A história de Patrícia Rodrigues Lemos Pacheco começa com sua admiração por Dona Cilene Lemos. Baiana de Ilhéus e mãe solo por viuvez, Dona Cilene migrou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como empregada doméstica e batalhou —muito— para que a filha tivesse uma vida digna e repleta de conquistas. Dona Cilene é, diz Patrícia, sua maior inspiração.
Hoje com 52 anos, em 2018 Patrícia fez o movimento arriscado, mas, no caso dela, milimetricamente planejado, de imigrar para Portugal. Na época, vieram com ela seus filhos gêmeos, então com 5 anos, o marido, a cachorrinha Tai e, claro, Dona Cilene.
A vida no Brasil era confortável, tendo a família morado um tempo em Brasília e, depois, voltado para o Rio de Janeiro. Mas a insegurança na Cidade Maravilhosa —ou o que restou de maravilha na cidade— acabou derrotando a magia de viver na metrópole.
A veia empreendedora e a vontade de vencer herdada de Dona Cilene levaram Patrícia a liderar uma agência de publicidade no Brasil. Lá, acumulou experiência no ramo digital, que, mais tarde, serviria para que ela se reinventasse em terras lusitanas.
“Criei um [perfil no] Instagram chamado Vou me mudar para Portugal e avisei: ‘Gente, olha lá que eu estou mostrando a minha vida’. Era uma coisa muito mais para os meus amigos que perguntavam [por nós]”, contou Patrícia à BRASIL JÁ*.
O perfil na rede social começou a ganhar seguidores. Era a tela em branco que Patrícia decidira colorir com trabalho. De perfil pessoal, a página virou empresa que, hoje, é uma imobiliária com 100% das funcionárias brasileiras e mães.
“Nós temos só mulheres porque a mulher se conecta com a dor da outra. Quando eu atendo uma cliente e ela vira para mim e fala: Pati, eu quero mudar porque o meu filho foi assaltado ou outro motivo, a gente se conecta com a dor. Toda a nossa produção de conteúdo é feita por mulheres”, explicou.
Aquele perfil no Instagram hoje em dia soma mais de 800 mil seguidores. A empresa Vou mudar para Portugal se propõe a ajudar brasileiros que querem imigrar.
Parte dessa trajetória de sucesso foi acompanhada de perto por Dona Cilene, que nunca se separou da filha. E nem Patrícia aceitaria que fosse diferente. Diagnosticada com um câncer em 2008, Dona Cilene viveu mais 13 anos junto da família —e muito bem vividos, viajando por toda a Europa.
Atualmente, Patrícia vive em Cascais com o marido, Agnelo, os filhos gêmeos, Valentina e João Pedro, e os pets Tai, Ruffles (cães), Cloe e Petra (gatos).
Com a palavra, Patrícia Lemos
Que conselhos você daria a outras brasileiras que pretendem ir para Portugal?
Planejem, se organizem emocionalmente, tenham acima de qualquer coisa um propósito absolutamente claro. E se estruturem para conseguirem trazer a sua família.
O que mais te doeu ao deixar o Brasil?
Não houve dor.
O que mais te atraiu em Portugal?
Eu nem sabia o que era qualidade de vida, que é algo muito pessoal. Mas para mim está muito associada à liberdade. Eu vim pela segurança.
Quais são os seus planos para o futuro?
Depois que você arranca a árvore com a raíz, você pode ser replantado em qualquer lugar do mundo. Mas eu ainda acho que Portugal é o melhor destino para os brasileiros. Falamos a mesma língua, o clima é mais agradável, menos duro para o brasileiro. E viver em outra língua, o tempo inteiro, é muito desafiador.
*Esta entrevista é a primeira de uma série em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.