Doutora em História, empresária e imigrante. Essas são apenas algumas das características que definem Rijarda Aristóteles, de 63 anos. Há dez anos, a cearense da capital Fortaleza deixou o Brasil para começar uma nova vida em Portugal.
Hoje, ela é inspiração para outras incontáveis mulheres.
Em 2014, quando agarrou a oportunidade de estudar o doutorado em terras lusitanas, Rijarda trouxe o filho e o marido.
Sem mais amigos e familiares, e estando em outro país, ela viu a necessidade de começar a criar novos laços. Foi assim que começou um pequeno grupo para juntar outras mulheres que precisavam de aconchego e pertencimento.
“Usei o doutorado para conquistar qualidade de vida que aqui (Portugal) é superior ao Brasil. Eu não conhecia ninguém, então fazer o grupo foi uma forma de reconhecimento de outras pessoas que estavam passando pela mesma situação que a minha”, relembra.
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No início, ela trabalhou lecionando em duas universidades e, depois, optou por empreender. Rijarda fez de seu clube um negócio.
“Minha trajetória é de empreendedora que deixa a área acadêmica —com mais de 50 anos— para empreender. Eu poderia ter optado pela minha zona de conforto, mas eu disse ‘não’”.
Foi assim que Rijarda provou que não há idade para recomeçar. Ela acredita que é possível começar algo novo desde que “tenha o foco muito aprumado e não tenha preguiça”.
O grupo foi aumentando e, em 2020, houve a oficialização do Clube Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa, fundado em 9 de março —curiosamente, um dia após a data em que marca o Dia da Mulher.
Esta semana, o grupo realiza um terceiro congresso com pauta na liderança feminina e sua liberdade financeira. Assuntos que também se entrelaçam com a imigração.
“São assuntos absolutamente interligados. O grupo sempre existiu em cima de uma máxima que é: ‘A primeira liberdade da mulher é a liberdade financeira’. Assim, você tem poder de pagar pelas suas escolhas. Para nós, isso ainda faz muito sentido”, conta.
“Muitas vezes o imigrante chega com uma ideia muito ‘dourada’ do que é morar fora, mas é importante entender que sempre seremos estrangeiros na casa do outro.”
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Segundo a empresária, os critérios para participar do grupo incluem ser mulher a partir de 40 anos; com poder de compra; que não sejam sexistas e “muito menos vitimistas”.
“Somos líderes das nossas vidas e negócios. Pagamos o nosso preço. Defendemos uma liderança consciente, que dá exemplo e impacta positivamente na sociedade", disse Rijarda à BRASIL JÁ*.
Com a palavra, Rijarda Aristóteles
Do que você mais sente falta no Brasil?
Da família. Não é sobre o “quê”, mas “quem”. Ainda mais para nós, nordestinos, que temos famílias grandes e facilidade de fazer amizades e ter relações.
Do que você mais gosta em Portugal?
Principalmente a sensação de segurança. Mas também acesso a parques, facilidade de viajar no centro da europa, a comida boa e as pessoas.
Quais os desafios enquanto empreendedora imigrante?
Às vezes, se vende a ideia de que é um paraíso dos brasileiros. Não é nada disso. Aqui é muito difícil. A questão econômica aqui é bastante desafiadora. Por outro lado, é acolhedor, mesmo agora começando a aparecer um pouco mais de xenofobia. De qualquer forma, não é lugar pra pessoa vir sem preparo ou condições psicológicas e financeiras. Porque chegando aqui, vai conviver com a realidade que é diferente. Não é porque falamos a mesma língua que somos iguais.
Que conselhos você daria para nossas leitoras que queiram empreender em Portugal?
Primeiro: se planejar. Entender que a nossa vida é como uma grande empresa. A gente não brinca com nosso futuro. Então é preciso ter certeza dos objetivos e razões de morar fora. Segundo: entender que você vai para ‘a casa do outro’. As regras do Brasil são completamente diferentes das regras de Portugal. Apesar da língua, é um país diferente. No geral, aqui também é um ótimo lugar para empreender, tem espaço ainda muito grande para crescer. Muito menos na construção e muito mais nos serviços. Tem que estar preparado.
O clube que você fundou está hoje presente em 15 países, com mais de 200 embaixadoras e mais de 400 empreendedoras. Como você se sente sendo inspiração para tantas outras mulheres?
Eu fico muito feliz. Uma coisa que eu não tenho é modéstia, não sofro desse mal. Por outro lado, é uma responsabilidade muito grande. Você começa a ter telhado de vidro. Estamos mudando a forma das mulheres fazerem negócios. Eu me dôo praticamente 24 horas ao grupo porque sei a importância.
*Esta é a quarta e última entrevista da série de conversas que a BRASIL JÁ publicou em homenagem ao Dia da Mulher.