É o fim dos tempos. O ponto de não retorno é a linha que, se cruzada, não existe marcha atrás. Quer dizer que será tarde demais e a nossa sobrevivência estará mortalmente ameaçada.
Nas próximas páginas, leitor, a BRASIL JÁ decifra as consequências e identifica as causas para o que a humanidade tem sofrido graças a um histórico abuso dos recursos naturais. Também apontará saídas possíveis.
O meio ambiente é o foco desta edição em que também situamos o Brasil como um Estado que, ao contrário do que se propaga na Europa e muitas vezes em território nacional, tem muito do que se orgulhar nesse tema.
Tomo emprestadas algumas conclusões do Instituto Clima e Sociedade publicadas na última semana de setembro sobre o legado do Brasil no G20 (as vinte maiores economias do mundo).
E o faço para ilustrar como o país, que preside o grupo até o dia 30 do próximo mês, pavimentou o caminho para conservar o futuro da Terra. Vamos a isso.
Primeiro, na presidência do G20 o Brasil aprimorou o conceito de Plataforma de País, que é a sistematização de mecanismos nacionais voluntários para ampliar a colaboração entre diferentes atores em nível global.
A descrição da ideia é árida, mas fica para a posteridade que durante o mandato brasileiro se impulsionou o conceito ao se implementar, por exemplo, a força-tarefa de Mobilização Global contra a Mudança Climática —o nome é autoexplicativo.
Lembra ainda o Clima e Sociedade que o Brasil promoveu a reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento, trabalho que oxigenou instituições bancárias globais em várias frentes, inclusive em governança. Também saiu de cabeças brasileiras a criação de mecanismos de financiamento para a natureza que visam a manutenção da floresta em pé e apoiam soluções baseadas na natureza.
De olho nos impactos cada vez mais frequentes das mudanças climáticas, o Brasil, na presidência do G20, criou formas de financiamento para atrair recursos para o enfrentamento de eventos climáticos extremos, como foram as enchentes no Rio Grande do Sul, desastre que causou mortes e deixou centenas de milhares de gaúchos desabrigados.
E como não lembrar da liderança do Brasil na proposta pela taxação dos super ricos?
O país encampou o texto e pressionou países do Norte global a discutir e, eventualmente, implementar um instrumento de tributação internacional que mira combater desigualdades e financiar o desenvolvimento sustentável.
Como na BRASIL JÁ sempre damos o crédito devido, tenho que dizer que a proposta de taxar bilionários nasceu da cabeça do economista francês Gabriel Zucman.
Porém, verdade seja dita, o tema viralizou pela boca de autoridades brasileiras. O principal mote da proposta é que pessoas com patrimônio de mais de 1 bilhão de dólares paguem 2% de imposto por ano. A estimativa é de que o novo tributo levante até 250 bilhões de dólares anuais.
O Brasil, portanto, deixa em breve a presidência do G20 num ano em que a geopolítica internacional se contorce em meio a guerras e aparente falência dos órgãos de governança do globo — vide a paralisia da Organização das Nações Unidas diante dos conflitos.
Mesmo assim, como brasileiros que somos, olhar para o horizonte e enxergar esperança é algo que nos diferencia e nos engrandece. E uma forma bastante digna de seguirmos em frente é lembrarmos das nossas realizações passadas.
Enquanto a Europa se retrai com governos cada vez mais avessos a estrangeiros, com extrema direita e marchas xenofóbicas —alô, Portugal!— tomando as ruas, os brasileiros assumem as rédeas de um futuro que é cada vez mais incerto. Seguimos esgrimando com as nossas mazelas que vêm de séculos.
Eventualmente, vibramos com a volta de tesouros à nossa terra —como é o caso da repatriação do manto tupinambá, história que assino e você pode ler a partir da página 41. De qualquer forma, a nossa contribuição para um futuro digno e menos desigual parece estar garantida.