Carrefour. Crédito: Divulgação, Carrefour

Carrefour. Crédito: Divulgação, Carrefour

Acordo Mercosul-UE, uma declaração desastrosa do CEO do Carrefour e o boicote brasileiro

Endossado por governo, empresariado francês faz campanha de desinformação para barrar produtos do Mercosul

26/11/2024 às 08:30 | 4 min de leitura | Dia a Dia
Publicidade Banner do projeto - Oxigênio Financeiro

Enquanto o presidente Emmanuel Macron corria na orla de Ipanema cercado por seguranças e rasgava elogios à hospitalidade brasileira na cúpula do G20, no Rio de Janeiro, agricultores e pecuaristas franceses protestavam contra o fechamento de um acordo entre o Mercosul e a União Europeia.

A preocupação da França com um possível pacto entre os blocos econômicos é de caráter protecionista pois os produtores do país temem ser engolidos pelas, mais potentes, companhias dos Estados que formam o Mercosul: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. 

LEIA: Macron muda discurso sobre acordo Mercosul-UE, e reconhece vantagem brasileira

Na busca por desculpas para não aprovar o acordo entre os blocos, o que a França de Macron tem feito é tentar descredibilizar os produtos provenientes do Mercosul. E mais grave. A campanha para barrar a produção sul-americana se alastra pelo empresariado francês. 

Isso ficou evidente em recente declaração do CEO da rede de supermercados Carrefour, Alexandre Bompard, que afirmou que a multinacional varejista não mais comercializará na França produtos de origem do Mercosul. 

A mensagem desastrosa, publicada em rede social, abriu o que beira uma crise diplomática com o Brasil. O último movimento do governo brasileiro foi exigir uma retratação formal do Carrefour e, antes disso, produtores do país resolveram boicotar a rede de supermercados não mais vendendo para a varejista. 

Nesta segunda (25), unidades do Carrefour já registravam escassez de carne e, portanto, prejuízo para a rede. O grupo Carrefour no Brasil tentou colocar panos quentes. Em comunicado, informou a representação em solo brasileiro que o anúncio do CEO vale apenas para as lojas da rede na França. 

MAIS: O que está por trás dos protestos dos agricultores

"Em nenhum momento ela [a medida anunciada pelo CEO] se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise", diz o comunicado do grupo de cinco dias atrás. 

A companhia acrescentou que, nas demais lojas, a multinacional seguirá comprando produtos do Mercosul. No entanto, o estrago já fora feito e a campanha de desinformação francesa sobre os produtos do Mercosul tem ricocheteado. 

“O movimento de prestigiar os produtores franceses é legítimo. O problema é quando ele [o CEO do Carrefour] fala em não cumprimento de regras sanitárias. Aí, não aceitamos. Eles [os franceses] compram a carne brasileira há quarenta anos”, afirmou o ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Fávaro, ao G1.

Fávaro se referiu a trecho da mensagem de Bompard criticando uma possível "inundação do mercado francês com carne que não atende às exigências e normas". Entretanto, como lembrou o ministro, a produção brasileira segue normas rígidas, seja para o mercado interno ou externo.  

Outro exemplo da cruzada de empresários franceses contra o acordo ocorreu em outubro. Um diretor da Danone, que é uma empresa francesa, declarou que a companhia não compraria mais soja do Brasil por questões de sustentabilidade. O veto foi na sequência desmentido pela multinacional. 

Para Fávaro, ambos ataques sinalizam uma ação orquestrada contra o agronegócio brasileiro, que é um dos mais competitivos do planeta. 

"[...] O Brasil não se nega a discutir sustentabilidade com ninguém em nenhum lugar do mundo. É um governo, um país, que tem compromisso com respeito ao meio ambiente, com a rastreabilidade, com a boa sanidade, com todos os princípios desse tipo. Agora, de forma alguma, ser atacado na nossa soberania, isso é irretocável", disse o ministro durante evento na Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados, no último dia 21. 

O acordo Mercosul-UE e a crise na França

Um possível pacto entre os blocos econômicos envolve uma negociação que já dura mais de duas décadas e que, se concretizada, criará a maior área de livre comércio do mundo. No entanto, produtores franceses temem ser engolidos pelas companhias sul-americanas, em especial as brasileiras. 

Com isso, sindicatos ligados ao setor agrícola franceses, desde o dia 19 deste mês, intensificaram as manifestações contra o acordo, chegando a bloquear eixos estratégicos, como a autoestrada na fronteira franco-espanhola que atravessa a Catalunha (Espanha), e vários centros logísticos.

A França de Macron lidera o boicote contra a assinatura do pacto, que diretamente mina os interesses de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. "É uma questão de sobrevivência", afirmou a presidente da Coordenação Rural francesa, Véronique Le Floc'h, em entrevista ao canal BFMTV. 

Um outro dirigente do mesmo sindicato chegou a de dizer que a organização estava disposta a "deixar com fome" a cidade de Toulouse, na França, se referindo aos bloqueios dos centros logísticos.

Desde então, tem havido comícios de franceses em frente a edifícios públicos como câmaras municipais. Foram mais de oitenta ações orquestradas para tentar barrar o acordo de livre comércio, e que tem dado certo pois o mesmo governo Macron se diz contra o pacto que beneficiaria o Brasil. 

A porta-voz do governo, Maud Bregeon, afirmou no último dia 19 que a França continuará a "manter um impasse enquanto for necessário" com a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, contra o tratado.  

Questionada pelo canal francês TF1, Bregeon acrescentou que, "a nível pessoal", deseja que "possa haver um debate na Assembleia Nacional seguido de votação", para "reforçar a posição que é a do presidente e a do primeiro-ministro". 

Na opinião de Bregeon, o acordo com os países do Mercosul, defendido por vários grandes países da União Europeia, como a Alemanha ou a Espanha, "constitui uma concorrência desleal porque não é ecologicamente coerente e, em particular, no que diz respeito ao Acordo de Paris". Uma falácia. 

Mesmo do Brasil, Macron afirmou na época do G20 que pretende continuar a se opor ao acordo Mercosul-UE como tem feito desde o início. Macron disse que a França não está isolada na oposição ao tratado, mas na realidade o país tem trabalhado nos bastidores para conseguir mais apoios para vetar o pacto.

UE determinada a assinar

Apesar da oposição da classe política e dos setores agrícolas franceses, a União Europeia parece determinada a assinar o acordo até o final do ano, o que permitiria que os países negociadores latino-americanos aumentassem suas cotas de carne bovina, de aves e de suínos que entram no bloco. 

Vários governos europeus, incluindo os da Espanha e da Alemanha, são a favor do acordo, que abriria as portas para o aumento das exportações de carros, máquinas e produtos farmacêuticos da União Europeia. 

Os agricultores franceses falam emconcorrência desleal argumentando —sem fundamento— que a produção dos alimentos no bloco sul-americano não está sujeita às mesmas exigências ambientais e sociais.  

Com informações do G1, Lusa e Agência Brasil

MENSAGEM AOS LEITORES


Jornalismo brasileiro na Europa


Você, leitor, é a força que mantém viva a BRASIL JÁ. Somos uma revista brasileira de jornalismo em Portugal, comprometida com informação de qualidade, diversidade cultural e inclusão.


O assinante da BRASIL JÁ recebe a revista no conforto de casa, acessa conteúdos exclusivos no site e ganha convites para eventos, além de outros presentes. A entrega da edição impressa é para moradas em Portugal, mas nosso conteúdo digital, em língua portuguesa, está disponível para todos.


Ao assinar a BRASIL JÁ, você participa deste esforço pela produção de informação de qualidade e fica por dentro do que acontece de interessante para os brasileiros na Europa e para todos os portugueses que valorizam a conexão das identidades entre os dois povos.


Participe da BRASIL JÁ. Seja bem-vindo!


Apoie a BRASIL JÁ

Últimas Postagens