O primeiro governo italiano que se autodenomina de "direita-direita" —não centro-direita como os anos berlusconianos ou antissistema como a coalizão do Movimento Cinco Estrelas com a Liga Norte— venceu nas urnas em 2022, proclamando a soberania nacional e o patriotismo como os motes para uma mudança necessária ao país.
Era o único partido italiano que decidiu se manter na oposição de uma larga maioria que apoiou o governo técnico do antigo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, entre fevereiro de 2021 e outubro de 2022.
RETROCESSO: Como a Itália de Meloni mina direitos das famílias
Passados 16 meses, o Executivo de Giorgia Meloni é bem avaliado por 44% dos italianos, segundo números do Instituto Demos divulgados no último dia 10 de fevereiro. Seu partido mantém o primeiro lugar nas pesquisas com 28,2% de intenções de voto, seguido pela legenda de centro-esquerda, Partido Democrático, com 19,6%.
Entre seus aliados, a situação de Meloni também continua favorável: a Liga Norte de Matteo Salvini registra 8,5% e Força Itália, que ainda ressente a morte de seu fundador, Silvio Berlusconi, em junho de 2023, obteve a preferência de 7% dos eleitores.
Como Meloni mantém a popularidade?
O que fez Giorgia Meloni para se manter popular neste pouco mais de um ano de governo enquanto seus antecessores logo perderam o apoio popular e político? O professor e presidente da Sociedade Italiana de Ciências Políticas, Mauro Calise, teoriza. Para ele, a primeira-ministra só não cometeu os erros dos anteriores.
"Desde 2016, a cada dois anos o sistema eleitoral italiano apresenta uma volatilidade radical. Líderes como Matteo Renzi [na época líder do Partido Democrático, hoje fundador do partido Itália Viva], Movimento 5 Estrelas e Salvini viveram altos índices eleitorais e na eleição seguinte se esvaneciam. O partido de Giorgi Meloni sai da casa dos 4% em 2018 e chega a quase 30% em cinco anos. É importante dizer que os votos obtidos pela coalizão de centro-direita não mudaram muito, o que mudou foi a sua presença e seu peso eleitoral."
Para o professor, os outros dois líderes da coalizão à direita viveram momentos diferentes, mas ambos em declínio:
Berlusconi por causa da idade, dos problemas de saúde, sem preparar nenhum herdeiro de seu capital político; e Salvini perdeu a partir de 2019, depois de superar o Movimento Cinco Estrelas nas eleições europeias e tentou um golpe na própria coalizão, acabou por perder seu local no governo e desde lá flerta com discursos e slogans extremistas, que na maioria das vezes não lhe tem recompensado com a preferência dos eleitores.
“Meloni praticamente conseguiu vencer as eleições jogando parada. Ela se tornou a catalisadora do consenso da direita e do outro lado, a oposição dividida não consegue competir contra a sua capacidade extraordinária de comunicação”, conclui Calise.
Economia, agenda identitária, criminalização e imigração
Das medidas prometidas em campanha eleitoral, se Meloni teve na maior parte das vezes as mãos atadas em questões econômicas e de política externa, a agenda identitária ligada especialmente à família tradicional, à criminalização do dissenso político e a gestão da imigração como questão emergencial foram os principais pilares dos 46 projetos de lei apresentados pelo governo em seu primeiro ano de mandato.
Segundo o instituto de transparência OpenPolis, o atual Executivo tem a maior média dos últimos anos em publicação de decretos, são cerca de 3,8 ao mês, em comparação com Draghi (3,2) e o segundo governo de Giuseppe Conte (3,1), ambos atuando nos períodos mais duros da pandemia da covid-19.
Esse perfil reforça um dos projetos melonianos de instituir o “premierato”, ou seja, dar mais poder ao presidente do Conselho dos Ministros, tirando algumas prerrogativas constitucionais do presidente da República e diminuindo o poder de deliberação parlamentar no sistema de governo.
No projeto apresentado em 3 de novembro de 2023, o governo aprovou cinco pontos que permitiriam a eleição direta do presidente do Conselho dos Ministros por cinco anos, eliminando a possibilidade do presidente da República de nomear senadores vitalícios, com exceção aos ex-presidentes.
Isso também impede que o presidente da República a dissolva apenas uma das Câmaras parlamentares quando a confiança da maioria parlamentar deixar de existir. Significa que o processo para a dissolução do governo se tornará mais complexo e vinculado a iniciativa do primeiro-ministro após deliberação favorável colegiada no Conselho dos Ministros.
Os trâmites desse projeto ainda estão sendo analisados no Parlamento e a Liga Norte prometeu apoio ao Irmãos da Itália somente se conseguirem aprovar a autonomia regional diferenciada, bandeira histórica do partido que ainda hoje se lamenta do Norte ter que pagar despesas de um suposto Sul improdutivo na Itália.