Está em curso a discussão do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. No Congresso brasileiro e no governo, há um consenso majoritário pela sua aprovação.
Tirando o problema sensível dos agricultores franceses, mobilizados para proteger seus justos interesses, mas que se chocam com a ideia dos grandes blocos econômicos do novo mundo global que se afirmou, tudo indica que a União Europeia também seja favorável a esse acordo.
Fato é que há um rearranjo no mundo, onde a hegemonia unipolar dos Estados Unidos, conquistada após a queda dos regimes estatais sob hegemonia soviética, não dá conta das demandas do mundo. Novas potências, novas regiões, novos blocos e novas centralidades emergem no sistema mundo.
A pluralidade, a multilateralidade e a complementaridade são estratégias para quem quer construir espaços hegemônicos nessa nova ordem que surge.
Antes de mais nada, o mundo atual precisa começar a pautar construções que superem as disputas ideológicas do passado. O novo mundo multilateral tem que ser feito de interesses concretos e justos das nações e dos blocos de nações, aliados a princípios globais de sustentabilidade e equidade social.
É a partir daí que ganha importância especial a relação da América do Sul, Caribe, África e União Europeia, tendo Portugal e Espanha como as grandes portas de entrada para o mercado Europeu e o Brasil como a ponte para o mercado do sul global.
Este é o chamado jogo ganha-ganha. Um jogo com trocas de capital, de tecnologia, de saberes e culturas tradicionais. Um intercâmbio positivo para a humanidade e, ao mesmo tempo, um produtor de riquezas materiais. O Brasil é a nona economia do mundo.
Temos um mercado consumidor de 250 milhões de pessoas, muitas florestas a conservar, uma imensa biodiversidade a ser explorada, terras agricultáveis em abundância como em nenhum país do globo e somos um dos maiores produtores de proteína animal do mundo.
Além disso, temos um pujante parque industrial e uma rede de pesquisa universitária muito avançada. Um campo que pode e deve ser potencializado com a troca tecnológica e de capital com a União Europeia. É preciso construir, na prática, esses fluxos e essas parcerias.
Nesse alinhamento, importa descobrir, em nossos territórios, empresários, governos e empreendedores que possam e queiram expandir suas ações em outros continentes, aumentando operações produtivas, gerando empregos, lucros e riquezas.
Estamos trabalhando para ajudar a tecer essas redes de relações positivas e produtivas de intercâmbio econômico, cultural, social e institucional.
Todos nós, brasileiros, portugueses, espanhóis, italianos, franceses, todos que já se relacionam há séculos e que estabeleceram, ao longo do tempo, relações, muitas vezes assimétricas, têm hoje a oportunidade, neste mundo mais que instantaneamente globalizado, de construir relacionamentos mais democráticos e lucrativos para todos e em todos os sentidos e aspectos. Chegou a hora —e está mais que na hora— de revermos, na prática, essas alianças globais.