Jornalistas de Portugal cruzaram os braços nesta quinta (14). É a primeira greve geral da categoria em mais de quatro décadas, segundo registraram veículos e informou o sindicato dos profissionais. A última paralisação com essas dimensões, com mais de 40 veículos participantes, ocorreu em 1982.
Os efeitos da parada massiva repercutiram em vários meios. Isto é, não repercutiram. Em algumas frequências, noticiários ficaram em silêncio e meios digitais se limitaram a reproduzir conteúdos antigos. Nas bancas, os reflexos da greve só serão sentidos amanhã, sexta (15).
O Sindicato dos Jornalistas estima que mais de 40 veículos pararam suas produções. A Agência Lusa decidiu fechar o serviços aos clientes.
"Por respeito à greve decidida em congresso pelos jornalistas portugueses e na defesa da dignidade do serviço público prestado pela agência, a Direção de Informação da Lusa decidiu interromper o serviço da agência de notícias. O serviço será restabelecido caso existam condições para esse efeito", diz comunicado da Lusa.
Outros veículos como o jornal Público e a Revista Visão também ficaram em silêncio. A lista de meios de comunicação parados está sendo atualizada de tempos em tempos pelo sindicato.
Na RTP Lisboa, registrou o sindicato, a paralisação é quase total nas editorias de sociedade, política, cultura e economia —apenas os editores, um jornalista e os estagiários trabalham.
A versão online da emissora conta com um dos sete jornalistas escalados para trabalhar. Na TVI/CNN Portugal e na SIC/SIC Notícias, mais de metade dos jornalistas escalados fizeram greve.
Na sede da TVI, em Queluz, as editorias de economia, sociedade e internacional pararam. Metade dos jornalistas da editoria de política também aderiram à greve, segundo o sindicato da categoria. Na SIC Notícias, entre quatro e nove da manhã, dos nove jornalistas marcados nos mapas, três foram trabalhar.
Ainda segundo o sindicato, no Grupo Impresa as escalas foram previamente reforçadas para evitar quebras expressivas na programação. Profissionais do jornal Expresso também aderiram à paralisação. A versão online da publicação quase não foi atualizada.
O que se antecipa é que o Jogo será publicado em versão reduzida amanhã, com menos de oito páginas. No Jornal de Notícias, a entidade de classe calcula que a adesão superou os 95%, e no Diário de Notícias ficou próxima dos 100%, correndo o risco de que não saia versão em papel nesta sexta (15).
No Público, em Lisboa e no Porto, a maioria da redação protesta, e a edição em papel está sendo preparada por editores e outros profissionais em cargo de chefia. Também na Rádio Renascença se registrou adesão à greve.
No Observador, metade dos profissionais está em greve. No Dinheiro Vivo, a adesão foi total.
Repúdio a demissão em massa
Há dois dias, a redação do Diário de Notícias repudiou "veementemente" mais um anúncio de demissão coletiva na Global Media Group (GMG). Os jornalistas prometeram seguir com novas formas e luta se administração não reconsiderar a decisão.
Num comunicado emitido na noite de terça (12), a redação do jornal disse que “em nome da sobrevivência do DN e do bom jornalismo”, espera que “a administração reconsidere e que seja possível criar uma solução que permita manter os bons profissionais”.
E prometeu que, se isso não acontecesse, iria “avançar para novas formas de luta”.
Na nota, a redação do diário defende que é “incompreensível” que, então a dias de uma greve geral na profissão, que defende melhores condições salariais, se pretendam, se tenha decidido demitir jornalistas invocando o critério "do salário demasiado alto" e da "equidade salarial na empresa".
Os funcionários lamentaram que a demissão afete "mais uma vez o coração do jornal e do jornalismo".