão de carbono, ainda segundo dados da IEA, o que o país mandou para a atmosfera equivale a 34% do que mandou a economia chinesa, 66% do que poluiu a economia americana e praticamente o mesmo nível da economia dos países europeus da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
À BRASIL JÁ, Rodrigo Rollemberg, secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, detalhou como a questão climática se insere no contexto brasileiro e como o país se posiciona em termos de cooperação climática global.
O secretário relembra que os países ricos assumiram compromissos em COP, como o de ajudar com 100 bilhões de dólares anualmente em desenvolvimento dos outros países, dinheiro esse que nunca chegou.
Num contexto de crescente uso do discurso ambiental para favorecer o protecionismo econômico, Rollemberg disse esperar que os países ricos tenham sensibilidade porque, com o enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio, segundo ele as iniciativas de proteção e defesa dos mercados locais cresceu muito tanto nos Estados Unidos quanto na União Europeia.
Mesmo com as barreiras, o Ministério do Meio Ambiente estima não somente cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global em dois graus Celsius e tentar cumprir a meta inicial de mantê-lo em 1,5 graus Celsius, mas de ultrapassá-la. Segundo Rollemberg, vários ministérios trabalham para contribuir na descarbonização da matriz energética brasileira.
Dentre as medidas, o secretário destaca a aprovação do segundo projeto de regulamentação do hidrogênio, que define 18 bilhões de reais [cerca de 3 bilhões de euros] de incentivos para o hidrogênio.
Além disso, chama atenção para o Combustível do Futuro, que regulamenta o combustível sustentável de aviação, definindo um mandato de redução de emissões para as empresas de aviação a partir de 2027, com a utilização do SAF, que também foi aprovado.
Outras iniciativas foram a do regulamento ao diesel verde, ao biometano, criação de um mandato para os produtores e importadores de gás natural, de utilização de biometano e redução das suas emissões, regulamento à captura e estocagem de carbono, regulamento ao aumento da mistura do etanol na gasolina e também do aumento da mistura do biodiesel no diesel.